Excesso de iodo provoca tireóide

Um estudo epidemiológico realizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e a Unidade de Tireóide do Hospital das Clínicas constatou um aumento do número de casos de Tireóide Crônica Auto-imune, também conhecida por Tireóide de Hashimoto (TH), em função do consumo excessivo de iodo contido no sal de cozinha.

Agência USP – O levantamento foi feito em 2004 e 2005, em duas regiões da Grande São Paulo: São Bernardo do Campo e a área vicinal do Pólo Petroquímico de Capuava (Mauá, Capuava e Santo André). A Tireoidite de Hashimoto é uma doença auto-imune, que atinge mais as mulheres, na qual o próprio organismo produz anticorpos contra a glândula tireóide, levando a uma inflamação crônica que pode causar o aumento de seu volume (bócio) e diminuição de seu funcionamento (hipotireoidismo).

O estudo, financiado pela Fapesp, comprovou que 82 das 420 pessoas analisadas na Vila Paulicéia, em São Bernardo, ou seja, 19,5%, tinham Tireoidite de Hashimoto, e 64 das 409 que foram examinadas na área vicinal do Pólo Petroquímico de Capuava, o que equivale a 15,6%, sofriam da doença. Segundo o coordenador da pesquisa, o endocrinologista Geraldo Medeiros Neto, professor da FMUSP e médico da Unidade de Tireóide do HC, em 52% do total de pacientes analisados nas duas áreas, a concentração de iodo na urina ultrapassou o nível máximo recomendável de 300 microgramas de iodo por litro (mcg/L), o que comprova que o aumento de casos de Tireoidite de Hashimoto deve-se ao fato da população brasileira estar sob excesso nutricional de iodo.

Entre 1998 e 2003, os brasileiros consumiram mais iodo em decorrência de uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que aumentou a proporção de iodo no sal de 40-60 microgramas por quilo (mcg/kg) para 40-100 mcg/kg.

A adição de iodo no sal é obrigatória no Brasil desde 1995. A carência de iodo no organismo é considerada um problema de saúde pública, já que pode levar a doenças como bócio e, no caso das gestantes, provocar o nascimento de crianças com rebaixamento mental e surdez congênita. Por outro lado, o excesso de iodo pode ter como conseqüência o aumento de casos de Tireoidite de Hashimoto e hipotireoidismo.

O nível ideal de iodo no organismo, recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é de 100 a 300 mcg/L, que é medido por um exame de urina.

Bomba de efeito retardado

Uma pesquisa realizada pela FMUSP, realizada em 2001 com escolares (7 a 14 anos) de oito Estados, dentro do Projeto Thyromobil, já havia confirmado excesso de iodo entre a população brasileira. Na época, dos 2.086 escolares examinados, 68% tinham níveis de iodo acima de 300 mcg/L. E o mais grave: 10% dos analisados tinham ao redor de 1000 mcg/L, um índice considerado altíssimo. O estudo foi repetido em 2003-2004, com estudantes do Estado de S. Paulo: 57% das amostras de urina analisadas tinham valores acima de 300 mcg/L. Esta comprovação do excessivo consumo de iodo levou a Anvisa a rever a resolução de 1998. Em março de 2003, o órgão reduziu novamente o teor de iodo para 20-60 mg/kg de sal. Mas, de acordo com Medeiros, o consumo excessivo de iodo por cinco anos é como ?uma bomba de efeito retardado?? – as conseqüências aparecem mais tarde. Vários estudos, em diferentes partes do mundo, apresentaram os mesmos resultados.

Estudo epidemiológico

A pesquisa teve início em 2004 e, para ter validade, teria de ser feita concomitantemente em outra área próxima, com a mesma densidade populacional (área controle), no caso a Vila Paulicéia, em São Bernardo do Campo. Em cada região deveriam ser analisadas no mínimo 400 pessoas.

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