Levantar, tomar um banho, sair para trabalhar, encontrar com amigos e colegas. Tarefas básicas do dia-a-dia que todos as realizam facilmente, menos as pessoas vítimas da depressão. Essa doença que atinge de 2% a 5% dos brasileiros tem como uma de suas conseqüências mais desagradáveis o isolamento social. ?O deprimido sente uma apatia generalizada, perde o interesse por quase tudo o que costumava lhe dar prazer?, comenta a psiquiatra Giuliana Cividanes. Assim, sair com os amigos ou conhecer novas pessoas, por exemplo, ?pode se tornar extremamente angustiante?, completa.
Essa apatia pode levar o paciente a ter uma impressão cada vez mais negativa de sua vida e de sua realidade. A chamada anedonia (perda de prazer em geral) e a perda de energia levam o indivíduo a crer que não irá se libertar desse mal-estar e, em última instância, só lhe restará o completo isolamento. A fadiga crônica e a falta de energia para realizar das tarefas mais simples às mais complexas afetam diretamente o convívio social. ?Se uma pessoa com depressão sente-se cansada até mesmo para tomar um banho, como irá pensar em sair para uma happy hour ou se reunir com os amigos??, questiona a médica, salientando que essas atividades sociais demandam esforço e energia para esse tipo de paciente.
Remédio certo na dose errada
O paciente com depressão freqüentemente queixa-se da tríade passado-presente-futuro: o passado foi um desastre, o presente é sem sentido e o futuro, invariavelmente, não existe. Com esses sentimentos, morrem as esperanças, e não há futuro sem esperança. Com efeito, a idéia de suicídio está sempre instigando o doente. Segundo o psiquiatra Marcus Weber, por esse motivo é fundamental o diagnóstico precoce e um tratamento multidisciplinar, com a associação de diversas condutas, fazendo com que o paciente resgate um mínimo de convívio social, um dos alicerces para a manutenção do equilíbrio mental. O médico recomenda, entre outras atitudes, que o paciente faça caminhadas diárias. ?Caminhar libera substâncias que estimulam as funções do cérebro, por conseqüência, ajudam no tratamento?, frisa.
Para o médico, o primeiro passo em direção à cura é admitir a doença e, a partir daí, buscar um tratamento adequado. Segundo Weber, ainda existe muito preconceito e desconhecimento em relação aos diversos tipos de depressão. ?Por isso, o diagnóstico correto pode demorar um certo tempo?, atesta. Conforme o psiquiatra, isso se deve a dificuldade de se isolar o tipo específico do distúrbio para depois indicar o tratamento adequado. O psiquiatra adianta que nem sempre os médicos estão preparados para reconhecer e tratar a depressão; por isso, muitos pacientes são tratados sub-clinicamente, além disso, algumas vezes são receitados os remédios certos, mas em doses erradas, fato que, segundo Weber, compromete sobremaneira a recuperação do paciente.
Depressão e disfunção sexual: uma combinação perigosa
Outra conseqüência da doença, também muito comum, é a diminuição do interesse sexual. A perda da libido, por exemplo, atinge 52% das mulheres com depressão. O pior é que muitos antidepressivos agravam o problema, o que faz com que muitas pacientes abandonem o tratamento, podendo intensificar o quadro depressivo. Depressão e disfunção sexual acabam formando, portanto, um perigoso círculo vicioso. A psiquiatra Carmita Helena Najjar Abdo explica que o ciclo sexual feminino é mais suscetível a mudanças que o masculino. Os homens, geralmente, obedecem a uma seqüência mais simples, caracterizada por desejo-excitação-orgasmo. ?Nas mulheres, essa fórmula não vale em todos os casos?, afirma a médica.
Muitas mulheres com depressão abandonam o tratamento para atender à expectativa sexual do parceiro, o que resulta, geralmente, no retorno da doença. ?Na prática, o que se observa é a depressão levando à disfunção sexual e esta, por sua vez, retroalimentando a depressão?, comprova Carmita Abdo. Por esta razão, segundo ela, tratar a depressão deve ser prioritário nesses casos e depois, sim, outros distúrbios concomitantes como a disfunção sexual ou o aumento de peso devem ser tratados. ?Muitas vezes, eles regridem em conseqüência do sucesso do tratamento da depressão?, completa a médica.
O que a família pode fazer para ajudar
? Apoiar durante o tratamento, proporcionando carinho, compreensão e paciência.
? Aceitá-lo e respeitá-lo na sua realidade, evitando procurar possíveis causas e meios imediatos de solucioná-las.
? Conscientizá-lo de que a cura da depressão não depende da sua própria vontade. Conselhos do tipo ?vá se distrair? ou ?você tem que se esforçar para melhorar? são ineficientes e, muitas vezes, prejudiciais.
? Auxiliando a cumprir as recomendações do médico.