“Fome hospitalar” causa preocupação entre os especialistas

fomehospitalar01120308.jpgMetade dos pacientes internados continua desnutrida. O alerta é feito por especialistas em nutrição hospitalar que lembram a importância da nutrição adequada para reduzir o tempo de internação dos doentes, diminuir os riscos de complicações clínicas, de infecções e os índices de mortalidade. São muitas as recomendações que recebe quem está doente e necessita de cuidados constantes. Porém, o que muitos pacientes precisam para se recuperar mais rápido ou então evitar o aparecimento da doença é de uma alimentação equilibrada e saudável, ao seu alcance.

De acordo com o nutrólogo do Hospital Pilar Gustavo Gomes Soares, muitos pacientes (hospitalizados ou não) não conseguem se alimentar corretamente, pois não sentem apetite. ?Quando a doença se prolonga por mais de cinco dias e não tem expectativa de cura antes disso, o risco nutricional agrava o curso da doença e do seu tratamento?, reconhece o médico. Por isso, é importante para esses casos o acompanhamento de uma equipe de nutrição, composta por nutricionistas, nutrólogos, farmacêuticos, médicos e enfermeiros. A função dessa equipe é investigar caso a caso e indicar qual o tratamento nutricional adequado para a recuperação do paciente.

Recuperação mais rápida

Os pacientes hospitalizados dependem de dietas industrializadas específicas para ajudar na sua recuperação

A nutricionista Regiani Pitol considera importante, durante o tratamento, tanto no hospital quanto na casa do paciente, a realização de uma terapia nutricional, pois é uma forma mais indicada de administrar os nutrientes que o paciente precisa. ?Muitas pessoas dão palpites sobre a alimentação do paciente, mas para cada tipo de patologia existe uma dieta com nutrientes específicos que ajudam a melhorar o estado nutricional do enfermo?, diz a especialista. Com a dieta específica a recuperação tende a ser mais rápida, diminuindo os dias de internação.

Os benefícios também impactam em menores custos para o Sistema Único de Saúde. ?Para cada R$ 1,00 investido em nutrição hospitalar, há uma economia de R$ 3,00?, destaca o gastroenterologista e especialista em nutrologia Joel Faintuch. Para se ter uma idéia, o último ELAN – Estudo Latino-Americano de Nutrição apontou um cenário sombrio: 50,2% dos pacientes internados apresentavam algum grau de desnutrição, sendo 11,2% de forma grave. ?É uma greve de fome disfarçada e permanente, longe do olhar das pessoas, mas dentro dos nossos hospitais?, reconhece Faintuch. Estima-se que 80% dos doentes em terapia intensiva morrem por infecção e a maioria tem a desnutrição como fator coadjuvante. Pesquisas apontam que, entre outros fatores, o desconhecimento dos profissionais de saúde sobre a relevância do tema se reflete nesses índices desanimadores.

Um exemplo de paciente com dificuldades de se alimentar é o portador de câncer, doença que está entre as primeiras no número de mortes do Brasil. Muitas vezes, por meio de uma dieta adequada e específica, esses pacientes podem evitar a progressão e até mesmo suportar mais facilmente o tratamento da doença.

Triagem nutricional

Segundo Gustavo Soares, as condições do tratamento tornam os pacientes oncológicos mais fracos e, aparentemente, sem fome. ?O ideal nesses casos é uma dieta com o uso de imunomoduladores, ou seja, substâncias específicas que ajudam no combate à doença?, avalia, citando como exemplos o ômega 3 e um aminoácido chamado glutamina. Essas substâncias, de acordo com o especialista, estão presentes em quantidades adequadas nas dietas industrializadas, que são pré-digeridas, e possuem as porcentagens suficientes de nutrientes que cada paciente necessita. ?A dieta industrializada substitui com vantagem a dieta normal nos casos de câncer e outras doenças, e pode ser encontrada em distribuidores especializados e até mesmo em supermercados? esclarece.

Evidências clínicas mostram que 100% dos casos de desnutrição hospitalar poderiam ser atenuados e de 70 a 80%, revertidos ou neutralizados. ?O primeiro passo é incentivar a triagem nutricional nos hospitais?, explica o cirurgião e nutrólogo Antônio Campos, professor adjunto do departamento de Nutrição da UFPR. ?É um método simples, geralmente um questionário, que avalia as condições gerais do paciente como peso corpóreo, diagnóstico, motivo da internação, dieta alimentar e outros aspectos?, relata. Após a triagem, os pacientes com risco nutricional (desnutrição leve, moderada ou grave) são submetidos a uma avaliação mais completa com exames clínicos e laboratoriais.

Prejuízos sem fim

*  Maior tempo de internação. 90% dos pacientes com desnutrição aparente permanecem internados por longos períodos

*  Pacientes com desnutrição grave respondem por maior incidência de complicações clínicas

*  Aumento dos riscos de infecções

*  Aumento dos casos de feridas e úlceras de pressão, além da dificuldade de cicatrização

*  Índices de mortalidade quase 4 vezes maior que em pacientes bem nutridos

*  Baixa qualidade de vida, apatia e depressão

*  Redução da resistência e massa muscular, prejuízo às atividades físicas e aumento dos riscos de quedas e fraturas

SERVIÇO

Simpósio de Nutrição Clínica

O Hospital Pilar promove dia 14 de março (sexta-feira), no Hotel Radisson, o seu I Encontro de Nutrição Clínica. Serão debatidos temas, como avaliação nutricional para pacientes com câncer, os aspectos da perda excessiva e involuntária de peso, além do uso de prebióticos e probióticos. Informações pelos telefones 3072-7317 e 3072-7272.

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