O antigo ditado diz que “a fé move montanha”, mas será que também pode ajudar no processo de cura? A religião afirma que sim, e até mesmo alguns médicos admitem observar uma melhora nas condições dos pacientes que buscam na religiosidade forças para enfrentar tratamentos. Porém, quando se vai investigar a fundo esse fenômeno, as respostas ainda não são claras.

A Igreja Católica está lançando a segunda edição do livro Devotos Eternamente Agradecidos, que reúne 100 cartas de pessoas que dizem ter recebido a cura de males físicos e espirituais – inclusive aids -, resolvido problemas pessoais, se libertado do alcoolismo e outras enfermidades, depois de recorrer à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

De acordo com o padre do Santuário do Perpétuo Socorro, Joaquim Parron, a publicação é a comprovação de que a fé tem influência na cura. Ele destaca que esse tema já faz parte das discussões dos cursos de Medicina nos Estados Unidos, onde ele fez doutorado nas áreas de moral e ética. “Foi comprovado por pesquisas das universidades de Baltimore e Pensilvânia que as pessoas que rezam, independente da religião, conseguem se recuperar de enfermidades”, afirmou Parron.

Segundo ele, mesmo a oração a distância tem esse efeito positivo. O padre ressalta ainda que a afirmação do poder da fé não é algo alienado, já que a religião e a ciência precisam trabalhar juntas. “Na própria bênção dos enfermos pedimos a Deus que os remédios proporcionem cura e alívio para os doentes, e que a medicina nos ajude a combater as enfermidades”, explicou.

Embora afirme que estudos iniciais indiquem que a oração pode ter efeito benéfico na melhora dos pacientes, a médica oncologista clínica Ana Luiza Wiermann garante que já observou essa situação. “Os pacientes que têm uma fé, independente da religião, apresentam uma melhora na imunidade e aceitam melhor o tratamento”, falou. Mas ela destaca que em alguns casos a fé pode atrapalhar, quando a pessoa abandona o tratamento, achando que será curada somente pelas orações. “Tem que se ter consciência que a fé tem papel coadjuvante no processo”, disse.

Questionamentos

Para o psiquiatra André Astete, o assunto é muito complexo, principalmente quando se entra no campo do desconhecido. “É um debate intenso na ciência quando esbarra no desconhecido ou no divino”, falou, acrescentando que os médicos acabam sendo considerados céticos pela forma de investigar as situações. “Nós nos guiamos pelo que conseguimos testar.”

O medico constatou que o cérebro interfere no sistema imunológico, mas esse processo ainda não se conseguiu explicar cientificamente. Ele disse ainda que a maioria das pessoas que possui uma religião também tem mais autoconhecimento e muda o estilo de vida, o que poderia estar influenciando no processo da cura. Outro questionamento feito por Astete é que em algumas circunstâncias a fé é uma recompensa, “e isso não satisfaz o meio acadêmico”, finalizou.

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