A criança vai para cama sem qualquer desconforto aparente. No meio da noite acorda, reclamando de dores nas pernas que, também, não apresentam lesões nem machucados aparentes.
Muitos pais não sabem lidar com esse transtorno, apesar da cena se tornar frequente, especialmente dos 5 aos 12 anos de idade da criança. A explicação para esse fato provavelmente seja uma só: a dor do crescimento.
Pouco conhecida pela população em geral e polêmica entre os especialistas, esse tipo de dor é absolutamente real. Pais que tem filhos com o problema sabem disso e, muitas vezes, desconhecem como amenizar o sofrimento das crianças.
O chefe do Centro de Ortopedia da Criança e do Adolescente do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, Pedro Henrique Mendes, diz que as dores aparecem naquela faixa etária, e apesar de cessarem depois disso, é importante fazer uma avaliação médica para a definição do diagnóstico, descartando outras doenças com sintomas similares às dores do crescimento.
No entanto, para a reumatologista Shirley de Campos, não há comprovação científica de que o crescimento cause dores. Além do mais, na faixa etária que vai até os 12 anos de idade não há um “estirão”. O crescimento é lento e gradual. Assim, os médicos descartam que o processo de crescimento cause dores na infância.
Sem marcas
A médica comenta que a possibilidade mais aceita que relacionaria essa disfunção ao crescimento é a seguinte: as dores poderiam ser causadas por uma espécie de desequilíbrio momentâneo de ossos, tendões e músculos (que teriam se desenvolvido em ritmos diferentes, o que resultaria em desconfortos físicos).
As queixas de dores aparecem geralmente no final da tarde e durante a noite, sem uma causa determinada. Acomete, em geral, os ossos longos das pernas (na tíbia ou no fêmur).
Não causa vermelhidão nem marcas físicas. Se, no dia seguinte, a criança for levada a um pediatra, não haverá vestígio do problema, nem ósseo nem muscular.
“Os exames vão servir para identificar se a criança sofre de doenças reumatológicas, hematológicas e até mesmo endocrinológicas, que também podem causar dores nos membros”, esclarece o especialista.
Muitos médicos relacionam a dor noturna a uma possível fadiga muscular decorrente de atividades realizadas durante o dia. No entanto, não é motivo para que a garotada fique parada.
“Pelo contrário, as crianças devem ser estimuladas a brincar, correr, a praticar esportes, atividades normais da idade, necessárias para o desenvolvimento físico e psíquico delas”, ressalta Mendes.
Insegurança
Alguns dos estudos apontam que a dor do crescimento pode ser causada também por problemas emocionais. Quando a criança está vivendo momentos de estresse, ansiedade, tensão ou insegurança, ela pode transformar esses sentimentos em dores musculares.
Cabe aos pais ficarem atentos a tudo o que está se passando com a criança. “Entrar em seu mundinho com bastante respeito e transmitir a ela confiança e amor – ingredientes que ajudam os pequenos a superarem qualquer fase”, completa Shirley de Campos.
Justamente por não ter uma origem conhecida, as dores do crescimento, não apresentam “uma cura”. No entanto, é possível amenizar o quadro com a realização de compressas quentes, massagens locais e alongamentos bem orientados.
De acordo com o especialista, a intensidade da dor varia de paciente para paciente, e por isso, é fundamental saber como acalmar a criança para que não fique desanim,ada pela manhã.
Estímulos dolorosos
Todo processo de dor percorre um caminho no nosso organismo. Ela segue pelas terminações nervosas locais, passa pela medula espinhal e vai ao cérebro, que registra a sua intensidade, a sua localização e a sua característica.
“A dor pode indicar dano, doença ou perigo, por isso, devemos dar a devida atenção a esse mecanismo de alerta do nosso organismo”, afirma Lin Tchia Yeng, pesquisadora, especialista em medicina física.
Segundo a médica, de uma forma simplificada, há dois diferentes tipos de dor: a aguda (mais rápida) e a crônica (lenta). Ambas possuem um trajeto pelo sistema nervoso do local da dor até o cérebro.
Após o estímulo da dor, o neurônio afetado passa um pulso elétrico em direção à medula espinhal. O impulso passa por um orifício entre ossos e cartilagens da coluna, conhecido por forame, para alcançar a medula e daí segue a regiões do cérebro.
Em ambos os casos, os estímulos dolorosos da medula espinhal vão sensibilizar duas regiões distintas do cérebro: o mesencéfalo, responsável por localizar a dor; o tálamo relacionado à sensação da dor.
A velocidade da dor tem relação direta com os tipos de fibras nervosas. “Um dos aspectos interessantes nesse processo é a velocidade da transmissão dos impulsos responsáveis pela sensação da dor, que chega a mais de 400 km/h”, ressalta Lin Yeng.
Como as dores são identificadas
Duração – Quanto tempo o incômodo é sentindo
Intensidade – Forte, fraca, moderada
Extensão – Localizada ou generalizada
Apresentação – Queimação, uma “facada”, um latejamento
Agravantes e atenuantes – O que piora e o que melhora o quadro, os horários de maior e menor intensidade
Doenças preexistentes – Quais doenças o paciente tem ou teve
Medicamentos – Remédios em uso que podem trazer efeitos colaterais