Se, para a maioria das pessoas, a contagem regressiva para as férias é motivo de alegria, para outras pode ser um tormento. Mais do que se imagina, muitos profissionais têm medo de tirar os tão merecidos e prolongados dias de folga. Nos consultórios dos terapeutas, esse profissional arredio ao afastamento do trabalho é caracterizado por ter uma enorme dificuldade de se desligar de suas atividades profissionais. ?Geralmente sente-se culpado por estar em férias, enquanto outras pessoas continuam trabalhando?, explica o médico e pesquisador Cláudio Portella, da Hollos Consultoria.
Tal comportamento acontece principalmente com trabalhadores que ocupam cargos de chefia ou que possuem personalidade centralizadora. ?O antídoto para gozar as férias sem outras preocupações é aprender a delegar funções e confiar na equipe de trabalho", destaca Portella. Em outras situações, o problema pode estar na cultura organizacional. De acordo com o especialista, ainda vivemos em uma sociedade que privilegia aqueles que sacrificam tudo em nome do cargo que ocupam. Assim, algumas dessas pessoas incorporam tão fortemente essa atitude que passam a acreditar que, ao parar para descansar, estão traindo a empresa.
Além de resistir a agendar antecipadamente suas férias, alguns até perdem períodos não gozados. Com efeito, esses profissionais têm dificuldades de relaxar quando chega o período de recesso na empresa. Para as pessoas que vivem a frenética agitação das grandes cidades, parar pode ser desafiador. Portella sempre sugere que se faça um período de adaptação, com a redução do pique de trabalho nas semanas que antecedem a folga. ?Outra recomendação é programar o descanso e o lazer com antecedência, para que os dias próximos a esses eventos sejam livres de preocupações", orienta.
Fim de um ciclo
O descanso remunerado é fundamental para a manutenção da saúde. Durante as férias, os níveis de tensão e estresse tendem a diminuir de forma significativa, propiciando uma pausa para a mente e para o corpo. É possível notar uma melhora na qualidade do sono, nas dores musculares e na pressão arterial. De acordo com o terapeuta, quando se volta para casa depois de alguns dias de férias, tudo parece estranho, inclusive o local onde se vive. ?A pessoa percebe que não é mais a mesma, afinal uma viagem não é apenas um afastamento temporário, mas sim um processo transformador", ilustra Portella.
Para aqueles que conseguem vencer a própria dificuldade de se afastar do trabalho e finalmente usufruem de um providencial descanso, o especialista dá uma dica importante: ?É preciso reconhecer que se encerra um longo período de obrigações e responsabilidades, marcado certamente por pressões advindas do cumprimento de prazos e metas?, enfatiza. Assim, o ideal é aproveitar o tempo livre para a convivência com as pessoas queridas, reforçando sua rede afetiva – fundamental para a manutenção da saúde integral.
Descanso emocional
Pode até ser que as férias se transformem em uma fuga inconsciente para não resolver nada, adiar algumas mudanças pensando que, na volta, tudo poderá ser recomeçado. Só que em alguns casos pode ter o efeito contrário. Antes ou durante o período de descanso, com a simples possibilidade de mudança da rotina, podem vir à tona sentimentos reprimidos e que necessitam ser compreendidos. Enquanto a pessoa insistir em ?fugir? do que sente de nada adianta praticar infinitas atividades físicas, mudar os hábitos alimentares e se esquecer dos aspectos emocionais. Nas férias bem aproveitadas, tudo isso é importante.