Doentes mentais sofrem com atendimento ruim

Entre os brasileiros portadores de transtornos mentais graves e que necessitam de atendimento especializado, 57% consideram que o acesso aos serviços públicos é difícil. Essa é uma das principais conclusões da pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Ibope e apresentada durante o XXV Congresso Brasileiro de Psiquiatria.

Os dados obtidos atualizam alguns números e confirmam outros colhidos em pesquisa semelhante feita pela ABP no ano passado. Uma das tendências reafirmadas relaciona-se com a incidência dos transtornos mentais graves na população brasileira, que em 2006 apontava para 9% dos entrevistados. Por outro lado, o nível de insatisfação com o acesso aos serviços públicos de saúde aumentou em 10 pontos percentuais, saltando de 19% para 29%.

No entanto, e talvez por conta disso, o número de usuários do sistema público sofreu uma queda no período. Em 2006, 72% dos entrevistados declararam buscar atendimento por meio do SUS. Na pesquisa deste ano, esse número caiu para 64%. Segundo o coordenador do departamento de Epidemiologia da ABP, Sergio Andreoli, que supervisionou a pesquisa, os números podem representar uma tendência a ser analisada. ?Nós vemos que deve haver um movimento de saída dos pacientes do serviço público para o privado, talvez impulsionados pelos planos de saúde, que começam a contemplar o tratamento psiquiátrico?, admite.

Tempo de espera

A pesquisa trouxe à tona outro dado alarmante: entre os portadores que utilizam o sistema público, menos de 33% conseguem agendar consulta no tempo considerado ideal (15 dias). A maioria dos portadores de transtornos mentais graves é obrigada a esperar mais de um mês para ser atendida. Josimar França, presidente da ABP, comenta que nos números apresentados existem casos em que o transtorno traz riscos para o portador e seus familiares. ?Para estes, esse tempo de espera chega a ser preocupante?, considera.

Entre os números apresentados, outro destaque chama a atenção: 7,7% dos pacientes não conseguiram atendimento. Ou seja, aproximadamente 1,3 milhão de portadores de transtorno mental grave não foram atendidos no último ano. Por outro lado, 71% daqueles que conseguiram atendimento público disseram estar satisfeitos com o serviço.

A pesquisa também verificou a avaliação dos usuários de planos particulares de saúde (15% do total). Entre eles, 74% consideraram que o acesso ao tratamento foi fácil.

Lista desatualizada

Além do impacto negativo sobre a saúde do portador,  a restrição aos tratamentos mais modernos traz conseqüências sociais e econômicas, uma vez que essas doenças acometem adultos jovens, em plena fase produtiva da vida. Nos casos de esquizofrenia, por exemplo, especialistas afirmam que a reforma psiquiátrica esbarra na falta de serviços de apoio e resistência da família. Em 2001, o governo promulgou a Lei de Reforma Psiquiátrica, que define a internação como último recurso para tratamento de doentes psiquiátricos. Daquele ano até agora foram extintos mais de 12 mil leitos em todo o País. Outro importante benefício aos portadores de doenças mentais  foi a criação de mais de 500 centros comunitários, como os centros de atenção psicossocial (Caps), que têm como objetivo integrar os doentes psiquiátricos à sociedade, por meio de trabalho e educação.

Outro ponto ressaltado pelos especialistas é a dificuldade da família em tratar os doentes, especialmente quando ocorre a falta de medicamento na rede pública. O governo disponibiliza alguns medicamentos para esquizofrenia e transtorno bipolar em sua lista de alto custo para doenças crônicas, mas a lista não é atualizada desde 2002 e os medicamentos lançados e aprovados pela Anvisa depois dessa data não estão disponíveis aos pacientes. Já existem alternativas mais modernas de tratamento, que permitem ao paciente de transtornos mentais levar uma vida normal, familiar e até mesmo profissional.

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