Uma das principais causas de morte nos países desenvolvidos e em desenvolvimento são as doenças cardíacas, responsáveis por metade dos óbitos entre homens e mulheres acima dos 30 anos.
Na maioria dos casos em que não resulta em morte, a doença leva a um quadro de insuficiência cardíaca importante, que diminui consideravelmente a qualidade de vida das pessoas acometidas.
Em muitos casos, a aplicação dos tratamentos convencionais é de limitada eficácia ou até mesmo inaplicável e, sendo assim, explica-se a crescente busca de novos tratamentos que venham contribuir para a melhora do quadro clínico de pacientes cardiopatas.
A terapia celular é um dos métodos que vêm sendo estudados para enfrentar essa situação, e a terapia com célula-tronco tem se mostrado, em pesquisas, bastante promissora.
Encontra-se em fase final de pesquisas no Brasil, um dos maiores estudos clínicos do mundo na terapia com células-tronco para quatro importantes doenças cardíacas.
Alguns resultados serão conhecidos em dezembro e abrem caminho para que as cirurgias, medicamentos e até transplantes sejam substituídos pela terapia celular.
O tema é um dos destaques de simpósio internacional que a Associação Brasileira de Terapia Celular promove de 1.º a 4 de outubro, no “Estação Embratel Convention Center”, em Curitiba.
Intitulado Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias (EMRTCC), o programa do qual o Brasil detém a liderança mundial possui quatro principais linhas de pesquisa voltadas para quatro doenças cardíacas: Doença de Chagas, isquemia crônica, infarto e o “inchaço do coração” (a chamada cardiomiopatia dilatada, doença provocada por vários tipos de doenças).
Tem a coordenação de quatro grandes centros “âncoras”, como o Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (RJ), Incor (SP), Instituto de Ciências Biológicas da UFRJ e pelo Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz (Fundação Oswaldo Cruz) Bahia.
A palavra multicêntrico, por exemplo, significa que a pesquisa é desenvolvida em vários centros pelo país para permitir que os dados ao final sejam comparados. O termo randomizado quer dizer aleatório (os pacientes crônicos são escolhidos ao acaso, a partir de um banco de dados de casos graves).
Metade deles recebe células-tronco de sua própria medula óssea, enquanto a outra, placebo (substância sem efeito terapêutico). E é duplo-cego porque médicos e pacientes desconhecem quem está sob a ação das células ou do produto inócuo.
Na rede pública
O megaestudo conduzido pelo Brasil leva como vantagem sobre outras linhas de pesquisa, a sua amplitude de amostragem, o que vislumbra uma real potencialidade dos tratamentos empregados.
Os médicos envolvidos nas pesquisas só ficarão sabendo quais grupos foram ou não tratados com a terapia celular quando parte do estudo for divulgado, em dezembro próximo.
Os 1.200 portadores das quatro doenças cardíacas foram divididos em quatro grupos de 300 (um para cada doença).
A metade dos pacientes de cada grupo recebeu tratamento convencional (com os melhores recursos farmacológicos e cirúrgicos disponíveis) e a metade a injeção de células-tronco injetadas da medula óssea do próprio paciente.
Diante desses parâmetros de confiabilidade, o Ministério da Saúde acredita que, num prazo não muito longo, após a realização de novos testes sobre a sua eficiência, a terapia celular possa ser implantada nos hospitais da rede pública.
Sem rejeição
Os estudos que focam o uso de células-tronco para combater doenças cardíacas ganharam, recentemente, novos aliados. Cientistas holandeses testam um novo método que, segundo eles, poderá ser testado em pacientes em no máximo três anos, o que será um grande desafio para a equipe médica.
O cientista holandês, Pieter Doevendans, ,afirma que o novo procedimento permitirá a produção de células cardíacas em grandes quantidades, o que, até então, não era possível.
O pesquisador adianta que o próximo passo é conseguir criar um músculo cardíaco inteiro, provenientes de células cardíacas dos próprios pacientes, o que elimina a chance de rejeição. Uma importante vantagem, caso os testes obtenham sucesso, é de que a cirurgia não estará condicionada à disponibilidade de doadores.
“A partir dos resultados dos testes, durante uma cirurgia normal de coração para se colocar um marcapasso, por exemplo, pode-se utilizar o material tirado do coração do próprio paciente que, até então, era jogado no lixo”, completa Doevendans.
Entenda o estudo
Em resumo, o Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias (EMRTCC) tem o seguinte significado: a palavra multicêntrico, por exemplo, significa que a pesquisa é desenvolvida em vários centros pelo País para permitir que os dados ao final sejam comparados.
O termo randomizado quer dizer aleatório (os pacientes crônicos são escolhidos ao acaso, a partir de um banco de dados de casos graves). Metade deles recebe células-tronco de sua própria medula óssea, enquanto a outra, placebo (substância sem efeito terapêutico). É duplo-cego porque médicos e pacientes desconhecem quem está sob a ação das células ou do produto inócuo.
Pesquisas avançadas
O Simpósio de Curitiba reunirá cientistas de vários países, que apresentarão linhas de pesquisas avançadas com células-tronco com o objetivo de prevenir e curar doenças de alto índice de mortalidade, como as do coração, do sistema nervoso, hepáticas, diabetes, AVC, entre outras.
Tudo isso é possível, de acordo com o cirurgião cardiovascular e presidente do simpósio, Paulo Brofman, porque as células-tronco têm uma capacidade especial de originar outros tecidos, gerando cópias idênticas de si mesma e abrindo importante caminho para o reparo de órgãos ou tecidos lesados.
Rede nacional
A criação da Rede Nacional de Terapia Celular (RNTC) será outro assunto de destaque do Simpósio de Terapia Celular. Ela começa a funcionar até o final do ano e será voltada às pesquisas com células-tronco e embrionárias.
De início, estão previstos recursos de R$ 21 milhões pelo Ministério da Saúde no programa. Atualmente existem 182 pesquisas no País que mencionam terapia celular.
