Enigma, pesquisas e surpresas envolvem a patologia denominada endometriose, que se caracteriza pela presença de endométrio (tecido que recobre internamente a cavidade uterina) em outras partes do corpo. O médico Álvaro Pigatto Ceschin, presidente da Associação Paranaense de Endometriose e diretor-presidente do Feliccità ? Instituto de Fertilidade explica que quando este tecido invade o próprio músculo uterino a doença é denominada de endometriose interna ou adenomiose. Quando se implanta em outros órgãos (peritôneo pélvico, ovário, trompa, bexiga, intestino, entre outros) é conhecida por endometriose externa.
A principal explicação para esses eventos, conforme o especialista, vem da teoria de Sampson, na qual ele considera que parte do tecido endometrial que deveria fluir normalmente por via vaginal, durante a menstruação, volta pelas trompas e se fixa em um dos locais descritos anteriormente. ?Além disso, sobre o refluxo menstrual atuam outros fatores genéticos e ambientais que propiciam sua fixação e o conseqüente desenvolvimento da doença?, atesta Álvaro Ceschin.
O médico relaciona a dismenorréia – cólica menstrual intensa e progressiva, acompanhada ou não de alterações do ritmo intestinal (diarréia ou obstipação durante a menstruação) como os principais sintomas mencionados pelas mulheres em seu consultório. Outros sintomas citados seriam dores durante a relação sexual ou dispaneuria profunda, menstruação em volume excessivo e dificuldade para engravidar.
De acordo com o especialista, no exame físico ginecológico pode-se detectar nodulação no fundo da vagina durante o toque bi-manual, mas, segundo ele, esse achado é mais comum quando se tem endometriose de septo reto vaginal. ?No exame de sangue, a presença de CA 125 elevado pode sugerir a presença da doença, no entanto essa elevação ocorre nos casos mais avançados da doença?, descreve, salientando que a ultra-sonografia pélvica pode demonstrar um borramento dos órgãos pélvicos ou a presença de cisto espesso em ovário, denominado de endometrioma.
Primeiro tratar, depois engravidar
Ao suspeitar da doença, o médico deve indicar uma videolaparoscopia, micro cirurgia que não somente diagnostica a doença, como também consegue tratá-la pela possibilidade de se remover os focos de endometriose visualizados no procedimento. Outra informação importante é sobre o estadiamento da doença, ou seja, o quanto ela está afetando a pelve feminina. Esse comprometimento pode ser classificado em grau leve, moderado, severo, avançado ou, ainda, segundo a Academia Americana de Fertilidade, por graus I, II, III e IV. ?Essa classificação será importante para a definição do tipo e duração do tratamento medicamentoso?, frisa Ceschin.
Pela dificuldade de diagnóstico, trabalhos canadenses demonstraram que se leva de quatro a seis anos entre o inicio dos sintomas e o diagnóstico final, fato que pode ser extremamente danoso para as trompas e ovários, levando muitas mulheres a comprometer sua capacidade de engravidar. A postergação da gravidez tem sido comprovada como um dos fatores mais importantes no aumento dos casos de infertilidade entre as mulheres. Isso se deve tanto pelo aumento da incidência de endometriose quanto pelo próprio envelhecimento do óvulo.
O diagnóstico precoce é importante, não só para melhora qualidade de vida da mulher como também para evitar que a doença venha a atrapalhar o desejar engravidar. Em seu livro ?Filhos! Invista neste sonho?, publicado pela Editora Vida, Álvaro Ceschin relata uma série de depoimentos contando como os casais lidaram com suas dificuldades para engravidar. Ficou comprovado que um número expressivo deles foi de pacientes com endometriose. Em um deles, no capítulo sobre adoção, percebe-se claramente que o diagnóstico precoce evitou a necessitasse de tratamento especifico para uma mãe engravidar, já que ela engravidou espontaneamente quando a endometriose foi diagnosticada e tratada precocemente. Outras pacientes também acabaram engravidaram naturalmente após tratamentos cirúrgicos e medicamentosos. Em outros casos, mulheres acabaram engravidando novamente de forma natural após uma primeira gravidez obtida por fertilização in vitro, pois a própria gravidez funcionou como “tratamento” para a endometriose.
Principais sintomas da endometriose
– Fadiga.
– Cólica menstrual forte.
– Dor na relação sexual.
– Dores abdominais fora do período menstrual.
– Intestino preso ou diarréia, perto ou no período menstrual.
– Dificuldade para engravidar.
– Esterilidade.