O tratamento de cada caso de meningite pneumocócica chega a custar R$ 8 mil para o Sistema Único de Saúde (SUS). No sistema privado, esse número chega a mais de R$ 9 mil, por episódio tratado da doença. Esta é uma das conclusões do estudo PAE Brasil (Pneumococo – Avaliação Econômica), divulgado no dia 28 de novembro. Realizado por pesquisadores e consultores de diversas instituições ligadas à saúde, como a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o estudo, apoiado pela Wyeth Indústria Farmacêutica, tabulou e analisou os dados disponíveis no País sobre a situação das doenças pneumocócicas (meningite, pneumonia, otite média aguda, septicemia e bacteremia).
São moléstias que afetam principalmente crianças de até cinco anos e causam mais de 20 mil mortes por ano no Brasil – números superiores aos de mortes por malária, aids e tuberculose juntas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. A maioria das vítimas da meningite pneumocócica, por exemplo, terá seqüelas graves, ficando impedidas de levar uma vida normal. Com efeito, a pneumonia obriga o governo a desembolsar mais do que R$ 600 em cada hospitalização. ?Estes valores dizem respeito apenas ao gasto com o tratamento da doença, sem contabilizar o alto custo social para os pacientes?, avalia o pediatra Eitan Berezin, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria e um dos coordenadores do estudo.
José Geraldo Leite: “Com os dados da pesquisa, incluir a vacina no calendário oficial passa da discussão econômica para o apelo social”. |
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia recomendado a inclusão das vacinas contra doenças pneumocócicas nos calendários de vacinação anuais em diversos países. No Brasil, a prevenção parcial da doença é feita por meio da aplicação da vacina Tetravalente. De acordo com achados do PAE Brasil, mais de 260 mil novos casos de doenças pneumocócicas poderiam ser evitados com a introdução da vacina conjugada 7-valente no calendário vacinal brasileiro. ?Além de proporcionar uma total proteção à criança, o custos efetivo dos tratamentos cairia significativamente?, garante Gláucia Vespa, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo, que participou do estudo.
Redução expressiva
Atualmente, a vacina ?7-valente? está disponível nos sistema público apenas para crianças com necessidades especiais, como prematuros, portadores de asma grave ou crianças com síndrome de Down. Na rede particular, a vacina está disponível, mas o preço ainda é ?salgado?: cerca de R$ 260,00. Ana Lúcia conseguiu a vacina para sua filha pelo programa do governo, por ela ser prematura e ter nascido com pouco mais de 1,5 kg. Já Rosangela Dutra, tomou conhecimento há pouco tempo da vacina e recorreu ao bolso do avô de Juliana (4 anos) para garantir a imunização. Hoje, ambas se sentem aliviadas com a proteção proporcionada aos filhos.
Eitan Berezin: “O custo social das doenças pneumocócicas é dificil de ser mensurado”. |
No calendário vacinal americano estão previstas quatro doses. Na Europa, são recomendadas três doses. Um estudo publicado no Pediatric Infectious Disease Journal relatou que a vacina reduziu em 87% a incidência das doenças pneumocócicas invasivas em crianças com menos de cinco anos de idade. De acordo com Eitan Berezin, as doenças pneumocócicas ocorrem comumente nos extremos da vida ?Nas crianças, o sistema imunológico está em formação, no caso dos idosos, debilitado?, reconhece.
Questões políticas
O Ministério da Saúde (MS) está avaliando a inclusão da vacina no calendário básico, conforme recomendação da OMS. Segundo José Geraldo Leite, consultor para área de imunização do MS, os dados do PAE Brasil podem alavancar esta decisão. De acordo com o especialista, os resultados mostraram que ela é custo-efetiva, fazendo com que a fase de reflexão técnica para sua introdução no Plano Nacional de Imunização esteja superada. ?Temos agora que superar as questões políticas e socioeconômicas, pois está comprovado que a imunização evita sofrimento e morte?, sentencia.
Na vacina conjuga 7-valente, a conjugação de alguns sorotipos de pneumococo com proteínas leva ao desenvolvimento de uma resposta imune mais apropriada em crianças menores de dois anos, além de ajudar a desenvolver a memória imunológica. O pediatra Eitan Berezin comentou que, nos Estados Unidos, após a sua introdução no calendário vacinal infantil, houve acentuada queda na incidência de doença invasiva pelo pneumocooco. ?Não só na população vacinada, mas, também, em outras faixas etárias, como adolescentes, adultos jovens e idosos?, salientou.
Vinte mil mortes por ano
A doença pneumocócica mata uma criança com menos de cinco anos de idade a cada duas horas e meia. São 20 mil por ano. Essas mortes poderiam ser evitadas caso elas tomassem a vacina contra a doença. Como a transmissão da doença se dá pelo ar, cada criança imunizada deixa de contaminar pelo menos mais outras duas. Nos Estados Unidos a efetivação da vacina em 2001 reduziu em 98% o número de casos em crianças e 73% em idosos. Além disso, a introdução da vacina no Calendário Nacional de Imunização, faria com que o SUS economizasse parte dos R$ 70 milhões gastos no tratamento dos pacientes.
Números que assustam Pneumonia
512 mil novos casos surgem por ano em crianças menores de cinco anos
Otite média aguda
Mais de 3 milhões de novos casos por ano em crianças (que pode levar até a surdez)
Meningite
surgem mais de 1.200 novos casos por ano
Hospitalizações
Mais de 70 mil hospitalizações por pneumonia por ano estão associadas às doenças pneumocócicas
Consultas
339.370 visitas ao médico anualmente (média de 98 por 1000 crianças)
Doenças invasivas
As doenças pneumocócicas englobam um grupo de doenças invasivas causadas pela bactéria S. pneumoniae, entre elas, a bacteremia (infecção bacteriana do sangue), a sepse (infecção generalizada com falência múltipla de órgãos), a meningite (infecção bacteriana das membranas que revestem o cérebro e medula espinhal) e a pneumonia devido à infecção invasiva, conhecida como pneumonia bacterêmica.
Essas doenças são muito graves podendo provocar seqüelas e mesmo a morte. A bactéria também provoca infecções não invasivas, tais como a pneumonia, a sinusite, otite média aguda, que pode complicar-se com a perda de audição, incapacidade de aprendizado e retardo na fala. Bebês até os 24 meses, crianças com o sistema imunológico comprometido, crianças que freqüentam creches e crianças que tomaram antibióticos num período anterior de três meses, apresentam risco maior de desenvolver doenças graves.
A transmissão ocorre de um indivíduo para outro por meio do contato íntimo, por meio de gotículas de saliva, geralmente associada a aglomerações. Por essa razão, as crianças que freqüentam as creches têm maior risco de adquirir a doença. A transmissão ocorre mais nos meses de inverno e início da primavera. A bactéria pode estar presente na mucosa nasal e na garganta dos indivíduos saudáveis. Por motivo desconhecido, pode invadir o organismo, causando infecções graves que podem levar à morte.
PAE Brasil /Custos de tratamento por episódio
Doença pneumocócica | SUS | Sistema privado |
Meningite com seqüela | R$ 8.052,00 | R$ 9.424,00 |
Meningite sem seqüela | R$ 1.128,00 | R$ 2.317,00 |
Sepses (infecção generalizada) | R$ 1.988,24 | R$ 3.004,40 |
Hospitalização por pneumonia/caso | R$ 603,57 | R$ 1.219,94 |
Otite média aguda sem complicação | R$ 38,25 | R$ 127,82 |