Final de ano também vira época de depressão

Final de ano é época de fazer balanços, projetos e comemorações. O que para muitos pode ser um período feliz, para outros têm um efeito contrário. O reencontro com a família, a lembrança de alguém que partiu ou a falta de identificação com o trabalho ou relacionamentos pode transformar esta época em um período triste e até mesmo desencadear uma depressão.

A psicóloga Ana Luiza Calliari afirma que é muito comum as pessoas fazerem essa avaliação. "Elas acabam processando o ano e muitas vezes vem aquele nó na garganta que não sabem como desatar", diz. O pároco da Igreja Nossa Senhora das Mercês, Alvadi Marmentini, comenta que essa situação se reflete nos hospitais, com um aumento nas tentativas de suicídio ou uso de entorpecentes. "É uma forma de compensar os problemas", fala. O Centro de Valorização da Vida (CVV) também registra um aumento na procura. Só em Curitiba a média de ligações chega a 80 por dia.

De acordo com o voluntário Quintino, as pessoas se sentem cobradas e muitas vezes não têm com quem desabafar. "Nesta época do ano, a mídia trabalha muito forte na questão do consumo e as pessoas se sentem cobradas a dar presentes, reformar a casa ou trocar de carro. Quando isso não é possível, acabam ficando angustiadas", comenta. O isolamento, muitas vezes, acentua a sensação de tristeza. Para o frei Alvadi, nas cidades grandes esse isolamento vem se tornando uma constante, já que os laços afetivos estão cada vez mais frágeis. "A correria do dia-a-dia e a violência acabam afastando as pessoas, e hoje não se confia mais nem no vizinho", observa.

Alternativas

Uma forma de evitar essa tristeza, aconselha a psicóloga Ana Luiza, é não ficar sozinho. Segundo ela, é importante estar rodeado de pessoas para se sentir aconchegado. Nos casos em que a pessoa sofre pela perda de um ente querido, a psicóloga diz que esse momento precisa ser vivido, mas ter a consciência que ele passará. Já quando a perda é material, "é necessário ter em mente que na vida há momentos em que se ganha e em outros se perde. O importante é o ensinamento que isso pode trazer para o futuro". Mas ela ressalta que se a pessoa não conseguir lidar com essas situações sozinha, o indicado é procurar ajuda profissional.

Durante todo o ano, a Paróquia Nossa Senhora das Mercês oferece uma série de alternativas para as pessoas que buscam ajuda, não só através da religião. Uma série de voluntários atua em atividades como atendimentos individuais, terapias de grupo, orientação psicológica, ioga e acupuntura. Uma das atividades mais difundidas na igreja são as celebrações de entreajuda, onde durante a celebração há momentos de relaxamento, oração e reflexão. Pelo terceiro ano, a paróquia vai realizar o Natal e Ano Novo dos Solitários. As comemorações acontecem entre pessoas que iriam passar o final de ano sozinhos. Em 2003, cerca de 160 pessoas participaram das comemorações. Este ano o número deve dobrar.

Mas quem quiser apenas ser ouvido pode encontrar no CVV uma alternativa. Quintino comenta que o centro está presente em 17 estados, onde 3 mil voluntários atendem cerca de um milhão de ligações por ano. "A cada 33 segundos atendemos uma ligação", comenta, destacando que o papel do CVV não é de conselhos, "mas acolhimento através de um ouvir participativo". Em Curitiba, o CVV atende pelo telefone (41) 342-4111.

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