Inimiga silenciosa. Assim é conhecida a hipertensão arterial, o principal fator desencadeador de doenças cardiovasculares, por sua vez, a principal causa de morte no mundo. Estima-se que mais de 21% da população com idade de 18 anos ou mais seja hipertensa, o que representa cerca de 26,5 milhões de pessoas no Brasil. No dia 26 de abril, instituído como o Dia Nacional de Combate a Hipertensão Arterial, especialistas alertaram sobre a conscientização da população sobre os riscos da doença. A preocupação dos profissionais de saúde é tão grande que eles dividem a população em três: os hipertensos, aqueles que não conseguem controlar o distúrbio devidamente e aqueles que não sabem que sofrem do mal.
De acordo com o cardiologista e especialista em hipertensão arterial do Hospital do Coração, Celso Amodeo, a incidência da hipertensão tem uma relação muito forte com o histórico familiar e fatores como excesso de peso, abuso de álcool, fumo e sedentarismo. ?A pressão arterial alta não tem cura, mas pode ser controlada?, observa o médico. Assim, algumas mudanças de hábitos podem ajudar a manter a saúde dos hipertensos.
Yoshio Matsumoto, de 66 anos, por exemplo, teve complicações cardíacas em função da doença e mudou completamente os hábitos de vida. Hoje controla bem a alimentação e pratica caminhadas leves. Ele que já foi fumante, precisa tomar medicamento para controlar a pressão alta. ?Tomo medicamentos e estou procurando manter uma alimentação saudável, moderando no consumo de gorduras e frituras?, comenta.
Até em crianças
De acordo com as sociedades brasileiras de cardiologia e de hipertensão, o distúrbio afeta mais de 50% dos idosos e, atinge ainda, 5% das crianças e adolescentes do País. Segundo a nefrologista Rejane de Paula Meneses, do Hospital Pequeno Príncipe, estudos epidemiológicos têm apontado que no Brasil a prevalência de hipertensão arterial em crianças com faixa etária de quatro a seis anos está entre 6% e 8%. Atualmente, considera-se obrigatória a medida da pressão arterial a partir de três anos de idade, anualmente, ou antes dessa idade, quando a criança apresentar antecedentes de doenças renais ou fatores de risco familiares. As principais causas de hipertensão arterial em crianças, de acordo com a médica, são de origem secundária, como as doenças renais ou inflamatórias e a estenose da artéria renal, entre outras. ?Atenção especial deve ser dada à presença de fatores de riscos, como história familiar, obesidade e sedentarismo?, alerta a nefrologista.
A falta da cultura da prevenção é o principal motivo dos números continuarem alarmantes. ?Como não sente dores ou qualquer outro sintoma que atrapalhe o dia-a-dia, a pessoa não procura um médico e, portanto, não trata do problema?, observa Marcos Bubna, chefe do departamento de Cardiologia do Hospital Cardiológico Costantini. Assim, um simples check-up pode ajudar uma pessoa a se salvar, antes da ocorrência de complicações cardiovasculares.
Cuidados para sempre
A professora aposentada Maria Batista Lino, de 72 anos, trabalhava até seis meses atrás. Ao descobrir, há 20 anos, que era hipertensa, ela que mantinha atividades estressantes, mudou os hábitos de vida. Hoje controla o sal na alimentação e caminha diariamente. ?Como tenho histórico familiar de doença cardíaca, faço acompanhamento com medicação e consultas de quatro em quatro meses?, diz.
A partir do diagnóstico da doença, medidas simples de prevenção já conhecidas pela maioria das pessoas podem ajudar a controlar a pressão arterial. ?Basta adotar uma dieta com baixos índices de gordura e sódio (sal) e rica em potássio, além de exercícios físicos regulares, controle de peso e auxílio de medicamentos prescritos por médicos?, explica Bubna.
O acompanhamento médico é imprescindível, uma vez que alguns remédios podem colaborar no aumento da pressão arterial -especialmente os corticóides, antiinflamatórios, anticoncepcionais e anorexígenos. De acordo com o médico, os corticóides aumentam a retenção de líquido e de sal no organismo, o que pode elevar a pressão arterial.
Quem tem pressão alta precisa ter cuidados para toda a vida. Não fumar, ter acompanhamento médico, remédios adequados, alimentação controlada, exercícios físicos e controle do estresse devem ser medidas de ordem para o paciente. De acordo com Marcos Bubna, o número de pessoas que abandonam o tratamento e agravam seu estado é muito alto. ?Devido à falta de sintomas, alguns pacientes acreditam que basta tomar uma cartela de remédios, que está tudo resolvido. Mas, o medicamento nunca pode ser abandonado?, alerta.
Enquanto isso, a medicina continua avançando no esforço de descobrir novas maneiras de prevenir e tratar a hipertensão. Uma das novidades está na genética. Estudos caminham para que, em um futuro breve, o mapa genético do paciente mostre se ele apresenta uma tendência à doença, facilitando a antecipação de medidas preventivas, e, assim, quais os medicamentos mais indicados no tratamento.
Dicas para combater
>> Manter o peso ideal
>> Praticar atividade física regularmente
>> Reduzir o consumo de sal
>> Ingerir bebidas alcoólicas com moderação
>> Seguir uma dieta saudável
>> Checar sempre a pressão arterial e consultar um especialista
>> Não fumar
>> Tentar reduzir os níveis de estresse
Números que valem
Anualmente, quase 300 mil pessoas morrem no Brasil de doenças cardiovasculares, mais da metade decorre da pressão alta.
A pressão alta atinge 30% da população adulta brasileira, chegando a mais de 50% na terceira idade e está presente em 5% das crianças e adolescentes brasileiros.
A pressão alta é responsável por 40% dos infartos, 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) e 25% dos casos de insuficiência renal terminal.
Em apenas 29% das consultas médicas no Brasil se faz a medição da pressão.
Apenas 23% dos hipertensos controlam corretamente a doença. 36% não fazem controle algum e 41% abandonam o tratamento após melhora inicial da pressão arterial.