A doença arterial obstrutiva periférica (DAOP), entre os médicos especialistas, também é conhecida por doença dos observadores de vitrine. Ela é assim chamada porque as pessoas por ela atacadas, geralmente após os 50 anos de idade, muitas vezes, devido às dores, não conseguem dar mais um passo sequer e disfarçam parando em frente às vitrines das lojas. Para o angiologista e cirurgião vascular Júlio Siqueira, basta observar por alguns minutos na Boca Maldita, em Curitiba, para encontrar alguns deles.
Muitas vezes, a DAOP é confundida com problemas musculares ou reumatismo, pois os seus sintomas são muito parecidos: dores e formigamento nas pernas. Só que a doença é infinitamente mais grave, já que mais de 60% dos pacientes correm um elevado risco de sofrer um infarto ou acidente vascular cerebral (AVC). Por isso, quem já passou por essa situação deve procurar uma investigação melhor, buscando auxílio médico especializado. ?Principalmente quem, além desses sintomas, se alimenta mal, fuma ou não pratica nenhuma atividade física?, adverte Siqueira.
A presença da DAOP diminui significativamente a expectativa de vida de seus portadores, pois, por ser uma doença crônica, os tratamentos têm mais o caráter preventivo do que curativo. ?Apesar do susto que pode causar a doença, por outro lado é de fácil diagnóstico?, observa o médico, salientando que basta o especialista apalpar as veias das pernas (como se faz nos pulsos) para identificar a presença da doença.
Fumo e sedentarismo
A dor na perna é provocada por alguma obstrução das artérias que levam oxigênio para os membros inferiores ou periféricos. Assim, quando a pessoa caminha, as pernas necessitam de uma maior quantidade de oxigênio. Como se encontra obstruída, começa a ?formigar? e a doer, só amenizando quando se pára de andar. Segundo Siqueira, daí entra um componente complicador: ?Por não ter condições normais de andar, a pessoa se torna sedentária e corre ainda mais riscos?, comenta.
Especialistas acreditam que a prevalência da DAOP é subestimada, pois uma parcela significativa dos pacientes não percebe nenhum sintoma nos estágios iniciais da doença. Além disso, por seu aspecto intermitente, muitos deixam de relatar esse sintoma por o considerar normal e decorrente do envelhecimento. Pelo menos no que diz respeito às pernas, a maioria das pessoas afetadas pode estar certa de que a situação geralmente toma um rumo benigno. Menos de um terço necessita de cirurgia e apenas 5% são submetidos à amputação do membro afetado.
Apesar de não existir cura para a enfermidade, sua evolução pode ser controlada com o tratamento voltado principalmente ao controle dos fatores de risco, que são os mesmos das doenças cardíacas: tabagismo, diabete, pressão e colesterol altos. No entanto, o cigarro destaca-se como decisivo no desenvolvimento da DAOP. O aposentado José Afonso de Souza, de 68 anos, luta contra as dificuldades da doença há 15 anos. Ele já passou por uma cirurgia para a desobstrução de uma artéria da perna. ?Faço fisioterapia duas vezes por semana. Ainda não caminho porque sinto dor ao andar. Melhoro quando faço exercícios e pretendo largar o cigarro de uma vez para melhorar a saúde?, promete.
Para não agravar o quadro
– Em primeiro lugar, eliminar os fatores de risco. Ou seja, abolir o tabagismo, prevenir ou tratar o diabetes, controlar a pressão arterial, controlar a ingestão de bebidas alcoólicas e manter o colesterol em níveis adequados.
– Uma caminhada, intercalada com repouso, pode estimular a circulação em torno das artérias comprometidas.
– É necessário que se faça uso de vasodilatadores e de drogas que diminuem a viscosidade do sangue. Isto requer um acompanhamento médico criterioso. O efeito desse tratamento não é específico sobre a circulação da perna e sim, já é voltado para a prevenção da doença cardiovascular, portanto, para uma sobrevida mais longa.