Estudos realizados pelo Laboratório de Matriz Extracelular e Biotecnologia de Venenos e pelo Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Animais Peçonhentos (Lipape), da Universidade Federal do Paraná (UFPR) apontam a possibilidade de vacina para o veneno da aranha-marrom. Foram encontradas ainda diversas substâncias com uso potencial para a produção de remédios, como anticoagulantes, antiinflamatórios e proteínas, que em nível experimental in vitro, inibiram o crescimento de tumores.
O Laboratório de Matriz Extracelular e Biotecnologia de Venenos, coordenado pelo professor Silvio Sanches Veiga, vem utilizando técnicas de clonagem molecular, o que permite obter proteínas que compõem o veneno com um rendimento muito maior do que utilizando métodos convencionais. O uso da clonagem molecular vem sendo possível por causa do patrocínio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), que forneceu R$ 200 mil para o projeto "Biodiversidade, Toxinas e Aplicação Biotecnológica."
De acordo com o coordenador do Lipape, Oldemir Carlos Mangili, 90% dos recursos foram usados para a compra de equipamentos que possibilitem a utilização de clonagem molecular. Mangili explica que antes era preciso aplicar eletrochoques no cefalotórax das aranhas, o que permitia a extração de 25 microgramas de veneno. "Com a nova metodologia, é muito mais fácil conseguir o veneno."
Vacina
"Do ponto de vista experimental, a vacina está praticamente pronta", afirma Mangili. Os pesquisadores da UFPR, por meio das técnicas de clonagem molecular, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), obtiveram proteína não tóxica componente do veneno da aranha-marrom, que foi introduzida em coelhos, estimulando a produção de anticorpos nos animais. Eles observaram que, in vitro, a capacidade desses anticorpos em neutralizar uma grande quantidade de veneno era eficaz.
Porém, segundo o pesquisador, até hoje não se produziu vacina para venenos de animal peçonhento, pois a visão da comunidade científica é de que não há, em geral, a necessidade de se vacinar a população por causa do risco de acidentes dessa natureza. "Se houver necessidade, nós temos condições de aprofundar os estudos em laboratório e produzir a vacina", explica Mangili.
Novos usos
Segundo o pesquisador, foi realizado um estudo in vitro em que se observou que a peçonha da aranha marrom ataca a membrana basal – uma espécie de capa protetora – de tumores. "Essa membrana é muito parecida com a dos rins, órgãos que podem ficar bastante afetados nos acidentes com aranhas-marrons, pois o veneno rapidamente desaparece na corrente sangüínea e vai para os tecidos", afirma.
Mangili afirma ainda que está se começando a entender melhor a biologia da aranha-marrom e a continuação desses estudos é promissora. Ele lembra que substâncias encontradas no veneno da jararaca são atualmente utilizadas num remédio para hipertensão bastante vendido em todo o mundo. "Já isolamos cinco substâncias do veneno da aranha-marrom, e a Universidade Federal de Minas Gerais isolou outras quatro", afirma.
Risco de acidentes aumenta com temperaturas altas
Começa a esquentar e, as aranhas-marrons voltam a aparecer. Com isso, o risco de acidentes aumenta. Ao contrário do senso comum, segundo o biólogo do Setor de Epidemiologia da Secretaria de Saúde de Curitiba, Marcelo Vettorello, elas não surgem somente no verão: basta a temperatura subir que as aranhas voltam a se proliferar. "Elas dependem da temperatura do ambiente para se aquecer. Não precisando gerar calor para sobreviver", diz.
Nas estatísticas da secretaria, em 2004 houve 3.744 casos de picadas de aranha-marrom. Em 2005, diz Vettorello, a incidência até o início de outubro ficou em 1.494. "Acho que vamos conseguir diminuir a quantidade de casos neste ano. Fizemos várias palestras sobre o assunto na cidade e o fato de o inverno não ter sido tão rigoroso, fez as pessoas observarem mais aranhas e se lembrarem de tomar precauções para evitar acidentes", diz.
Segundo ele, 90% das picadas por aranha-marrom acontecem na hora em que as pessoas vestem suas roupas. "Elas têm hábito noturno e picam somente para se defender", afirma. O biólogo diz que é preciso evitar o acúmulo de caixas de papelão, papéis e jornal, pois isso contribui para o aumento de número de aranhas.
Precauções
O veneno da aranha-marrom não causa dor no momento em que ela morde, vindo a manifestar uma reação de seis a doze horas depois. O biólogo afirma que as lesões podem ser leves, moderadas ou graves. Cada uma delas vai ter uma forma de tratamento. "Um tipo de lesão sugestiva causada pela picada é o tecido da pele ficar um pouco roxo e endurecido e a pessoa sentir uma sensação de queimação no local."
Vettorello afirma que cerca de 5% das pessoas que foram mordidas por aranha-marrom precisam tomar soro, sendo o restante delas tratadas com corticóide. Segundo o biólogo, não adianta chegar no posto de saúde uma semana após a lesão ter se manifestado para tomar soro, pois se for preciso utilizá-lo, ele só vai funcionar se aplicado até 48 horas após o acidente. (RD)