O primeiro sinal pode vir de uma súbita falta de ar quando se sobe as escadas rapidamente ou da simples falta de fôlego em caminhadas matinais.

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Mesmo os fumantes de longo tempo, demoram a reconhecer que algo está errado no seu organismo, acreditando, muitas vezes, que esses desconfortos são originados pelo sedentarismo ou carências naturais da idade.

Na verdade, tais sintomas podem se referir a uma doença grave e incapacitante: a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a quarta maior causa de morte no mundo. Muitas delas evitáveis, já que seu causador mais importante é o cigarro.

A DPOC é responsável pela morte de 37 mil brasileiros por ano e pode demorar até 20 anos para ser detectada. É o que mostra a pesquisa Revelar, que traça o perfil dos seus portadores, realizada em diversas capitais brasileiras.

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O estudo ouviu mais de 200 pessoas com diagnóstico confirmado da doença. O levantamento também revela que muitos pacientes nem sabiam que a doença existia, antes de descobrir serem seus portadores e, prováveis, vítimas.

Após os 50 anos

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A conclusão serviu para que a classe médica se mobilizasse a fim de disseminar o conhecimento sobre a doença, suas formas de prevenção, diagnóstico e tratamento.

No Brasil, a DPOC responde por cerca de 300 mil internações por ano, o que gera um gasto aproximado de R$ 100 milhões para o Sistema único de Saúde (SUS). Segundo o pneumologista José Roberto Jardim, a doença, na maioria dos casos, surge após os 50 anos de idade, resultado de anos e anos de consumo inconsequente.

Segundo o especialista, além do tabagismo, a doença pode afetar pessoas expostas a ambientes poluídos por gases tóxicos ou produtos químicos, como ocorre com trabalhadores de indústrias químicas e de vidro, por exemplo.

A conclusão em relação à detecção tardia da doença foi feita após a investigação de pacientes que tiveram o diagnóstico aos 57 anos de idade, em média.

Segundo o Jardim, principal especialista envolvido no estudo, a DPOC costuma se manifestar, em geral, a partir dos 40 anos.

“Sabendo disso e observando os números da pesquisa dá para calcular o tempo que muitas pessoas levam para detectar a doença”, esclarece.

Para o pneumologista, é preciso reverter esse quadro, uma vez que o diagnóstico precoce é extremamente relevante para o sucesso do tratamento, sobretudo porque quanto mais avançado o estágio da doença, mais dependente e deprimido fica o paciente.

Falta de informação

A pesquisa Revelar aponta ainda que 70% dos entrevistados desconheciam a doença antes de terem o diagnóstico. Dos 30% restantes, 14% tinham casos do distúrbio na família.

Normalmente, o fumante acha que tosse, pigarro e falta de ar são manifestações comuns do tabagismo. Segundo o especialista, outro problema comum é a falta de informação pela própria classe médica e dos pronto-socorristas, que, muitas vezes, por não terem conhecimento dos sinais e sintomas do DPOC, chegam a confundi-la com outras doenças, pedem diversos exames ineficazes, que não são capazes de diagnosticá-la.

Diante da dificuldade no reconhecimento da DPOC, um programa mundial que atua com o objetivo de padronizar e orientar o diagnóstico e o tratamento da doença, desenvolveu um questionário com cinco perguntas que podem auxiliar no diagnóstico.

Assim, saber se o paciente tem mais de 40 anos; é fumante ou ex-fumante; apresenta tosse diária e constante; apresenta catarro pulmonar ou muco, na maioria dos dias; ou sente mais falta de ar que as pessoas da mesma idade, possibilita a confirmação do diagnóstico.

“Se o paciente responder sim às duas primeiras questões e a, pelo menos, uma das três últimas, deve procurar um especialista para que a DPOC seja ou não confirmada”, explica José Roberto Jardim.

Qualidade de vida

Apesar de as perguntas esclarecerem e ajudarem na descoberta do diagnóstico, ele só pode ser confirmado, após a espirometria – exame que mede a função pulmonar.

A pesquisa também concluiu que 73% dos pacientes obtiveram o diagnóstico por meio do pneumologista -profissional já familiarizado com as nuances da doença. Cerca de 40% dos entrevistados disseram que sentem dificuldade em realizar alguma atividade rotineira e 14% que perderam a independência, já que dependem da família para fazer atividades simples do dia a dia, como trocar de roupa ou tomar banho.

Conclui-se que são pessoas que fumaram na época em que o hábito não só era estimulado pela mídia, como também não existiam programas e leis rígidas do governo que coibissem o fumo ou a apologia criada em torno do cigarro.

Roberto Pirajá Moritz de Araújo, da Sociedade Paranaense de Tisiologia e Doenças Torácicas, explica que a DPOC engloba outras duas doenças: a bronquite crônica, uma inflamação nos brônquios caracterizada pela presença de tosse e catarro por pelo menos dois anos, e o enfisema pulmonar, uma doença que destrói as paredes dos alvéolos e dos brônquios.

“Na DPOC, as duas sempre estão juntas, mas pode haver predominância de uma ou de outra”, explica o pneumologista. Conforme os especialistas, a primeira iniciativa para tratar a doença é a suspensão imediata do consumo de cigarros.

O tratamento medicamentoso inclui o uso de broncodilatadores e, nos casos mais graves, a oxigenoterapia, um tratamento que comprovadamente reduz a progressão da doença, melhorando a qualidade de vida do paciente.

Incapacitados

Dos 94% que disseram que a vida mudou depois de descobrirem a doença, 81% dizem que têm falta de ar, quando caminham mais rápido em lugar plano ou em ladeira; 77% sentem dificuldade para carregar peso; 64% andam mais devagar que pessoas de sua idade devido à falta de ar; 56% não conseguem trabalhar; 55% têm falta de ar somente com exercícios intensos; 55% dos entrevistados não praticam exercícios físicos; 90% têm atividades de lazer somente em casa.

O cigarro como companheiro

Dos pacientes consultados na pesquisa, 99% eram fumantes, em média, há 37 anos; apenas 9% não deixaram o vício após saberem que eram portadores da doença.

Fumam, aproximadamente, 11 cigarros por dia; desses 9%, 91% já tentaram parar de fumar, principalmente devido à falta de ar (55%); 1/3 dos respondentes fumam há mais de 40 anos; 87% dos que pararam de fumar nunca procuraram um médico para acabar com o vício.

Fonte: Revelar

A pesquisa

Conduzida pela Ipsos, a pesquisa foi realizada pelos laboratórios Boehringer Ingelheim e Pfizer, e contou com a participação de 229 pacientes indicados por centros de referência no tratamento da doença.

O estudo foi feito com o objetivo de conhecer o perfil e as necessidades do portador de DPOC e entender qual é o grau de conhecimento dos pacientes sobre a doença.

“A pesquisa traz dados importantes para conscientizar a população de que existe uma doença, ainda desconhecida, que mata milhares de brasileiros, mas que poderia ser prevenida, já que mais de 90% dos casos é resultado do cigarro”, completa José Roberto Jardim, coordenador do estudo.