O aumento do número de mulheres nos hospitais especializados chega a surpreender até mesmo as vítimas de doenças cardiovasculares, como a corretora de imóveis Vera Maria Milek. "Quando fiz minha primeira consulta, eu era a única mulher no consultório, mas nas últimas, fiquei impressionada com a quantidade de mulheres na clínica?, se surpreende. A empresária tinha o perfil de candidata certa a algum tipo de problema cardiovascular. Fumava, não se furtava em comer carnes vermelhas gordurosas e frituras, trabalhava de segunda a sexta-feira por mais de 14 horas. Depois do susto provocado por uma ameaça de infarto, largou o cigarro, adotou uma alimentação mais saudável e intensificou suas atividades físicas. "Sempre fui nervosa e agitada, mas a ansiedade gerada por diversas situações agravaram a situação", reconhece.

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Após anos lutando por mais liberdade e independência na vida pessoal, mais espaço na vida profissional e mais respeito e reconhecimento perante a sociedade, as mulheres têm um novo desafio pela frente, que não deixa de ser conseqüência das conquistas obtidas nas últimas décadas: o risco da doença coronariana. Não é para menos. Casa, filhos, projetos, empregados, relacionamentos. A esta lista, elas terão de acrescentar – o quanto antes na recomendação dos médicos – qualidade de vida com lazer, exercícios físicos, alimentação saudável, sono de qualidade e distância dos vícios que causam danos à saúde.

Segundo especialistas, o novo ritmo de vida das mulheres faz delas alvos fáceis da doença que mais mata no mundo, a doença coronariana. ?O desafio agora para elas é ter uma vida equilibrada com trabalho, lazer, exercícios, descanso e alimentação saudável. Outro problema é a falta de cuidados com o coração. As mulheres precisam fazer exames de controle periódicos, como estão acostumadas a fazer com os preventivos do câncer?, alerta o cardiologista Marco Antonio Lacerda, do Hospital Cardiológico Costantini.

Mães também sofrem

O médico confirma que, conforme indicam as estatísticas, a incidência de doenças cardíacas nos homens é 50% maior do que nas mulheres. Mas o risco se torna igual quando a mulher entra na menopausa, por causa da queda de produção hormonal. Só que esses números estão mudando e a tendência é de que se igualem numa faixa etária mais precoce, devido ao seu ?novo? estilo de vida. Outro agravante, conforme Lacerda, é que, estatisticamente, a doença coronariana quando manifestada na mulher tende a ser mais grave do que no homem.

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A constatação do cardiologista Everton Dombeck é de que as preocupações de mãe também colaborem com o aparecimento de problemas cardíacos nas mulheres. Os motivos mais freqüentes, no seu entender, dizem respeito às preocupações com a violência, com a falta de perspectiva futura ou de oportunidades para os filhos, e principalmente a drogadição e o alcoolismo por parte dos filhos. ?Muitas chegam ao consultório com um quadro de somatização de todos esses problemas que acaba sendo um dos principais motivos para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ou de fatores de risco para essas doenças, como a hipertensão?, frisa.

Os principais fatores de risco de doenças coronarianas hoje são o estresse e o tabagismo. Segundo Marco Lacerda, a recomendação é de que, a partir dos 25 anos, a aferição de pressão e dosagem de colesterol seja uma rotina na vida das mulheres. Após os 30 anos, é preciso procurar um cardiologista e, caso tudo esteja bem, o ideal é manter as consultas a cada dois anos, no máximo. Para aquelas que já passaram dos 40 anos, as consultas ao especialista devem ser anuais, desde que não tenham sintomas, do contrário, deve ser feito um acompanhamento permanente.

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Dieta saudável e distância do fumo já ajudam

Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, estudaram os dados de um grupo de 86 mil mulheres por 14 anos e descobriram que houve um declínio de 31% nas doenças coronarianas entre elas. Segundo a pesquisa, a queda foi devido à adoção de dietas mais saudáveis, ao abandono do cigarro e ao uso de hormônios após a menopausa. Elas diminuíram consideravelmente o consumo de carne vermelha, gorduras e de laticínios ricos em gordura. Essas mudanças foram complementadas por um aumento no consumo de cereais ricos em fibras, ácido fólico e peixe. Ao mesmo tempo, o número de fumantes diminuiu 41% e a proporção de mulheres que recebiam suplementação hormonal pós-menopausa quase dobrou. Infelizmente, muitos dos ganhos obtidos por meio de comportamentos mais saudáveis foram contrabalançados por excesso no ganho de peso. Ainda assim, o estudo comprova que o risco de uma pessoa desenvolver doenças coronárias cai rapidamente ao se melhorar a dieta e abandonar o cigarro.