A história se repete: ainda adolescentes começam a fumar por “brincadeira” ou para não se sentir rejeitado pela turma.
Com tempo, acabam se tornando reféns do vício. O motorista C. B. R. conta que começou a “gostar” do cheiro do cigarro ao acender várias vezes ao dia o cigarro do seu tio.
Daí para acender o próprio foi um passo. “Isso faz dez anos”, lembra. A dona de casa H. W. S., fumante há 25 anos, conta que, hoje, sente vergonha ao acender o cigarro. Fuma no quintal da casa. “Escondida de mim mesmo”, declara.
A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que um em cada cinco homens e de uma em cada dez mulheres morre em consequência de doenças ligadas ao tabagismo.
“Apesar das inúmeras campanhas de prevenção e de controle do tabagismo, a incidência dessas doenças perfeitamente evitáveis permanece elevada”, reconhece Selmo Minucelli, oncologista do Curitiba Santa Casa / DASA.
Entre as doenças que mais acometem fumantes e ex-fumantes, com mais de 40 anos, está a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), uma manifestação conjunta da bronquite e do enfisema pulmonar.
A doença é prevenível e tratável, no entanto, uma vez instalada, e se persistir o hábito do fumo, tende a progredir lentamente, podendo culminar na insuficiência respiratória. A DPOC requer acompanhamento especializado constante para controlar os sintomas, melhorar a falta de ar e diminuir as exacerbações (crises).
Uma pesquisa que acaba de ser realizada em São Paulo, mostra que o tratamento adequado também faz bem para o bolso do paciente e para os cofres públicos, além de impactar positivamente na qualidade de vida do portador da doença.
Redução de gastos
O objetivo da pesquisa foi comparar o custo do tratamento com o custo das internações hospitalares – inclusive em UTI -, decorrentes da DPOC não tratada adequadamente.
Após a introdução de um broncodilatador de longa duração no tratamento dos pacientes, foi observada uma redução das idas ao pronto socorro. Já as internações reduziram pela metade.
A evolução foi observada ao longo de um ano, por meio de visitas mensais, uso de medicação adequada, reabilitação pulmonar e interrupção do tabagismo.
“O estudo confirmou o que a experiência clínica diária já demonstrava: que os pacientes com DPOC bem cuidados e acompanhados não se internam com tanta freqüência, apresentam menor número de crises e, consequentemente, menores gastos”, explica a pneumologista Iara Nely Fiks, coordenadora da pesquisa.
Para ela, os serviços de saúde, tanto público quanto privado, deveriam direcionar os recursos para o tratamento clínico da doença, o que reduziria os gastos com internações e hospitalizações, sempre bem onerosos.
Somente em 2008 foram realizadas mais de 128 mil internações por DPOC na rede pública, a um custo de R$ 76 milhões, de acordo com o Datasus.
Qualidade de vida
Do grupo que participou da pesquisa, a maioria é aposentada. Além disso, devido à idade e ao próprio histórico de tabagismo, é comum sofrerem de outras doenças, como diabetes e hipertensão arterial, o que demanda o uso de outros medicamentos. “Tudo o que puder ser feito para aliviar o bolso desses pacientes é bem-vindo”, afirma a médica.
“É muito gratificante ver um paciente que havia se aposentado por causa da doença poder voltar a trabalhar”, comemora a pneumologista. O tratamento correto e regular devolv,e a autonomia do paciente que passa a não ficar tão dependente da família e pode até assumir novas tarefas, recuperando sua autoestima e dignidade.
A DOPC
Entre os principais sintomas da DPOC estão a tosse com produção de catarro, falta de ar e dificuldade de fazer exercícios. Depressão e ansiedade também são comuns.
Apesar de pouco conhecida, a DPOC já é a quinta maior causa de morte no Brasil, com 37 mil óbitos por ano, o equivalente a mais de quatro brasileiros a cada hora.
A dificuldade de respirar é uma das frequentes queixas dos pacientes, pois dificulta a realização de atividades cotidianas, como trocar de roupa e, até, tomar banho.
Prevenção e tratamento
A melhor maneira de prevenir a DPOC é não fumar. Para os fumantes e ex-fumantes, a orientação é procurar um pneumologista para a realização de exames periódicos.
A doença não tem cura, mas pode ser controlada com medicamentos específicos, como o brometo de tiotrópio, utilizado na pesquisa. O tratamento traz benefícios, em longo prazo, para o paciente, pois trata a doença de maneira global, diminuindo, significativamente, o número de crises e de internações, melhorando a qualidade de vida, aumentando a resistência a exercícios e reduzindo a mortalidade.
O tratamento medicamentoso em questão é recomendado pelos Consensos Internacional e Brasileiro de DPOC, como terapia essencial para o tratamento e está disponível em parte da rede pública de saúde.