Já era tarde, consultório lotado e eu havia atendido muitos pacientes. A última consulta me ensinou muito mais sobre a vida do que eu poderia imaginar. Ana, uma moça de 30 anos, entrou em uma cadeira de rodas. Olhar triste, vazio, estava deprimida, sem vontade de viver. Não tinha se casado, não tinha filhos, nem perspectiva de futuro. Indiquei um psiquiatra e uma terapeuta. Senti-me frustrada, a dor daquela moça era enorme.
Lido todos os dias com casos extremos, como tumores no cérebro, leucemias, isquemias, sequelas graves. Estou sempre na tênue linha entre a vida e a morte. Mas ali eu não via vida. Quando já não sabia mais o que dizer, meu celular toca. Era minha mãe. Nem me lembro o que ela queria, não ouvi direito e, ao fundo, meu cachorro começou a latir. Desliguei o celular e quando olhei novamente para Ana, surpreendentemente percebi outro semblante naquela moça e até um sorriso. “Nossa você tem um cachorro? Eu sempre quis ter um e nunca pude, meu pai era alérgico”, disse-me.
Comentei sobre adotação. Nós que amamos os animais sempre nos entusiasmamos quando um abandonado ganha um lar. As duas foram embora. Permaneci angustiada por alguns dias e voltei a minha rotina. Três meses depois, Ana entra na sala. A luz do seu olhar era imensa que nem percebi a cadeira de rodas. Contou-me que foi ao Centro de Controle de Zoonoses e apaixonou-se por um cachorro que estava prestes a ser sacrificado. “O resgate daquele animal mudou minha vida, não podia deixar que o matassem”, disse. Veio me agradecer e mostrar a plaquinha de identificação do cachorro: YURI (Benção da luz, nome vindo do Hebraico). Para quem não acredita em coincidências é o mesmo nome do meu cachorro que ela havia ouvido latir ao telefone. “Dra., você me ensinou que a felicidade vem com o encontro da simplicidade”. Na verdade, Ana, foi você quem mudou sua percepção de consciência!”
Ciência tenta explicar
Hoje os neurocientistas estão exaustivamente estudando e tentando explicar mapeando no cérebro. Tudo indica que o cérebro pode ser treinado na idade adulta e até mudar a sua organização interna. Esta é a conclusão do estudo de Richard Davidson, na Universidade de Wisconsin. Sua equipe fez medições precisas de voluntários com mais de 10 mil horas de meditação e percebeu que este estado contemplativo estimulava zonas do cérebro associadas às emoções, mais precisamente às positivas, como aquelas que nos habituamos a ligar a estados de felicidade. Segundo Davidson, a meditação pode mudar as funções cerebrais de forma durável. Esse estudo começou a responder a seguinte pergunta: -Será que não são os pensamentos que produzem alterações químicas e impulsos elétricos?
Os cientistas dentro deste novo paradígma revolucionário, onde a realidade se manifesta de acordo com nossa consciência, começaram a estudar este efeito cascata ou dominó, denominado ‘Efeito Carambola”, que nada mais é do que a reformatação dos circuitos cerebrais através da reaprendizagem e reinterpretação das experiencias passadas levando a um novo trajeto para as percepções e pensamentos. Isto forma novas redes de conecções neuronais.
Em 2001, Brody ET al. mensuraram o cérebro por ressonância funcional e por Pet Scan (medidores do metabolismo). Os pesquisadores descobriram que pacientes com depressão ao longo das 12 semanas de tratamento e que estavam sendo submetidos à Terapia Cognitivo Comportamental, mantém ativadas áreas cerebrais de “felicidade”, mesmo depois de o fim do tratamento terapêutico, em comparação a outros pacientes que suspenderam seus antidepressivos e não fizeram nenhum trabalho terapêutico.
No estudo, publicado no periódico The Archives of General Psychiatry, nove pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo foram submetidas a um método de investigação de imagem cerebral antes e depois de 10 semanas de terapia cognitivo-comportamental. Três dos pacientes mostraram pequenas mudanças, mas seis melhoraram substancialmente. Suas imagens mostraram duas mudanças significativas na função cerebral.
Uma mudança estava estreitamente relacionada com a atividade de certas estruturas cerebrais. “Nós sabemos que no transtorno obsessivo-compulsivo quatro estruturas centrais estão interconectadas”, disse Dr. Jeffrey Schwartz, um psiquiatra que conduziu o estudo do Neuropsychiatric Institute of the University of California em Los Angeles. “Mas em pacientes que respondem ao tratamento, essas estruturas podem operar independentemente, como nos casos de pessoas sem o transtorno.”
Homem mais feliz do mundo
Gostariam de saber quem é o homem mais feliz do mundo? O nome dele é Matthieu Ricard. Com 61 anos, este antigo biólogo molecular decidiu abandonar a sua vida de investigador e seguir a religião budista, tornando-se mais tarde assessor do Dalai Lama, o líder espiritual dos budistas tibetanos. Antes de optar pelos himalaias, o monge fez um doutoramento em genética molecular e trabalhou ao lado do Prêmio Nobel da Medicina (em 1965), François Jacob. Foi nessa altura que escolheu a religião, após ter lido textos budistas que o impressionaram.
Mathieu Ricard é o Córtex Pré-Frontal mais expandido que os cientistas já estudaram. Talvez ele tenha compreendido muito antes do que os neurocientistas que “ser feliz” é um estado interno. Não é difícil compreender que ansiedade, frustração, medo, apego nos impede de manter a felicidade devido à desestruturação, sistema de recompensa do cortéx pré-frontal.
Isso significa que muitas vezes nos frustramos por passarmos muito tempo programando um futuro que não acontece exatamente do jeito que sonhamos. As pessoas mais felizes aprenderam a moldar seus sonhos, a viver no presente. Entenderam que o Futuro é a Ressonância do Hoje.
Lá dos Himalaias também, vem o conceito Butanês de FIB (Felicidade Interna Bruta) . Este pequeno país, o Butão, deu um passo histórico: vem aplicando o conceito de FIB em suas políticas estratégicas e de planejamento, ou seja, a felicidade já é um tema de política pública. Existem nove dimensões do FIB: bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, boa saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico. Quem sabe essas dimensões não possam ser vistas como metas reais de um mundo melhor?