A esquizofrenia tem sido assunto comum no bate-papo do escritório, nas rodas de amigos e conversas de família. Isso porque a doença tem sido destaque na novela Caminho das Índias, da Rede Globo, em que o ator Bruno Gagliasso interpreta o personagem Tarso, um jovem de família rica portador da condição. Apesar da enorme repercussão da novela, a esquizofrenia é ainda uma doença cercada de preconceitos e incompreensões.
Muitos portadores alegam ouvir vozes, outros sofrem com a sensação de estar sendo seguidos por alguém. O psiquiatra Hélio Elkis, coordenador do Projesq – Programa de Esquizofrenia do Hospital das Clínicas da USP, explica que a esquizofrenia é uma doença mental que se caracteriza classicamente por um agrupamento de sintomas, entre os quais alterações do pensamento e do humor, alucinações, delírios e perda do contato com a realidade.
De acordo com o médico, a doença afeta a habilidade de organizar as idéias, a capacidade de expressar emoções e a motivação para atividade normais do dia-a-dia. “As reais causas da esquizofrenia ainda são desconhecidas, mas ela tem um forte apelo genético”, reconhece.
A possibilidade de familiares desenvolverem a doença é algo em torno de 10%, surgindo com mais frequência no início da vida adulta, depois dos 20 anos de idade.
Primeiro passo
Os psiquiatras são unânimes em afirmar que o conhecimento da doença é uma das melhores formas de combater o estigma social presente na condição que, além de trazer consequências psicossociais, é responsável por agravar a doença.
“Diminuir o preconceito causado pela falta de informação sobre a doença, o conhecimento da esquizofrenia também evita o diagnóstico tardio”, afirma o psiquiatra Rodrigo Bressan.
Assim, quanto mais tempo a pessoa fica sem tratamento, mais degenerativa ela se torna para o cérebro. O alerta vai para familiares dos portadores, pois são eles que, invariavelmente, levam o paciente a buscar ajuda médica, uma vez que o portador dificilmente se convence que precisa ser tratado.
“Por falta de conhecimento sobre o que está acontecendo, a família acaba rotulando o portador com adjetivos pejorativos que não ajudam em nada no tratamento da doença”, reconhece Bressan. Com efeito, entender o que se passa com o portador é o “primeiro passo para reintegrá-lo à sociedade e ajudá-lo a ter uma vida com qualidade.”
Adesão ao tratamento
Segundo o psiquiatra Hélio Elkis, há uma série de estudos em andamento para se entender a causa da doença e várias hipóteses têm sido pesquisadas. “Há alguns mitos em relação à sua causa, um deles é que a mãe seria a causadora ou que a esquizofrenia é provocada por traumas psicológicos, todas se mostraram equivocadas. Hoje se sabe muito bem que a esquizofrenia, como todo transtorno mental, é uma doença do cérebro e que as causas são múltiplas.
“Fatores de risco que não eram suspeitados, hoje são bem conhecidos, como a idade paterna que, quanto maior, mais elevado o risco”, explica o especialista. Para os psiquiatras, um dos grandes desafios da doença é diminuir as recaídas, isto é, o retorno dos sintomas, que agravam a degeneração do cérebro.
“Há estudos que apresentam evidências indiretas de que a recorrência dos sintomas está associada à maior atrofia de certas regiões cerebrais e a progressão da doença”, avalia Elkis. A adesão ao tratamento é o tema enfatizado por Rodrigo Bressan.
Conforme o psiquiatra, convencer o portador que ele precisa tomar a medicação e frequentar o médico é um dos grandes desafios no tratamento. “Já existem disponíveis medicamentos em que o paciente toma a medicação apenas duas vezes po,r mês, diminuindo a necessidade de se preocupar todos os dias com o tratamento”, comemora.
A doença na telinha
Para interpretar o personagem Tarso, na novela, o ator Bruno Gagliasso disse que não precisou fazer muita pesquisa, pois já conhecia a doença. “Estou aprendendo todos os dias com as pessoas que encontro que têm a doença e que me param para falar sobre a novela e sobre sua história pessoal”, comenta, reconhecendo que, como ator, tem o compromisso de esclarecer a população sobre um tema tão sério, tentando diminuir o preconceito muito forte que existe ainda sobre a condição.
Gagliasso conta que frequenta clínicas psiquiátricas e lê muito sobre o assunto. “As pessoas não me confundem com um portador da doença, mas muitas pessoas vêm me agradecer ou contar uma história sobre a esquizofrenia”, diz, acreditando que a trama vem ajudando para desmistificar essa condição.