As queixas nos consultórios médicos a cada dia se tornam mais freqüentes. Dores em diversas partes do corpo, fadiga inexplicável, irritabilidade, distúrbios do sono, depressão e sensação de formigamento em braços e pernas.
Estes são os sintomas da fibromialgia, uma síndrome dolorosa crônica que atinge, principalmente, as mulheres, muitas vezes, atribuída à somatização de possíveis problemas psicológicos.
Para os médicos, o distúrbio é definido como uma síndrome de amplificação dolorosa não inflamatória e crônica, na qual a maior queixa é a dor.
Na maioria das vezes, o relato é de que essa dor tem suas características próprias: não dá sossego, é constante e “nunca passa”. Geralmente, os pacientes relatam que a dor atinge o pescoço, os braços, a coluna, as pernas.
“Às vezes é percebida como uma sensação de peso em uma parte do corpo, em outras é comparada a um forte aperto, uma queimação, um ardor”, explica o geriatra Eduardo Gomes, diretor da Clínica Anna Aslan.
É comum ainda que os fibromiálgicos apresentem alterações de humor, com quadros de depressão ou de ansiedade. De acordo com pesquisas, 25% dos portadores apresentam sintomas de depressão junto com dores difusas, enquanto 50% relatam aos médicos que já tiveram crises depressivas, antes de surgir o quadro doloroso.
Hoje, se sabe que a doença é relacionada com o funcionamento do sistema nervoso central e o mecanismo de supressão da dor e que pode ser desencadeada por alguma predisposição genética, estresse físico ou emocional, viroses e, até mesmo, mudanças climáticas.
Presença da dor
Embora suas primeiras descrições tenham sido registradas no século XIX, somente em 1976, após as publicações do psiquiatra Harvey Moldofsky e do reumatologista Frederick Wolfe, a fibromialgia foi caracterizada como uma doença orgânica, que atinge de 2% a 5% da população.
No Brasil, isso representa uma população entre 3,5 a 8,9 milhões de portadores. Nos Estados Unidos, já é considerada um problema de saúde pública e afeta cerca de seis milhões de americanos.
Em geral, a doença atinge pessoas entre 30 e 60 anos, embora apareça também em adolescentes e crianças. “A prevalência entre as mulheres é na proporção de oito a dez para cada homem”, informa o especialista.
A fibromialgia é classificada como uma síndrome porque se caracteriza por um conjunto de sintomas. “O que está presente em todos os quadros é a dor difusa pelo corpo inteiro, presente na maior parte do dia”, diz Eduardo Gomes.
Em geral, a dor vem acompanhada de algumas outras manifestações como formigamento, irritabilidade, enxaqueca, cólon irritável, pernas inquietas e distúrbios do sono.
“Os pacientes que apresentam a fibromialgia geralmente dormem mal, têm sono leve, entrecortado, não reparador. Ao despertar, a pessoa fica com a sensação que não descansou nada”, explica o especialista.
“Se você não tem dor, não tem fibromialgia”, esclarece Eduardo Paiva, da clínica médica do Hospital de Clínicas da UFPR. O especialista define o acúmulo de sintomas e sinais como justificativa para a existência de uma síndrome fibromiálgica.
Sensibilidade dolorosa
A exata causa da doença ainda é desconhecida. A dor pode ser contínua ou se agravar em certos períodos, principalmente à noite. Pontos dolorosos na região da nuca, na musculatura próxima aos ombros, na costela, em áreas do cotovelo, junto à musculatura da nádega, nas inserções do fêmur e joelhos. “Esses seriam os chamados pontos da dor e que se tornam mais dolorosos com a pressão dos dedos”, enfatiza o médico.
Pode se dizer que as causas para o aparecimento da doença são multifatoriais. Embora não exista uma única causa palpável, como um tumor, uma inflamação ou uma lesão, a fibromialgia não é uma questão ,puramente psicológica. Os especialistas acreditam que sua origem está em uma alteração no mecanismo do controle da percepção e da modulação da dor.
A presença de níveis aumentados de dor, associada à menor quantidade de serotonina e noradrenalina, explicam, em parte, o aumento da sensibilidade dolorosa a ponto de um estímulo que normalmente causaria um pequeno desconforto ser sentido como uma dor de intensidade amplificada.
“Como conseqüência, esses pacientes têm hiperalgesia, uma resposta exagerada a um estímulo doloroso, e alodínia, que é a sensação de dor proveniente de um estimulo geralmente não doloroso”, explica Eduardo Gomes.
Diagnóstico e tratamento
Na investigação adequada da fibromialgia é preciso estar atento aos seus vários sintomas. Seu diagnóstico é clínico, pois, na maioria das vezes, os exames complementares mostram resultados absolutamente normais. Ele se baseia na presença do quadro característico de dor e no reconhecimento de pontos predefinidos que sejam dolorosos à pressão dos dedos do especialista.
Na investigação clínica é preciso conhecer em detalhes a história do paciente. “Embora não sejam as causas diretas, as condições emocionais também estão intimamente ligadas à enfermidade”, atesta Eduardo Gomes.
Não existe uma terapêutica única para livrar o paciente de uma vez por todas das dores no corpo, problemas de sono, irritabilidade ou depressão associados. Mas a intensidade dolorosa poderá diminuir, com a evolução do tratamento, assim, a qualidade de vida poderá melhorar.
De acordo com Gomes, o tratamento precisa ser individualizado. Se houver alguma doença associada, ela deverá ser tratada para eliminar mais essa causa de sofrimento. O médico aconselha ao paciente a prática de atividades físicas de baixo impacto.
Conforme o reumatologista Acir Rachid, é importante a pessoa saber que a dor que ela sente é provocada por distúrbios físicos e psicológicos, principais características da doença. A
ssim, no entender do especialista, aprender a lidar com a doença, buscando melhorar sua qualidade de vida. “Os pacientes precisam conhecer e apoiar a proposta de tratamento definida pelo médico, que, invariavelmente, inclui medicação e atendimento psicológico”, adianta.