Após um traumatismo, infecção ou outro fator, as terminações nervosas existentes no local afetado conduzem um estímulo por nervos (como se fossem fios telefônicos) até a medula espinhal. Deste local, essa mensagem é levada às diferentes regiões do cérebro, onde é percebido como dor e transformado em respostas a este estímulo inicial. O mecanismo aqui descrito tem sua atividade regulada por um conjunto de substâncias produzidas no sistema nervoso, que se constitui no chamado sistema modulador de dor. Algumas dessas substâncias, como a serotonina e as endorfinas, agem sobre o sistema de transmissão da dor, aumentando ou diminuindo a sensação dolorosa.
Cada pessoa tem a sua maneira peculiar de sentir a dor, assim, três pessoas, por exemplo, submetidas a certo desconforto que pode causar dor, poderão ter uma percepção diferente do fenômeno. Uma pode não sentir dor nenhuma, outra sofrer intensamente, e uma terceira um sinal leve. A percepção da dor é assim mesmo. A pessoa sente uma dorzinha em algum lugar do corpo. Imediatamente, desconfia de uma lesão e não encontra nada. Nem sabe dizer o local exato em que ela está mais forte.
Sinal vital
Quem já não passou por uma situação dessas? Cerca de um terço da população apresentará algum tipo de dor crônica durante a vida. À medida que vivemos mais, cresce o número de pessoas com dores na coluna, articulações, doenças reumáticas, câncer, degenerações ou inflamações nos órgãos internos e outros problemas que podem provocar dores crônicas.
São tantos os pacientes que se queixam de dores, que elas passaram a ser o quinto sinal vital mais importante a ser pesquisado por médicos. ?Como a dor é subjetiva e pessoal, e não é necessário haver uma lesão para a sua existência, cada paciente vai se expressar de uma forma diferente?, reconhece Pedro Paulo Tanaka, da Sociedade Paranaense de Anestesiologia.
Ou seja, a dor não é apenas um fenômeno físico, mas também emocional. Os estudos comprovam que a simulação da dor é muito rara, menos de 5% dos casos. Por isso, de acordo com o médico, os profissionais de saúde devem avaliar o paciente pela regra e não pela exceção. ?A principal atitude para quem trata a dor é acreditar no paciente?, ensina.
Abordagem completa
A dor é um fenômeno que se caracteriza por sua intensidade ou pela sua periodicidade. Ela pode ser aguda e passar rapidamente, ou se tornar crônica e, conseqüentemente, persistente. A dor aguda, conforme Tanaka, tem um momento definido de início, sinais físicos objetivos e atividade exagerada do sistema nervoso. A dor crônica, em contraste, continua além de um determinado período, com o sistema nervoso se adaptando a ela. ?A dor exige uma abordagem que contemple não somente o tratamento de suas causas, mas, também, tratamento das conseqüências psicológicas e sociais a ela inerentes?, realça.
Para o especialista, infelizmente ainda existem muitos pacientes que sofrem de dores que podem perfeitamente ser tratadas. Como exemplo ele cita as dores pós-operatórias. No seu entender, os principais motivos desse subtratamento são a falta de conhecimento sobre os analgésicos e o receio exagerado dos efeitos colaterais dos opióides. ?Mas, o que mais impressiona ainda é a insensibilidade de alguns profissionais de saúde frente ao paciente com dor?, reconhece.
A princípio, todo médico deveria saber lidar com a dor, mas na prática não é bem assim que acontece. Existem dores difíceis de ser tratadas e que necessitam de especialistas com maior conhecimento: médicos especialistas amparados pela experiência de vários anos de tratamento.
Para Pedro Paulo Tanaka, mesmo existindo limitação para o tratamento de alguns tipos de dores, o médico não deve abandonar o paciente à sua própria sorte. Deve utilizar mais os medicamentos opióides, juntamente com os meios não farmacológicos ou mesmo encaminhar o seu paciente para um especialista. ?O não-tratamento da dor pode ser considerado uma negligência médica, e todos os pacientes merecem nosso respeito e esforço para que ele tenha a sua dor amenizada?, completa.
Para cada tipo de dor, uma causa
DOR DE CABEÇA
Pode surgir quando a pessoa não se alimenta adequadamente, pelo estresse no trabalho ou depois de muitas horas de sono
LER/DORT
São lesões por esforço repetitivo que acometem pessoas que trabalham por diversas horas sem qualquer descanso.
LESÕES MUSCULARES
São provocadas por traumas, pancadas, torções ou fraturas.
COLUNA
Geralmente é produzida por má postura, excesso de peso ou carga, traumatismos provenientes de quedas e outros acidentes.
DOR OROFACIAL
(na mandíbula e no rosto)
É ocasionada por algum tipo de traumatismo, estresse, infecções, problemas na mastigação e postura corporal, entre outros.
FIBROMIALGIA
É a mais difícil de ser diagnosticada, já que nenhum tipo de exame aponta o problema.
ARTROSE
É uma doença degenerativa das articulações. Ataca a coluna cervical e lombar, os joelhos, os quadris – tende a provocar ciática, dor que se irradia para as pernas – e as pequenas articulações dos dedos das mãos.
ONCOLÓGICA
Ocorre em decorrência do câncer e das complicações pós-cirúrgicas.
Os números da dor
* 50 milhões de pessoas sofrem de dor crônica no Brasil. Mais da metade delas estão sujeitas à depressão
* Mais de 45 milhões de brasileiros têm, ao menos, um episódio de dor de cabeça na vida
* O número de mulheres que sofrem de enxaqueca é o dobro do que o de homens
* Mais de 80% da população mundial sofrerá de algum tipo de dor ao longo da vida
* A maioria dos doentes de câncer apresenta dor intensa ou insuportável
* Existem registrados cerca de 200 tipos de dor de cabeça