Experiências de uma pessoa transplantada

Depoimento de Martin Roeder, ex-presidente da Ferroeste

Desejo compartilhar com você, caro leitor, a experiência de uma pessoa que viveu todas as angústias da espera do órgão vindo de um doador cadáver para ter a sua própria vida preservada. É o fenômeno do “renascimento”, da alegria, da permanente gratidão a Deus por ter permitido a continuação da vida por meio de uma outra que se foi.

Meu caso foi o fígado. É estarrecedor perceber a vida se esvaindo sem que haja perspectiva da doação do órgão para a realização do transplante, única alternativa para manter-se vivo.

Foram anos, em Curitiba, aguardando este dia. A equipe médica que me assistia não dava sinais de que a data estaria próxima, tampouco distante. Simplesmente não sabiam, pois não eram membros ativos da Central de Transplantes do Paraná, embora fossem da equipe de transplante de um importante hospital de Curitiba, vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Em um determinado momento, recebi a ligação telefônica de um cidadão que não conhecia e, aliás, não o conheço pessoalmente até hoje, mas que temos um amigo em comum, dando-me notícia que passou pela mesma experiência que eu estava vivendo e com a mesma equipe médica e não havia também nenhuma perspectiva de dar certo o seu transplante.

Informou-me, então, que havia em Santa Catarina uma Central de Transplantes que, no Hospital Santa Isabel, estava dando andamento com absoluto sucesso aos transplantes de vários órgãos, inclusive o de fígado.

O cirurgião é aqui de Curitiba, Julio Wiederkehr. Depois de uma consulta com o especialista e receber uma avaliação do médico responsável técnico pela área de transplantes de fígado do hospital catarinense, o nefrologista Marcelo Nogara, alistei-me para a fila no estado vizinho.

Pouco tempo depois estava transplantado. Tenho que deixar registrado, por razões de consciência e gratidão, que jamais imaginei que pudesse haver, nessa área, profissionais tão dedicados e competentes quanto esses médicos citados e toda a equipe de enfermagem, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, farmacêuticos, cozinha, limpeza e demais atividades de apoio ao doente que está se reabilitando para a vida.

Todos, sem exceção, foram instrumentos da vontade e bondade de Deus para que eu permaneça mais um tempo entre os vivos. Merecidamente, Santa Catarina está sendo reconhecida nacional e mundialmente pela dedicação das pessoas para que seja possível salvar mais vidas.

É o primeiro Estado da federação na relação numero de doadores/milhão de habitantes. É o dobro da média nacional e, se fosse um país, seria o quarto maior do mundo.

O objetivo dessa mensagem é alertar nossas autoridades para que, especialmente, o poder público, querendo, faça a fila dos desesperados andar mais rapidamente para a salvação de muito mais vidas. Para isso, pequenas mudanças na legislação facilitam em muito.