A gerente comercial Rita de Cássia Diniz Costa, de 39 anos, percebeu a importância do contato dos filhos com a natureza depois de construir uma casa, onde passa os fins de semana. "Enquanto meus filhos ficavam todo o tempo no apartamento, as doenças eram freqüentes?, comenta. Eles praticamente não tinham contato com poeira, já que a casa estava sempre aspirada, e, como conseqüência, tinham a resistência debilitada. A mudança para a casa foi essencial. Agora, seus filhos Maria Eduarda, de 3 anos, e Pedro Paulo, de 4, têm contato com árvores, galinhas e cachorro. ?Curiosamente, as doenças foram sumindo e eles ficaram mais fortes", avalia.
É comum encontrarmos pais excessivamente preocupados com o ambiente à volta dos filhos. O cuidado se revela nas casas extremamente limpas, quase esterilizadas, e na imposição de que as crianças nunca andem descalças, lavem as mãos repetidamente e evitem o contato com cães e gatos, tidos por muitos como os principais transmissores de doenças. A alergista Elizabeth Maria Mercer Mourão confirma que recentes estudos mostraram que a proteção exagerada pode aumentar as chances de as crianças desenvolverem algum tipo de alergia, entre elas a rinite e a dermatite atópica.
Bom senso é fundamental
Segundo a especialista, os levantamentos indicaram que a vivência diária em ambientes fechados, que se tornou mais freqüente há algumas décadas, pode ter favorecido o registro crescente de casos de alergia em todo o mundo. Atualmente, entre 15% e 20% da população mundial sofre com o problema. Elizabeth Mourão afirma que, nas questões de saúde, o bom senso é fundamental. Com efeito, nenhuma criança deve ficar em locais imundos e empoeirados, principalmente aquelas predispostas às alergias, mas, no seu entender, a vivência ao ar livre permite o amadurecimento do sistema imunológico no que diz respeito à incidência das alergias.
A pediatra com especialização em imunologia infantil, Ana Paula Castro, explica que, ao ar livre, as crianças têm contato com algumas bactérias, que acabam fortalecendo o sistema de defesa do organismo. Conforme ela, a casa deve estar sempre limpa, mas sem exageros. A criança precisa sair, andar descalça e brincar para ter capacidade de desenvolver uma resposta adequada às doenças. ?Vale lembrar que o funcionamento do sistema imunológico depende da interação com o ambiente, mas também das características de cada indivíduo", complementa.
Excesso de higiene faz aumentar casos de alergia
A chamada hipótese da higiene foi levantada pela primeira vez em estudos alemães, feitos após a queda do Muro de Berlim, em 1989. Os pesquisadores constataram que, na Alemanha menos desenvolvida, os casos de alergia eram menores do que os registrados no lado ocidental. Os números se confirmaram em comparativos feitos em outras partes do mundo entre a população que vive nas áreas rural e urbana. No Brasil, ainda não há estudos que tratem da hipótese da higiene. De qualquer forma, os dados serviram para lançar um novo olhar sobre a questão", explica a imunologista Ana Paula. Segundo a hipótese, o contato com a natureza precisa ser precoce. Depois que a criança já desenvolveu a alergia, a vivência na área externa não é sinônimo de cura. Nesses casos, a médica recomenda que os pais tentem descobrir quais elementos provocam a alergia. "Não é preciso mandar os animais domésticos embora. Os pais precisam é evitar que estejam sempre perto, circulando no quarto da criança alérgica", afirma.