Doenças provocadas pelo tabagismo

Clovis Botelho, 51 anos, professor titular da UFMT, médico pneumologista, destaca uma das principais doenças causadas pelo tabagismo. "Acho que todos os fumantes sabem de cor e salteado o que o tabagismo produz de doenças; talvez não saibam com os detalhes que vamos contar. Se você for fumante, preste bem a atenção para não dizer depois que não sabia nada disso. O tabagismo produz efeitos maléficos sobre o organismo, causando diferentes agravos à saúde. Vamos falar da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica/ DPOC (mistura de bronquite crônica com enfisema pulmonar).?

Pesquisas mostram que alguns componentes da fumaça do cigarro são irritantes e tóxicos para a mucosa respiratória (nariz, faringe, laringe, traquéia e brônquios), podendo causar lesão inflamatória ou morte das células pelo contato contínuo da fumaça com as vias aéreas. Com isso, pela inflamação crônica das mucosas respiratórias, vai haver aumento da produção de catarro, que, quando é demais, o nosso organismo tem dificuldade de eliminar. Como é grande a quantidade de catarro retida dentro dos brônquios, favorece a proliferação de inúmeros germes (bactérias, fungos) que normalmente vivem nas vias aéreas, o que poderá causar infecções respiratórias nesses indivíduos no decorrer da sua vida de fumante.

Com o passar do tempo, os fumantes, de tanto ter lesões, inflamações e infecções das vias aéreas, passam a produzir mais radicais livres, que vão agredir mais ainda as células das mucosas respiratórias, causando lesões estruturais irreversíveis. Nessa briga de oxidantes (produzidos pelo cigarro) e anti-oxidantes (defesa do nosso organismo) quem perde é o pulmão, pois os radicais livres produzidos deixam cicatrizes que nunca mais vão desaparecer: são as marcas do cigarro.

DPOC é uma condição clínica em que o indivíduo tem falta de ar, e dificuldade de levar o oxigênio para suprir as suas necessidades básicas. Todos nós sabemos que o oxigênio presente no ar atmosférico é imprescindível para a nossa vida; dependemos dele para tudo, pois todas as nossas funções vitais, como falar, ler, caminhar e até amar, dependem do oxigênio que é queimado dentro das nossas células. Em suma, o oxigênio é a nossa gasolina, é o nosso combustível principal.

Vocês já devem imaginar o que acontece com o indivíduo com DPOC; ele não consegue captar o oxigênio em quantidade suficiente porque os seus pulmões estão destruídos, corroídos pela fumaça do cigarro. Então haverá grande dificuldade para seus pulmões (nos alvéolos) fazerem a troca gasosa: entrar o oxigênio e sair o gás carbônico, que é tóxico. O pior é que isso é irreversível e progressivo, a parada de fumar apenas diminui a intensidade e a velocidade da doença.

Os sintomas que os fumantes com DPOC têm são: tosse crônica, que o fumante na maioria das vezes não valoriza, acha que é "tosse do cigarro"; catarro freqüente, cor amarelada ou esverdeada (infecção brônquica); falta de ar que aumenta progressivamente, podendo chegar a ter dificuldade até para falar; dedos arroxeados (cianose), denotando falta de oxigenação grave; sinais de falência do coração (Cor Pulmonale), inchaço das pernas (edemas), fígado crescido (hepatomegalia), arritmias cardíacas, que é a fase final do DPOC. Esses sintomas aparecem aos poucos, lentamente, fazendo com o fumante demore a percebê-los. Quando percebe, a doença está numa fase avançada. Ele procura recursos médicos tardiamente, pois já está com todos os sintomas instalados e sofrendo muito.

Sobre o autor

Professor Titular da Faculdade de Ciências Médicas e do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. Doutor em Medicina – Pneumologia pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp, em 1991.

Autor dos livros Você também pode para de fumar (Editora Adeptus) e A dinâmica psicológica do tabagismo (Editora Entrelinhas) e de vários artigos sobre o tema publicados em revistas especializadas.

Dr. Clovis Botelho

fbotelho@terra.com.br

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