Rio de Janeiro – A falta de higiene entre os homens pode levar a uma doença muito comum e pouco divulgada: o câncer de pênis. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alertou para a importância de divulgar a necessidade higiene entre os homens de todas as idades
Segundo o presidente da SBU, José Carlos de Almeida, os homens com fimose podem se enquadrar no grupo de risco para câncer do pênis. Por fimose, entende-se a dificuldade ou impossibilidade de expor a glande (cabeça do pênis) porque a pele que a recobre tem um anel muito estreito. Normalmente, esse problema se resolve com uma cirurgia feita ainda na infância.
?Aquela criança com fimose que não opera, que mora em local às vezes com pouco acesso a profissionais de saúde, vai chegar aos 45 ou 50 anos e vai aparecer ali um câncer de pênis. Porque aquela glande nunca foi exposta e nunca foi higienizada?, explicou o especialista.
Almeida disse que a fimose não permite que se lave adequadamente a glande, porque ela está toda coberta por uma pele. ?Então, aquelas secreções e elementos produzidos pelas glândulas jamais saem dali. E aquilo, ao longo do tempo, é um grande fator para o câncer de pênis?.
O presidente da SBU afirmou que essa doença não devia existir. ?Na verdade, é uma doença completamente evitável com educação, com higiene e com diagnóstico da fimose. Operando a fimose, você está gerando uma prevenção do câncer de pênis?, garantiu.
O Brasil é um dos líderes mundiais na incidência de câncer de pênis, depois da Índia e da África. No Brasil, a relação é de um caso para 100 mil habitantes. Na Índia, a incidência é de 3,32 casos para 100 mil habitantes. A menor incidência é encontrada entre os judeus nascidos em Israel, próxima a zero. A circuncisão néo-natal, isto é, feita na criança, reduz em quatro vezes a chance de o indivíduo contrair essa doença.
O presidente da SBU declarou que todo esforço deve ser feito para erradicar a doença do Brasil. ?Temos que abolir [o câncer de pênis] da nossa realidade, porque é um termômetro muito ruim para o perfil de um país?. Ele revelou que na Europa e Estados Unidos, essa doença aparece de forma muito esporádica. ?Nós temos que dar uma dignidade maior a esse paciente e ao país, eliminando essa doença do cenário nacional?, sugeriu.
José Carlos de Almeida informou que os números disponíveis sobre a incidência dessa doença no Brasil não correspondem à realidade. ?Os números são muito aquém da realidade. São em torno de 1,1 mil amputações por ano nos homens, totais ou parciais, em função do câncer de pênis?. Os casos de amputação aumentam 10% a cada ano no Brasil.
O presidente da SBU disse, ainda, que a divulgação da doença é problemática porque as grandes regiões que registram casos de câncer de pênis têm dificuldade de fazer as notificações. ?Nós acreditamos que exista muito paciente com câncer de pênis sem estar sendo notificado?, avaliou.
A maior incidência da doença é no Nordeste e, dentro da região, a maior prevalência é no estado do Maranhão, associada à falta de higiene e ao aspecto da presença da fimose. “A fimose é o grande fator anatômico que impede o paciente de higienizar o pênis. A grande maioria dos pacientes que tem câncer de pênis é portadora de fimose, está já idosa e nunca teve condição de expor a glande para poder higienizar?, revelou o urologista.
Almeida defendeu que a urologia possa atuar na prevenção dessa doença em harmonia com a assistência básica à população. Ele acredita que a criação agora, pelo Ministério da Saúde, de um setor específico de atenção à saúde do homem pode ?revolucionar o papel da urologia e do paciente urológico, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS), porque a urologia depende de infra-estrutura e aparelhos para funcionar e ser uma especialidade plena?.
Na avaliação do presidente da SBU, a urologia poderá contribuir com o ministério nesse setor da saúde do homem, em especial no que se refere a doenças pouco divulgadas e pouco tratadas da forma que deveriam. Entre elas, destacou o câncer de pênis e as doenças genitais masculinas.