A Secretaria estadual da Saúde mostrou na última quinta-feira (28) que os danos provocados pelo cigarro não se resumem apenas aos fumantes, interferindo diretamente no meio ambiente e também na saúde dos chamados fumantes passivos, que não fumam mas respiram a fumaça dos fumantes. Estatísticas recentes apontam que a cada dia morrem sete fumantes passivos no mundo.

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As ações realizadas nesse dia em todo o País visam mobilizar a população sobre os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais ocasionados pelo tabaco. Com o tema “As faces do Tabagismo”, a Secretaria organizou na quinta uma Webconferência transmitida para todo o Paraná, como parte de manifestações do Dia Nacional de Combate ao Tabagismo, na sexta-feira (29) .

“É dever do Estado proteger o direito à saúde e à vida. Continuamos, portanto, investindo em ações e programas contra o tabagismo, considerado um dos maiores problemas de saúde pública. O fumante e o não-fumante precisam estar cientes de que o cigarro prejudica a ambos”, ressalta Gilberto Martin, secretário da Saúde.

A preocupação em abordar outras faces do tabagismo ocorre justamente para dissociar a imagem do cigarro apenas ao câncer e esclarecer outros perigos que ele pode trazer. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase metade das crianças do mundo respiram ar contaminado pela fumaça do tabaco, principalmente dentro de casa. A Organização considera o tabagismo como uma doença pediátrica, pelo fato de que cada vez mais o consumo atinge faixas etárias mais baixas.

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“Os pais, como referência e exemplo que são para os filhos, têm um papel fundamental na sua saúde. Por isso devem ser os primeiros a abandonar essa dependência. Dessa forma, evitam a inalação passiva de fumaça que aumenta as chances da criança desenvolver infecções respiratórias como bronquite, pneumonia, infecção de ouvido e futuras doenças cardiovasculares. Além de piorarem os sintomas respiratórios crônicos”, explica o médico pediatra Wilmar Mendonça Guimarães.

Para o médico da Secretaria, Luís Fernando Ribas, o trabalho de conscientização envolve a todos. “Cada profissional tem o papel social, dentro da sua área, de reforçar a idéia de um ambiente livre do cigarro. Procurando reforçar os males causados pela ingestão de fumaça mesmo que indiretamente”, destaca.

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O meio ambiente é mais uma vítima do tabaco. Para sua produção são utilizados venenos agrícolas que contaminam tanto o solo quanto possivelmente as águas. Além disso, madeiras nativas são cortadas e usadas de lenha para secagem do produto. “O cultivo do tabaco é ambiental e socialmente inadequado”, afirma o procurador do Meio Ambiente, Saint Clair Honorato Santos.

Morte

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o tabagismo é responsável por 200 mil mortes no Brasil. A maioria dos dependentes é do sexo masculino e se concentram principalmente entre as pessoas com menos de oito anos de estudo. No mundo a OMS estima que existam mais de 1,2 bilhão de fumantes, atingindo 4,9 milhões de mortes anuais.

Os gastos com pacientes fumantes que apresentam doenças provocadas do vício também são altos. No Paraná, cerca de 8% gasto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com internação e quimioterapia são atribuídos a doenças relacionadas ao consumo de tabaco.

“O tabagismo é considerado a principal causa de morte evitável em todo o mundo. Se as pessoas se conscientizassem disso, os recursos utilizados no tratamento de fumantes poderiam ser aplicados em outras áreas de saúde”, explica Iludia Rosalinski, responsável pela divisão de risco cardiovascular da Sesa.

As orientações da OMS determinam a proibição total do ato de fumar em recintos coletivos como a melhor prática para proteger a todos dos riscos do tabagismo passivo. Os malefícios vão desde irritação nos olhos, tosse, dor de cabeça e aumento dos problemas alérgicos e cardíacos até efeitos de médio e longo prazo, inclusive diversos tipos de câncer.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, ao respirar a fumaça ambiental do tabaco, as pessoas ficam expostas a mais de quatro mil substâncias químicas, dentre as quais 50 são cancerígenas. Estatísticas do Inca revelam que pessoas que possuem o hábito de fumar apresentam o risco 10 vezes maior de adoecerem por câncer de pulmão, 5 vezes maior de sofrerem infarto, bronquite crônica e enfisema pulmonar e 2 vezes maior de terem derrame cerebral. Outros malefícios causados pelo vício são complicações na gravidez, impotência sexual aos homens, aneurismas arteriais, úlcera do aparelho digestivo e infecções respiratórias.

Os benefícios trazidos pela desistência do vício são perceptíveis e acontecem a curto e médio prazos. Após 20 minutos sem fumar a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal, em 2 horas não há mais nicotina no sangue, depois de 8 horas o nível de oxigênio se normaliza e de 12 a 24 horas os pulmões funcionam melhor. Após 2 dias o olfato se torna mais sensível, em três dias a respiração se torna mais fácil, em 1 ano se reduz pela metade a chance de um infarto e de 5 a 10 anos o risco de sofrê-lo se torna igual ao de uma pessoa que nunca fumou.

Trabalho infantil

Além desses prejuízos, o tabagismo é responsável pela exploração do trabalho infantil na Fumicultura. Crianças de todas as idades enfrentam diariamente esse grave problema social que as impede muitas vezes de irem a escola em época de colheita além de sofrerem problemas respiratórios, intoxicação, e até desmaios.

“A mesma má-fé que a indústria do tabaco utiliza para conseguir mais dependentes é usada com os produtores. Eles os iludem de que o trabalho por eles realizado é rentável e manipulam os preços do tabaco. A atividade é um ato atentatório à dignidade humana”, destaca a procuradora do trabalho, Margaret Matos.