Uma pesquisa do Ministério da Saúde, apresentada nesta semana, mostra que quase metade da população adulta (48,1%) está acima do peso e 15% são obesos.
Há cinco anos, a proporção era de 42,7% para excesso de peso e 11,4% para obesidade. Os dados fazem parte da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que em 2010 entrevistou 54.339 adultos, nas 27 capitais.
O Vigitel é realizado anualmente, desde 2006, pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP).
Entre as pessoas do sexo feminino, o índice passa de 24,9%, na faixa dos 18 aos 24 anos, para 52,9% (45 aos 54 anos), ou seja, chega a mais do que o dobro. Já entre os homens o quadro de obesidade é mais frequente a partir dos 35 anos, atingindo a 59,6%, dentro de uma faixa etária de 55 aos 64 anos de idade.
“O Brasil vive uma transição nutricional, em que o aumento do poder aquisitivo da população muda os hábitos”, afirma o médico Amélio Fernando de Godoy Matos da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
As pessoas passaram a comprar mais produtos que contribuem para o crescimento do sedentarismo, como televisões e carros. Além disso, acrescentaram o consumo de alimentos doces e industrializados. Com efeito, os resultados não surpreendem, pois já eram esperados, mas, por outro lado, não deixam de preocupar.
Padrões inadequados
Se for considerada somente a população masculina, mais da metade dos homens está acima do peso (52,1%). Entre as mulheres, a proporção é de 44,3%, com aumento significativo nos dois sexos.
Em 2006, a pesquisa apontava excesso de peso em 47,2% dos homens e em 38,5% das mulheres. Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, explica que o expressivo crescimento no número de pessoas com sobrepeso e obesidade, em um curto período, é uma tendência mundial.
“A ocorrência do excesso de peso decorre do sedentarismo e de padrões alimentares inadequados”, constata a coordenadora. Essa é uma tendência mundial e o Brasil não está isolado.
Para Deborah é um reflexo do baixo consumo de alimentos saudáveis, como frutas, legumes e verduras e do uso em excesso de produtos industrializados com elevado teor de calorias, como gorduras e açúcares, além de baixos níveis de atividade física.
Menos feijão, mais gordura
Tanto os hábitos alimentares dos brasileiros quanto o sedentarismo e a realização de atividade física no lazer são indicadores investigados pelo Vigitel. Em relação à alimentação, a pesquisa aponta que o brasileiro está consumindo menos feijão (importante fonte de ferro e fibras), mais leite integral (com gordura) e bastante carne com gordura aparente. O número de adultos que comem feijão pelo menos cinco dias por semana é de 66,7% – em 2006, eram 71,9%.
Também é preocupante o percentual de adultos que consomem a quantidade recomendada de frutas e hortaliças – cinco porções diárias (ou 400 gramas), de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Importante fator de proteção para as doenças crônicas não transmissíveis, esses alimentos são consumidos na quantidade recomendada por apenas 18,2% dos brasileiros.
Por outro lado, 34,2% dos entrevistados dizem que se alimentam de carnes vermelhas gordurosas ou de frango com pele; e 28,1% consomem refrigerantes, cinco vezes ou mais na semana.
O Inquérito mostra que 14,2% dos adultos são sedentários, ou seja, pessoas ,que não fazem nenhuma atividade física no tempo livre, no deslocamento diário ou em atividades, como a limpeza da casa e outros trabalhos pesados.
Outro indicador de sedentarismo é ver televisão por mais de três horas ao dia, hábito referido por 30,2% dos homens e 26,5% das mulheres. Além disso, apenas 14,9% dos adultos são ativos no tempo livre, com maior proporção nos homens (18,6%) em relação às mulheres (11,7%).
A OMS recomenda a prática de 30 minutos de atividade física, em cinco ou mais dias por semana. “Por isso, o Ministério da Saúde têm priorizado ações educativas para promoção da saúde e da atividade física”, afirma Deborah Malta.
Proporção de adultos obesos subiu de 11,4% para 15%. Ministério da Saúde investe no estímulo à alimentação saudável e na promoção da atividade física. |
Longevidade em perigo
A obesidade se tornou uma ameaça à saúde tão disseminada que, até a metade deste século, poderá reverter o longo e constante aumento da expectativa de vida, principalmente nos países ocidentais, onde a epidemia é mais preocupante.
A crescente obesidade entre as crianças norte-americanas, por exemplo, levará a um aumento das doenças cardíacas, derrames, diabetes e câncer – doenças que podem encurtar-lhes drasticamente o tempo de vida, sem contar o aumento nos gastos do governo com programas de saúde.
A epidemia já está reduzindo a expectativa de vida entre os americanos de forma mais significativa do que os homicídios, suicídios e acidentes fatais combinados. Assim, à medida que milhões de crianças obesas envelhecerem, a doença poderá reduzir o índice de longevidade entre dois e cinco anos.
A expectativa de vida tem crescido nos últimos anos, à medida que o número de mortes por câncer e doenças cardíacas tem decrescido. No entanto, é bem possível que essa tendência se reverterá.
O rápido crescimento das taxas de obesidade, particularmente entre as crianças, é a principal força que puxa essa previsão. A doença praticamente triplicou entre as crianças americanas nas últimas três décadas, segundo estatísticas federais.
Em 2000, mais de 15% das crianças com idades entre seis e 19 anos eram obesas, o dobro de três décadas atrás. Dois terços dos adultos americanos atualmente estão acima do peso ou obesos. São eles que enfrentam os riscos elevados de contrair doenças graves, como as cardiopatias, diabetes, câncer e outras moléstias.