Equipe desvenda a “fechadura química”

Encontrar a chave que abre uma fechadura conhecida, como a da porta de casa, é relativamente fácil. Com o tempo, suas características principais – a marca, o tamanho, o formato e a cor – tornam-se familiares. Ao procurar a chave de casa, é simples descartar, apenas com uma rápida comparação mental, os artefatos cujos contornos diferem radicalmente do jeitão do buraco da fechadura. Essa estratégia encurta a busca às chaves que apresentam alguma chance de abrir a porta. Porém, sem nunca ter visto a fechadura da porta, identificar a chave ideal no meio de outras chaves pode ser um suplício, sobretudo se o número de opções a serem testadas for elevado. Uma coisa é certa: as chances de encontrar a chave certa aumentam à medida que as características fundamentais da fechadura forem desvendadas.

Foi mais ou menos isso – desvendar os contornos de uma fechadura química – o que fez uma equipe de pesquisadores gaúchos e paulistas. Eles produziram a mais detalhada imagem da estrutura tridimensional do cristal de uma proteína, a enzima PNP, sigla de purina nucleosídeo fosforilase, cuja ação, quando descontrolada, parece levar ao surgimento de algumas doenças de origem imunológica e à rejeição de órgãos transplantados. “É como se tivéssemos dado um zoom numa foto”, compara Diógenes Santiago Santos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/ RS), coordenador dos trabalhos sobre a enzima.

Tais estudos são feitos no âmbito do Instituto do Milênio para Estratégias Integradas para Estudo e Controle da Tuberculose no Brasil, projeto financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). “Agora podemos ver pormenores da estrutura da PNP que antes não eram claros.” A nova imagem da PNP apresenta uma qualidade cerca de 20% superior à da versão anterior. Sua resolução é de 2,3 angströns, ao passo que a da antiga representação da molécula é de 2,8 angströns (1 angström corresponde a 10 milionésimos do milímetro). Quanto menor for o valor da resolução em angström, mais nítidos os detalhes da estrutura flagrada. A imagem capturada pelos brasileiros joga luz sobre ínfimas porções da PNP que podem ser fundamentais para se encontrar as chaves moleculares – os medicamentos – capazes de se ligar e atuar sobre essa enzima.

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