Exagerar na quantidade de peso ao carregar as indefectíveis sacolinhas de supermercado, extrapolar nas horas passadas em frente do computador, com o corpo congelado nas mais esdrúxulas posições ou acordar com dores por todo o corpo depois de passar a noite toda na balada. Praticamente todas as pessoas já passaram por essas sensações de dor e desconforto. Nada que um bom banho, algumas horas de sono a mais ou mesmo um simples analgésico não dê jeito. Porém, quando esse desconforto não passa e a dor se mostra constante, é sinal de que algo está errado e que, provavelmente, um especialista deva ser consultado para diagnosticar a causa do problema.
Quando um paciente chega ao consultório médico reclamando de dores em várias partes do corpo, dizendo não agüentar mais tanto sofrimento, ele pode estar acometido de uma doença invisível, mas que causa transtornos muitas vezes incapacitantes: a fibromialgia. ?Se você não tem dor, não tem fibromialgia?, considera Eduardo Paiva, da clínica médica do Hospital de Clínicas da UFPR. O especialista define essa síndrome dolorosa crônica como uma ?dor no corpo todo, gerada pelo próprio sistema nervoso central, medula e nervos?. Paiva explica que, além da dor, a doença se caracteriza por fadiga, alteração do sono, intolerância ao exercício e, nos casos mais graves, depressão. Esse acúmulo de sintomas e sinais justifica a existência de uma síndrome fibromiálgica.
Diagnóstico demorado
Devido ao desconhecimento das causas que provocam o distúrbio, a inexistência de sintomas visíveis e o difícil diagnóstico, os doentes são freqüentemente desacreditados. ?Até mesmo muitos médicos não reconhecem a doença prontamente?, adverte Eduardo Paiva. Por isso, consultar vários clínicos até encontrar alguém que se mostre sensível à doença é uma prática freqüente entre os fibromiálgicos.
Acredita-se que cerca de 3% da população mundial tenha o problema, que é mais freqüente em mulheres, representando mais ou menos 80% dos casos. Embora ela não traga seqüelas como deformidades físicas, a síndrome pode prejudicar seriamente a qualidade de vida de quem a desenvolve. Silvia, por exemplo, tem 29 anos e há quatro anos teve o diagnóstico de fibromialgia. Como pretendia engravidar tomou medicamentos mais leves durante a gestação e a amamentação. Agora voltou ao reumatologista para que ele prescreva medicamentos ?mais fortes?, pois as dores estão insuportáveis. Ela voltou a trabalhar e fica em frente ao computador o dia todo, o que só piora a dor. ?Não consigo nem caminhar direito, mas tenho esperança que vou passar por essa provação?, crê.
A reumatologista Evelin Goldenberg explica que, além da dor que não passa, a maioria dos pacientes se queixa de fadiga, dor de cabeça, distúrbios do sono, sensação de formigamento nos pés e nas mãos, prisão de ventre ou diarréia, palpitação, boca e olhos secos e até perda de memória. ?Não é de se estranhar que a fibromialgia também abale profundamente o lado emocional do paciente?, considera.
Distúrbios emocionais
A exata causa da doença ainda é desconhecida. A dor pode ser contínua ou se agravar em certos períodos, principalmente à noite. Pontos dolorosos na região da nuca, na musculatura próxima aos ombros, na junção da costela com o esterno, em áreas do cotovelo, junto à musculatura da nádega, nas inserções do fêmur e joelhos. Esses seriam os chamados pontos da dor e que se tornam mais dolorosos com a pressão dos dedos.
A especialista alerta, ainda, que a sensação de fadiga crônica pode ser confundida com os distúrbios que acompanham os quadros depressivos, já que o portador de fibromialgia desperta pela manhã com sinais de cansaço, muitas vezes, querendo ficar mais tempo na cama, não estando preparado para enfrentar com desenvoltura suas atividades diárias. Para a bancária Adriana Mello, a doença é a responsável pelos piores anos de sua vida. Afastada do emprego, tem sofrido dores insuportáveis, além de ter perdido parte dos movimentos da mão. ?Já tive diversas crises nervosas e fiquei duas semanas sem sair da cama?, comenta, resignada.
É nessa situação que se encontram muitas das vítimas da fibromialgia que, desacreditados ou confundidos com hipocondríacos, acabam, muitas vezes, vítimas de transtornos emocionais. ?A resposta terapêutica é boa desde que o tratamento seja adequado, principalmente no seu tempo de resolução?, ressalta Evelin Goldenberg.
Nos casos mais graves, a terapia pode exigir a intervenção de uma equipe multidisciplinar, entre eles, massagistas, especialistas em RPG e médicos acupunturistas. ?Às vezes, basta corrigir o fator que desencadeou o processo para que o equilíbrio seja retomado?, completa a reumatologista.
Difícil convivência
* Dores pelo corpo todo
* Fadiga
* Distúrbios do sono
* Indisposição
* Imobilidade
* Falta de concentração
* Nas mulheres, alterações no ciclo menstrual
* Depressão
* Ansiedade
Pode fazer parte do tratamento
* Analgésicos
* Antiinflamatórios
* Antidepressivos
* Atividade física monitorada
* Acupuntura
* Reeducação Postural Global (RPG)
* Método Pilates