Efeito do crack sobre os viciados é devastador

Uma das principais lideranças da psiquiatria do país faz críticas ao atendimento oferecido na rede pública aos usuários de crack.

Para o 3.º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Emmanuel Fortes, a estratégia política de controle de drogas no país dificulta o tratamento dos dependentes. “Precisamos de uma política pública ampla. Antes a pandemia era cola de sapateiro, agora foi substituído pelo crack, que tem um efeito devastador”, alerta.

Segundo especialistas em psiquiatria, no Brasil, a escalada desse tipo de droga se agrava com a política de fechamento de leitos psiquiátricos. A rede pública não tem capacidade de absorver toda a demanda criada. O país conta com apenas 1.800 leitos psiquiátricos em hospital geral. Por outro lado, há uma estimativa de 1,2 milhões de usuários de crack no país.

De acordo com o conselheiro, que também é coordenador da Câmara Técnica de Psiquiatria do CFM e representante da entidade no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), a nova política de saúde mental desvaloriza o papel do médico na assistência.

Ele explica que a política foge aos padrões médicos de controle. “O país precisa ter uma rede ambulatorial eficiente que faça a triagem correta, encaminhando as pessoas para diversas estruturas, inclusive hospitais psiquiátricos, quando o caso”, ressalta.

Padrão de qualidade

O especialista questiona, salientando que é o médico quem diagnostica, passa remédio e trata as crises de abstinência. “Como tirar uma dependência sem esta estrutura?”.

O psiquiatra ainda ressalta que o modelo atual não cria nenhum instrumento de contenção imperativo para que as pessoas que não querem se tratar tenham seu tratamento involuntário determinado. “Muitas pessoas necessitam a internação integral, involuntário e em hospital especializado”, garante.

A reforma psiquiátrica definida pelo Ministério da Saúde eliminou gradualmente os hospitais psiquiátricos e implementou uma rede substitutiva – com a criação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), de residências terapêuticas, e mesmo contratando leitos psiquiátricos em hospitais gerais estes não são capazes de substituir o leito psiquiátrico especializado.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os CAPS são incapazes, por sua natureza, deixam de atender a todas as necessidades dos doentes. Elas não foram projetadas, em estrutura e recursos humanos, para cuidar de todas as manifestações dos transtornos mentais.

“Por isso, um leito no CAPS não substitui outro em hospital geral ou mesmo em hospital especializado, desde que este funcione dentro dos padrões de qualidade”, afirmou uma nota oficial da entidade.

Epidemia de crack

O consumo de crack, droga extremamente destrutiva e que provoca efeito devastador no organismo do usuário, já se tornou uma epidemia em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, onde o número de dependentes cresceu cerca de 80% nos últimos 12 meses.

O aumento no consumo está preocupando os dirigentes da Federação Nacional dos Médicos. No Rio de Janeiro, uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Universidade Estadual (UERJ) com 200 dependentes de cocaína e crack, apontou que hoje o número de usuários em tratamento é maior do que o número de viciados em cocaína. De acordo com o estudo, o crack atualmente é a droga mais usada por jovens de até 21 anos.

Desde o ano passado, entidades cobram das autoridades de saúde medidas urgentes para atacar a epidemia, entre elas, o aumento no número de leitos psiquiátricos para tratamento dos viciados na droga e a criação de uma política de atenção à saúde específica para esse tipo de epidemia.

“O crack é uma droga extremamente destrutiva, com efeito devastador”, reconhece Mario Fernando Lins, da Fenam. Temos de combater essa verdadeira epidemia, com o engajamento não apenas dos médicos, mas de toda a população, disse ele, acrescentando que o govern,o precisa implantar, com urgência, uma política de prevenção e tratamento para os dependentes do crack, que é oito vezes mais potente que a cocaína.

Efeitos imediatos

* Hipertensão, dor no peito
* Comportamento violento
* Perda do interesse sexual
* Irritabilidade
* Tremores, convulsão
* Falta de apetite
* Paranóia, alucinações e delírios
* Psicose cocaínica

Fundo de quintal

* O crack surgiu oficialmente no Brasil em 1989.
* A droga atraiu pequenos traficantes e gerou aumento incontrolável de produções caseiras, com diferenças conforme a região.
* Na produção de crack não há o processo de purificação final. A cocaína em pó (cloridrato de cocaína) é dissolvida na água e misturada com bicarbonato de sódio.
* No preparo das pedras também podem ser misturadas diversas substâncias tóxicas como gasolina, querosene e água de bateria.
* Após aquecido e seco, o composto adquire a forma de pedras que são quebradas e fumadas de diversas maneiras e em diferentes recipientes, como tubos de PVC ou latas de alumínio. Pode ser também enrolada no cigarro de tabaco ou misturada na maconha.

Fonte: Cebrid/Unifesp

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