É difícil encontrar o limite entre a hiperatividade e o déficit de atenção

Quando ainda era bebê ele ficava inquieto no ?cercadinho?, rolando de um lado para outro.  Aos sete ou oito anos, em idade escolar, não parava na carteira nem se organizava para fazer as lições. Invariavelmente, é assim que começa o relato de uma mãe que procura o apoio de um especialista para diagnosticar em seu filho o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Esses tipos de comportamento, muitas vezes confundidos com indisciplina, é a principal característica deste mal que atinge cerca de 3% das crianças em idade escolar. De acordo com especialistas, o distúrbio é caracterizado pelo tripé: falta de concentração, impulsividade e inquietação.

É justamente na idade escolar que o transtorno fica mais aparente, pois se todas as demais crianças conseguem se manter atentas ao que o professor fala e ela não, a suspeita se torna mais evidente. ?Isso atrapalha muito o rendimento, pouco a pouco ela vai sendo discriminada pelos colegas, pelos próprios professores, porque ele está sempre fazendo bagunça?, comenta o psiquiatra Paulo Matos, presidente da Associação Brasileira de Déficit de Atenção. Assim, continua o médico, pouco a pouco a criança passa a ter uma piora na auto-estima e o abandono escolar se torna muito comum. O presidente alerta para um problema recente que está ficando bastante evidente para todos que trabalham com TDAH: o aumento da prevalência de uso de drogas e álcool quando essas crianças se tornam adolescentes.

Com a ajuda do professor

Geralmente, esse distúrbio pode ser diagnosticado utilizando-se o histórico da criança. A biografia deles é quase sempre parecida: se mexem muito durante o sono, são estabanados quando começam a andar, apresentam retardos na fala e vivem trocando as sílabas das palavras. Por isso, o psiquiatra gaúcho Luiz Augusto Rodhe esclarece que a observação de pais e professores é fundamental para diagnosticar a doença. ?Muitas vezes, esses sintomas passam despercebidos em casa, mas na escola eles se tornam mais evidentes?, reconhece.

O TDAH ainda não tem uma causa única comprovada. Sabe-se que o fator mais importante é a hereditariedade, uma vez que é comum encontrar várias pessoas acometidas numa mesma família. Rodhe salienta, no entanto, que é preciso distinguir com precisão a criança que busca apenas chamar a atenção daquelas com o distúrbio. Para determinar a incidência do transtorno é necessário um acompanhamento constante por um período de, no mínimo, seis meses. ?Nesse período devem estar presentes, associadamente, sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade?, orienta o médico.

O neuropediatra do Hospital de Clínicas, Sérgio Antoniuk, explica que, embora prejudique a capacidade de atenção e concentração, esses transtornos são facilmente tratáveis. ?Os casos mais leves podem ser tratados com terapia e orientação pedagógica, os mais severos são tratados com medicamentos?, explica. O médico salienta, ainda, que o prazo médio de duração do tratamento é em torno de dois anos.

Na escola, os alunos hiperativos precisam de um tratamento diferenciado. Ele não pode estudar num ambiente com muitos apelos visuais para que não se distraia facilmente e a orientação da escola deve colocá-lo junto de alunos menos agitados. No entender de Antoniuk, um dos obstáculos para o tratamento de crianças com TDAH é a resistência dos pais. ?Eles custam a admitir que o filho é hiperativo?, completa o médico.

As características comuns do TDAH

SINTOMAS DA DESATENÇÃO

– Não presta atenção aos detalhes.

– Apresenta dificuldades em manter a atenção em tarefas ou jogos.

– Não segue instruções e não termina deveres escolares ou tarefas rotineiras.

– Apresenta dificuldades em organizar tarefas e atividades.

– Distrai-se com estímulos externos.

– Esquece as atividades diárias.

SINTOMAS DA HIPERATIVIDADE

– Inquietação das mãos ou dos pés.

– Não consegue permanecer sentado por muito tempo.

– Corre ou pula excessivamente em situações inapropriadas.

– É barulhento nos jogos ou atividades de lazer.

– Está sempre a ?mil por hora?.

– Fala em excesso.

SINTOMAS DA IMPULSIVIDADE

– Responde à perguntas antes de elas terem sido terminadas.

– Tem dificuldades em aguardar a sua vez.

– Interrompe ou se intromete em assuntos alheios.

Fonte: Associação Americana de Psiquiatria

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo