Epilepsia pode ser controlada

Sócrates, Júlio César, Buda, Maomé, Alexandre o Grande, Joana D?Arc, Napoleão, Dostoievski, Van Gogh e Machado de Assis, entre outras figuras expressivas da humanidade, tinham alguma coisa em comum: apresentavam crises epilépticas. Por aí dá para se perceber que em todo o universo de pessoas acometidas pela epilepsia o convívio com esta condição é aceitável e, geralmente, seus portadores não têm maiores dificuldades no exercício de suas atividades.

Apesar disso, até bem pouco tempo seus portadores eram marginalizados, vítimas de preconceito e, até, de enclausuramento. De acordo com especialistas, a população precisa saber que a epilepsia, normalmente, não afeta a inteligência. As dificuldades de aprendizagem podem ocorrer por crises freqüentes e prolongadas ou por efeitos colaterais dos medicamentos, como fadiga, sonolência e diminuição da atenção.

Estima-se que cerca de 3,5 milhões de pessoas sofram de epilepsia em toda a América Latina, e aproximadamente 100 mil casos novos surgem a cada ano, não se sabendo como nem quando as crises podem ocorrer. ?Pelo menos, metade dos casos começa na infância ou adolescência?, atesta o neurocirurgião Murilo Meneses, do Instituto de Neurologia de Curitiba (INC). De acordo com o especialista, a doença é caracterizada por crises ou convulsões repetidas. ?A epilepsia não é contagiosa, tampouco uma doença mental, ao contrário do que muitos pensam?, revela o médico.

Instantes de inconsciência

Conforme o neurocirurgião Marlus Moro, chefe do serviço de neurologia do Hospital Nossa Senhora das Graças, a doença é uma condição clínica na qual ocorre descarga elétrica anormal e excessiva de um grupo de células cerebrais – os neurônios. Ele descreve que são múltiplas as apresentações de uma crise epiléptica. ?Isso se deve às diversas classificações da doença?, esclarece. Segundo o especialista, em geral, elas são facilmente controláveis, desde que adequadamente medicadas. De acordo com o médico, a mais freqüente é a chamada crise parcial ou psicomotora, que se caracteriza por instantes de inconsciência, associada aos movimentos desordenados de membros. Essas crises, respondem menos favoravelmente às medicações e, ocasionalmente, podem ser refratárias a qualquer tratamento anticonvulsivante.

O tratamento medicamentoso é sempre indicado, desde que as crises se tornem freqüentes. ?Cerca de 7% da população têm uma crise convulsiva durante a vida, e em 80% desses pacientes o tratamento é efetivo e satisfatório?, observa Moro. Aqueles que não se enquadram neste perfil pertencem a um grupo chamado de ?pacientes refratários?. Por não obter o controle medicamentoso de suas crises, essa parcela da população tem comprometido o seu bem-estar e, freqüentemente, impedidos de exercer suas atividades profissionais e sociais, normalmente.

Controle das crises

Para os pacientes que sofrem de epilepsia de difícil controle, uma técnica moderna começa a ser aplicada no Paraná. É a terapia VNS (sigla em inglês para estimulação do nervo vago). O tratamento permite o controle da doença nos seus casos mais graves, quando a combinação de dois ou três tipos de medicamentos já testados não é suficiente para controlar as crises. O estudante Guilherme, de 21 anos, passou pela terapia no INC em outubro de 2007 e teve uma diminuição significativa no número de crises. ?Sem dúvida, a mudança foi considerável, pois ele chegava a várias crises por semana e, agora, a média é de duas por mês?, afirma Moacir, seu pai. A jovem Elaine Cristina, de 25 anos, que sofre de epilepsia desde os oito meses de idade também passou pelo tratamento. ?Devido às crises, no ano passado ela não saía da UTI, pois os remédios já não funcionavam mais?, conta sua mãe, Marlene. Ela foi submetida à terapia em janeiro e, desde então, vem se recuperando gradativamente. De acordo com Marlene, as crises diminuíram e sua filha já voltou a caminhar sozinha. Conforme Murilo Meneses, responsável por trazer a técnica para o Paraná, a terapia VNS traz esperança para pessoas com diagnóstico de epilepsia de difícil controle, que correspondem a quase 30% dos casos da doença.

Controlando os estímulos

A estimulação do nervo vago consiste em implantar um gerador de pulso sob a pele, abaixo da clavícula ou perto da axila. Uma segunda incisão é feita no pescoço para fixar dois minúsculos fios ao nervo vago esquerdo através dos eletrodos. Os fios são colocados sob a pele, desde o gerador de pulso até o nervo vago do pescoço.

O procedimento deixa uma pequena saliência no peito e finas cicatrizes que desaparecem com o tempo e se misturam à dobra natural da pele.

O gerador é programado para liberar minúsculos estímulos automaticamente, 24 horas por dia. Assim, quando a pessoa sente a chegada de uma crise pode alterar a quantidade de estímulos, podendo, até mesmo, evitá-la.

A terapia VNS é um avanço em termos de qualidade de vida para as pessoas que sofrem com o problema crônico da doença. Os efeitos colaterais são menores, não passando de um pequeno desconforto na garganta, rouquidão temporária, tosse e falta de ar. A cirurgia é feita no hospital, com anestesia geral e dura cerca de uma hora.

Fatores desencadeantes

Em alguns pacientes, as crises de epilepsia são desencadeadas por:

>>    Exposição à iluminação intermitente

>>    Alguns tipos de ruídos

>>    Leitura por períodos prolongados

>>    Privação de sono

>>    Fadiga

>>    Uso de álcool

>>    Hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue)

>>    Além destes, a ingestão de álcool, determinados medicamentos ou ingredientes alimentares podem interagir com as drogas antiepilépticas e precipitar crises

Fonte: Liga Brasileira de Epilepsia

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