Os fatores externos estão entre as principais causas de morte de mulheres em idade reprodutiva, constituindo-se na primeira entre mulheres de 15 a 35 anos. O mais comum é que as mortes em conseqüência de acidentes de trânsito ocupem o primeiro lugar nesse grupo de causas, seguidas pelos homicídios e suicídios. As constatações estão em um estudo realizado pelos ginecologistas e obstetras Marcelo Pontual Cardoso, da Universidade Estadual do Oeste do Estado do Paraná (Unioeste), e Aníbal Faúndes, da Universidade Estadual de Campinas, consultor permanente da Organização Mundial da Saúde, que incluiu todos os 869 óbitos declarados de mulheres de 10 a 49 anos de idade, residentes em Cascavel, ocorridos em um período de dez anos.
De acordo com artigo publicado na edição de outubro de 2006 dos Cadernos de Saúde Pública, o estudo teve por objetivo analisar as mortes por causas externas no município e, dentro desse grupo, avaliar as causas específicas de óbito mais freqüentes, incluindo a análise conforme grupos etários envolvidos nesses eventos. A pesquisa foi tabulada, considerando a importância crescente das causas externas de mortalidade no grupo de mulheres em idade reprodutiva.
Acidentes de trânsito
A equipe observou um total de 219 óbitos por causas externas, o que significou que uma em cada quatro mortes de mulheres em idade fértil no período estudado foi devido a esses fatores, resultando em um coeficiente de mortalidade de 29,4 em cada 100 mil mulheres em idade fértil, o mais alto entre todos os grupos de causas básicas de óbito no município. Menos da metade dos óbitos ocorreu em ambiente hospitalar, enquanto que 20,3% ocorreram no domicílio e mais de um quarto na via pública. Além disso, mais da metade das mortes por causas externas foram ocasionadas por acidentes de trânsito e quase um terço por homicídios e suicídios em proporções quase iguais. O restante foi causado por outros acidentes e causas variadas. Segundo os pesquisadores, "os resultados mostram que Cascavel não escapa de elevado obituário por causas violentas, sobretudo acidentes, o que pode ser atribuído à transição epidemiológica para a violência, que é mais descrita como ocorrendo nos grandes centros urbanos".
Dessa forma, a mortalidade feminina no município, de acordo com os pesquisadores, poderia ser bem menor se medidas para controlar tais causas fossem adotadas. "Os resultados do estudo sugerem a necessidade de estender esse tipo de pesquisa a cidades menores e ao meio rural para ter um panorama mais completo da mortalidade feminina em idade fértil, que vem sendo estudada apenas nas grandes cidades do país?, sugerem os autores do artigo. Além disso, mostra que seria recomendável o monitoramento permanente da evolução da mortalidade feminina no município para verificar o resultado de eventuais medidas já tomadas, ou ainda, a maior necessidade de ações específicas para minimizar tais perdas.