Dor crônica é uma doença negligenciada

Tudo começa quando terminações nervosas existentes sob nossa pele e nos músculos recebem um estímulo nocivo.

Esse sinal é levado pelos nervos sensitivos até a medula, que se defende com uma resposta motora.

Para algumas pessoas, essa “mensagem” não traz nenhum tipo de desconforto, em outras podem causar muito sofrimento.

De qualquer maneira, em qualquer intensidade, a dor deve ter sua causa identificada e seus sintomas tratados.

Já a dor crônica é uma doença. A afirmação vem da médica especialista em distúrbios da dor, Beatriz Carneiro Lopes.

“O distúrbio que começa por ser um sintoma, quando obedece a um determinado número de critérios, com repercussões em vários sistemas do organismo, passa a ser uma síndrome”, reconhece.

Identificação e registro

A dor crônica quando não tratada traz importantes prejuízos à pessoa, tanto no quesito saúde quanto em termos de impacto sócio econômico. Seus reflexos podem ser sentidos na família, no trabalho e na sociedade.

“Tanto em termos humanos, como econômicos, é indiscutível a importância de se tratar o problema, já que se causa um prejuízo brutal para a sociedade, refletindo-se em baixa produção ou absentismo total em pessoa em plena idade ativa”, observa a especialista.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% da população do planeta sofre com dores crônicas. No Brasil, estima-se que mais de 40 milhões enfrentem o problema.

O neurogeriatra e especialista em dor, Luiz Carlos Benthien, diz que as entidades médicas mundiais reconhecem a importância de se registrar e mensurar a dor tanto aguda quanto crônica. Assim, recomendam que os pacientes, já na sua admissão para tratamento, sejam questionados sobre qual o grau da dor que estão sentindo.

Para o especialista, em outras etapas da evolução clínica do tratamento a mesma pergunta deve ser repetida. “O não-tratamento da dor pode ser considerado uma negligência médica, e todos os pacientes merecem respeito e esforço para que tenham a sua dor amenizada”, alerta o médico.

Dor psicológica

O clinico geral Luiz Carlos Souza Martins concorda com Benthien e considera que diminuir o sofrimento da dor é um imperativo ético e que todos os serviços devem ser colocados à disposição das pessoas para que o sofrimento não exista ou seja minimizado.

Um aspecto, que também merece atenção tem a ver com o diagnóstico. Como revela o clínico, mais de 60% das pessoas com dor crônica não conhecem a causa que originou essa dor.

Os médicos reconhecem que, pode estar nessa falta de sensibilidade em perceber o início dos sintomas, a explicação de que a dor física também tem um sentido psíquico.

Quem nunca ouviu algum comentário afirmando que um ou outro tipo de dor é psicológica. Para os especialistas, a dor é sempre subjetiva, pois é criada por alguns “receptores especializados” presentes em nosso organismo, que são traduzidos em uma resposta emocional a esse estímulo.

“Daí, passam a causar sofrimento, prejudicando a vida das pessoas, por isso devem ser efetivamente combatidas e sua recidiva evitada”, completa Beatriz Carneiro Lopes.

Só com receita

A divulgação de pesquisas dando conta sobre o risco de problemas cardiovasculares ligados ao uso de antiinflamatórios deixou a classe médica e, principalmente, os pacientes em alerta.

Hoje, os médicos, tendo conhecimento mais profundo dos efeitos colaterais, prescrevem tais medicamentos com mais cautela e segurança. “Para quem necessita realmente, desde que não possua histórico de doenças renais, gástricas ou cardiovasculares”, comenta o cardiologista Leopoldo Piegas.

A reumatologista Sonia Maria de Santi foca a necessidade de se individualizar o tratamento da dor. “Uma das opções é prescrever menores doses de an,tiinflamatórios, prolongando o tempo de duração do processo terapêutico, a fim de minimizar as conseqüências ao organismo”, assegurou.

Para o clínico Abrão Cury, a maior preocupação passa a ser com a automedicação, segundo ele, uma verdadeira mania nacional. “Só um médico é capacitado para decidir pela tomada do remédio, por quanto tempo e qual a dose necessária”, enfatiza.

A médica Beatriz Carneiro Lopes sublinha a importância dos opióides. “Os critérios sobre a utilização dos opióides instituídos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) são reconhecidos internacionalmente e têm um papel significativo, uma vez que é necessário tratar a dor até que esta responda às terapêuticas”, enfatiza a especialista, acrescentando que se os critérios seguirem determinadas regras e se forem bem utilizados, deve-se prescrever este tipo de fármacos.

Atualmente, existem novas apresentações no mercado, que têm dado boa resposta, com maior comodidade e segurança para o paciente, ao mesmo tempo em que permitem controlar eficazmente a dor.

Hábitos simples podem afastar a dor

* Faça alongamento diariamente
* Não permaneça por muito tempo na mesma posição
* Durma de lado, em posição fetal, para não forçar a região lombar
* No escritório, de tempos em tempos, levante e ande. Se permanecer muito tempo em pé, procure um cirurgião vascular
* Trate sempre a dor aguda para que ela não vire crônica
* Fuja da automedicação
* Se sentir dor, mesmo em repouso, procure um médico, pode ser sinal de doença mais séria

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