Até 2010, o governo brasileiro pretende eliminar a rubéola do País. Assim como outras doenças típicas da infância, entre elas, o sarampo, a caxumba e a varicela, a rubéola está cada vez mais colocando em risco a saúde de adolescentes, jovens e adultos. ?Existe uma tendência de que essas doenças se desloquem para faixas etárias maiores, principalmente quando não são feitos os reforços recomendados?, explica a pediatra e infectologista Luíza Helena Falleiros, do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. ?No Brasil, existe uma idéia geral de que vacina é coisa de criança, por isso, passada a infância, as pessoas têm resistência a se vacinar?, complementa Eliane Maluf, presidente de honra da Sociedade Paranaense de Pediatria.
Somada à resistência, a desinformação agrava ainda mais esse quadro. ?Muitos adultos pensam que tomaram a vacina na infância e não tomaram?, observa a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Isabella Ballalai. ?Não é aceitável que as pessoas não se imunizem com as vacinas oferecidas gratuitamente na rede pública e fiquem vulneráveis a essas doenças?, complementa.
Jovens e adultos
Para se proteger contra rubéola, sarampo e caxumba, as pessoas devem tomar a vacina tríplice viral. Embora seja extremamente eficaz, a vacina confere imunidade contra o sarampo a cerca de 95% dos imunizados. ?Por questões do próprio organismo, um pequeno percentual das pessoas vacinadas não produz anticorpos contra a doença e continua desprotegida?, explica Luíza Falleiros.
À medida que a população cresce, aumenta o grupo de suscetíveis. Entretanto, boa parte dessas pessoas não contrai a doença porque a circulação do vírus foi drasticamente reduzida, graças às intensivas campanhas públicas de vacinação, realizadas a partir dos anos 90s, quando o Ministério da Saúde traçou um plano agressivo para controlar a doença no País. A partir de 2001, os surtos são provocados por casos ?importados? de países como Japão e Alemanha, onde o vírus continua em circulação.
?Hoje, a maioria das crianças é vacinada contra o sarampo, por exemplo, mas o que assusta e preocupa é a situação dos jovens e adultos?, explica Isabella Ballalai, reconhecendo que boa parte da população adulta é suscetível à doença, porque a vacina só foi disponibilizada há cerca de 20 anos. ?Portanto, quem não contraiu a doença, ainda está vulnerável ao vírus?, alerta.
O poder das vacinas
Algumas vacinas têm indicação rotineira para todos os adultos, outras devem ser utilizadas em situações especiais e, num terceiro grupo, encontram-se vacinas que podem ser utilizadas nos adultos de acordo com a disponibilidade e a avaliação do médico.
As principais vacinas utilizadas pelos adultos são descritas a seguir.
> Sarampo, caxumba e rubéola – a vacina pode ser tomada por qualquer pessoa a partir dos 12 meses, com exceção das gestantes, portadores de algumas doenças crônicas e imunodeprimidos (pessoas com deficiências no sistema imunológico).
> Varicela – a vacina dá proteção superior a 95% contra as formas graves e moderadas e superior a 85% contra qualquer forma da popular "catapora".
É recomendada para pessoas com mais de um ano de idade, desde que não sejam imunodeprimidos.
> Difteria, tétano, coqueluche e poliomielite – usada como segundo reforço para crianças entre cinco e 13 anos, provoca menos reações adversas que as vacinas de vírus inteiros.
> Hepatite A – Estudos realizados no Brasil revelaram que mais da metade dos adolescentes não tem imunidade contra hepatite A. A vacina protege maiores de 15 anos contra a doença, com dose inicial e outra de reforço.
Formas mais graves
Doenças como sarampo, caxumba e varicela se manifestam de forma mais grave em jovens e adultos. "Nesta faixa etária, os quadros da doença são mais exacerbados, nas crianças, ao contrário, as formas são mais leves", ressalta Eliane Maluf.
A médica lembra também que o sarampo compromete o sistema imunológico do doente, facilitando o surgimento de complicações no sistema respiratório, principalmente a pneumonia.
Entre os maiores de 15 anos, a caxumba pode acometer outras glândulas, além das glândulas salivares. Nos homens, o vírus pode provocar a inflamação dos testículos, lesão que pode deixá-los estéreis.
Por seu lado, a rubéola é particularmente perigosa para as gestantes e seus bebês. "Quando acomete mulheres nos primeiros meses da gestação, pode provocar malformações no feto, além de causar surdez, cegueira, retardo mental e problemas cardíacos", observa a especialista. Apesar de rara em adultos, a varicela em gestantes pode provocar de 500 a mil lesões no corpo – o dobro do que acontece na infância – e pode causar complicações, seguidas de problemas no sistema nervoso e nas vias respiratórias.
Embora não seja considerada doença típica da infância, a hepatite A geralmente se manifesta de forma mais grave em adultos, podendo, até mesmo, provocar a falência do fígado e levar à morte. Já a coqueluche não costuma se manifestar de forma grave em adultos. Esta característica não deixa de ser um motivo de preocupação dos especialistas. Como esses doentes não apresentam os sintomas clássicos, eles contagiam as pessoas ao redor antes mesmo de saberem que estão infectados.