O custo estimado do tratamento de um paciente com doença de Alzheimer moderada é de US$ 30 mil por ano. Com base nesse dado e no fato de que existem apenas quatro medicamentos comerciais aprovados para o combate a esse mal, cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara (SP), e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), resolveram estudar o uso de produtos naturais para desenvolver candidatos a fármacos para o tratamento da doença.
“A idéia foi estudar a utilização etno-farmacológica de plantas brasileiras populares que possuem alguma identificação com o sistema nervoso central”, explica Carlos Alberto Manssour Fraga, do Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (Lassbio), da UFRJ.
De acordo com os pesquisadores, o mal (ou doença) de Alzheimer é uma desordem neurodegenerativa, de grande impacto sócioeconômico, responsável por cerca de 60% do número total de casos de demência em pessoas com mais de 65 anos. O problema atinge mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo.
Os resultados da pesquisa, entitulada “Produtos naturais como candidatos a fármacos úteis no tratamento do mal de Alzheimer”, foram publicados na edição de julho da revista Química Nova. O estudo identificou 58 extratos, de 30 espécies de diversos gêneros vegetais, que poderiam conter substâncias inibidoras da doença. A partir do trabalho de triagem, a Paullinia cupana (guaraná), a Amburana cearensis (cumaru) e a Lippia sidoides, foram algumas das espécies que demonstraram excelentes resultados.
A pesquisa gerou um produto derivado de uma planta do gênero Cassia spectabilis, encontrada na Mata Atlântica e no Cerrado, que já está em fase de produção em parceria com uma indústria farmacêutica. “Trata-se de um forte candidato a fármaco, com perfil exatamente igual, e em algumas situações até melhor, do que os medicamentos que existem no mercado”, afirma.
Segundo o pesquisador, o estudo evidencia a necessidade de conhecer melhor os produtos oriundos da biodiversidade brasileira. “A utilização de produtos naturais brasileiros como fontes de estruturas para o desenvolvimento de novos fármacos é extremamente viável”, garante Fraga.