A adesão à pílula continua
sendo baixa: em média, 80% utilizam pílulas por no máximo
um ano e 60% já realizaram
alguma pausa na utilização dos métodos contraceptivos em geral.

A decisão de ter um filho é uma decisão de duas pessoas, não de uma. Acontecer acidentes com uma menina de 15 anos nas primeiras relações é aceitável, mas mulheres maduras de 25 anos dizerem que engravidaram por acidente é mais difícil de acreditar. Não é impossível, mas é difícil. Esta opinião foi extraída de uma reunião de amigos que aguardavam em uma fila do cinema. Pode revelar certo tipo de preconceito, em outras, uma constatação da falta de adesão aos métodos contraceptivos, mesmo entre as mais maduras.

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Um estudo realizado pela associação internacional de pesquisa Psyma latina, por exemplo, revelou que ainda existe na América Latina um alto número de mulheres, principalmente jovens, que não utiliza nenhum método anticoncepcional. Os resultados da pesquisa, patrocinada pela Bayer Schering Pharma indicam que 32% das latino-americanas, apesar de contar com acesso a informação sobre saúde reprodutiva e métodos contraceptivos, ainda não utilizam o que lhes garantiria proteção contra doenças sexualmente transmissíveis e gravidez não planejada.

?O número de mulheres que não utilizam contraceptivos no continente está muito acima das estatísticas dos países mais desenvolvidos?, reforça Luis Behamondes, professor titular do departamento de Toco-Ginecologia da Unicamp, um dos coordenadores do estudo. Para complicar ainda mais este quadro, a pesquisa revelou que aquelas que utilizam algum método não o fazem de maneira constante. ?Elas conhecem os métodos anticoncepcionais, sendo que a pílula anticoncepcional, a camisinha, os dispositivos intra-uterinos e a injeção foram os mais citados, mas boa parte delas não utiliza?, destacou o pesquisador.

Saúde coletiva

A tabulação dos resultados reacendeu a necessidade de reforçar a educação sobre saúde sexual e reprodutiva na região, principalmente entre as mulheres jovens. Quando uma adolescente engravida, geralmente ela se vê à frente de uma situação não planejada e até mesmo indesejada. Nesta época da vida, quando a jovem tem menos de 16 anos, por sua imaturidade física, funcional e emocional, crescem os riscos de complicações, como o aborto espontâneo, parto prematuro, maior incidência de cesáreas, ruptura dos tecidos da vagina durante o parto, dificuldades na amamentação e depressão.

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De acordo com artigo publicado nos Cadernos de Saúde Pública, ?do ponto de vista da saúde coletiva, o conhecimento do padrão de consumo dos métodos contraceptivos e das características das usuárias pode subsidiar as políticas públicas quanto à adequação da utilização e da disponibilidade dos meios para a população?. Todas as mulheres que participaram do estudo foram submetidas a um questionário padronizado.

Os métodos contraceptivos são os principais aliados de um casal para alcançar sucesso no planejamento familiar, evitando uma gravidez não desejada -além de proporcionarem a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da aids. Dos métodos contraceptivos, no Brasil, os mais procurados são as pílulas anticoncepcionais e a ligadura tubária.

Atividades educacionais

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No estudo latino-americano, cerca de 60% das entrevistadas demonstram estarem satisfeitas com o método que utilizam e 80% declaram ter acesso fácil à pílula e ao preservativo. Os resultados também assinalam que quase metade das entrevistadas prefere utilizar as pílulas anticoncepcionais modernas pelos benefícios adicionais que estas oferecem. No entanto, 32% das mulheres afirmaram não estar utilizando nenhum método anticoncepcional no momento e 58% declararam que haviam feito uma pausa na utilização dos métodos.

O aumento no uso de anticoncepcionais no continente nos últimos anos de deve, principalmente, ao maior acesso à informação. De acordo com a pesquisa, existe a oferta de opções contraceptivas eficazes e modernas que se ajustam às necessidades das mulheres. Ainda que, tanto a pílula quanto a camisinha tenham obtido altas taxas de utilização, o contraceptivo oral é o método mais utilizado pelas entrevistadas. Cerca de 81% das mulheres mencionaram a facilidade de acesso e uso da pílula e 64% identificaram a alta efetividade do método. ?Melhor controle do fluxo menstrual, sem alterações de peso e combate à acne, foram as vantagens citadas nas entrevistas?, relata Luis Behamondes.

Ainda que, tradicionalmente, os serviços de atenção à saúde reprodutiva fossem oferecidos somente às mulheres em idade fértil, hoje em dia se reconhece que essa idade já é demasiadamente tardia, já que a idade média de iniciação sexual na América Latina é de 14 anos. ?Cerca de 50% dos adolescentes menores de 17 anos são sexualmente ativos?, informa o especialista. A pesquisa identificou, ainda, que quase metade das entrevistadas declarou ter começado a utilizar o primeiro método contraceptivo entre 18 e 22 anos. No entanto, entre 70% e 90% delas, utilizaram a pílula somente durante um ano. ?Os resultados do estudo servem para motivar os países a incorporar atividades educacionais de promoção de saúde também às mulheres mais jovens?, avalia o coordenador.

Os números da pesquisa latino-americana

32% das entrevistadas atualmente não utilizam nenhum método anticoncepcional

Os métodos anticoncepcionais mais mencionados são as pílulas anticoncepcionais (48%), preservativos (32%), dispositivos intra-uterinos (9%) e injeções (6%).

62% estão muito satisfeitas com o método que utilizam ou já utilizaram A maioria das entrevistadas declarou ter fácil acesso à pílula (81%) e ao preservativo (87%)

58% já realizaram alguma pausa na utilização do método

A evolução da pílula anticoncepcional

Com o surgimento da primeira pílula anticoncepcional, na década de 60, o método contraceptivo tornou-se a primeira opção de controle da fertilidade e planejamento familiar para milhões de mulheres no mundo.

Ao longo destes quase 50 anos, o contraceptivo oral incorporou substâncias e formulações inovadoras, ganhando novas indicações e usos.

De acordo com artigos e trabalhos científicos, a pílula anticoncepcional moderna oferece desde a diminuição dos distúrbios associados ao ciclo menstrual até a diminuição dos índices de câncer de ovário e do endométrio. Sua evolução se deve, principalmente, ao surgimento de formulações com baixas doses hormonais (diminuição da quantidade de estrogênio) e o desenvolvimento de novos progestógenos, que agregam mais benefícios e menos efeitos colaterais.

“Hoje, mesmo sem manter relações sexuais, a mulher tem a opção de utilizar a pílula para aliviar dores durante a menstruação, melhorar a pele, reduzir a TPM (tensão pré-menstrual), entre outros benefícios”, destaca José Bento, ginecologista e obstetra. Segundo o especialista, atualmente a tendência é que a mulher engravide mais tarde, após os 30 anos, por isso, ela precisa de métodos eficazes e que, ao mesmo tempo, possam diminuir os índices de alterações como miomas e cistos no ovário. “Os estudos mais recentes também associam o uso da pílula anticoncepcional com a redução dos índices de câncer de ovário e do endométrio”, destaca.