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Você pode ter doença renal e não sabe. As causas são diversas e a enfermidade pode progredir para a perda completa da função dos rins se não for descoberta e tratada a tempo.

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A dona de casa M. C. W., de 42 anos de idade, encara as sessões de hemodiálise como um trabalho sem remuneração. ?Ou melhor, recebo o melhor salário do mundo, que é pago em tempo de vida?, diz. Casada, mãe de três filhos, ela explica que assumiu o tratamento como uma rotina que faz parte da sua vida, por isso nunca se dirigiu à clínica contrariada. Hoje, ela leva uma vida ?quase normal?, sem o cansaço e a falta de ar que sentia antes de começar o tratamento. ?O que tenho demais é fé, e sei que é ela que vai me fazer safar dessa?, afirma.

O lavrador J. M. C., de 66 anos, aproveita as horas que passa na clínica para ler a Bíblia e fazer orações. Sempre procura seguir à risca as orientações médicas. ?Este é o meu compromisso para o resto da vida ou até que consiga um transplante?, considera. Estes dois paranaenses estão entre os dois milhões de brasileiros que sofrem de doença renal crônica, uma síndrome caracterizada pela perda progressiva e irreversível das funções dos rins. O pior é que 60% dessas pessoas não sabem que são portadores da doença e não recebem tratamento.

Anemia, pressão alta, inchaços, fraqueza, vontade freqüente de urinar no período da noite, náuseas e vômitos freqüentes. Embora esses sintomas não sejam necessariamente conseqüências da insuficiência renal crônica, eles costumam estar presentes em pessoas que sofrem da doença. ?Em um organismo saudável todo o excesso de substâncias é eliminado pelos rins, mas quando estes não funcionam, os resíduos ficam retidos na circulação e se transformam em toxinas, causando alterações musculares, sangüíneas, digestivas, cardiovasculares e cutâneas?, observa o nefrologista Miguel Carlos Riella, da Fundação Pró-Renal, de Curitiba.

Exame de creatinina

Em geral, os primeiros sintomas perceptíveis da doença são inchaço dos olhos, pés, pernas, urina muito espumosa, anemia e aumento da pressão arterial. Ao apresentar qualquer um destes sinais é imprescindível procurar um médico para investigação da função renal. O médico atesta que um simples exame de sangue, denominado exame da creatinina (substância que circula pelo sangue e serve como marcador para o funcionamento dos rins), detecta com precisão se a filtragem dos rins está adequada. Assim, tão importante quanto a checagem dos níveis de colesterol (como indicativo das doenças cardiovasculares) e das taxas de glicemia (para o diabetes), o exame de creatinina pode ser solicitado no posto de saúde ou diretamente com os médicos. ?Caso identifique que os níveis de creatinina se encontram em valores elevados de concentração no sangue, significa dizer que a função renal é deficiente?, esclarece o presidente da Fundação Pró-Renal.

Nova epidemia

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?Depois de instalada, a doença renal crônica é silenciosa; seus sinais e sintomas são muito discretos nas fases iniciais e podem passar despercebidos, retardando o diagnóstico e o início do tratamento?, adverte a nefrologista Patrícia Ferreira Abreu, dirigente da Sociedade Brasileira de Nefrologia. Nos últimos anos, o número de pacientes com insuficiência renal crônica tem crescido assustadoramente em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Alguns especialistas já se referem à doença como a nova epidemia do século 21, porque várias doenças crônicas, muito freqüentes na população mundial, evoluem para a doença renal crônica, como diabetes melitus, hipertensão arterial, alterações do colesterol e triglicérides, síndrome metabólica e idade avançada, além de alguns males infecto-contagiosos como a hepatite C, aids, tuberculose, malária e esquistossomose. Fatores como obesidade, tabagismo e sedentarismo colaboram para a instalação da doença.

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Para o nefrologista Sérgio Fernando Ferreira, de alguns anos para cá, uma nova variável fez aumentar a preocupação com o aumento do número de casos de doença renal: o envelhecimento da população. Segundo o especialista, não se deve evitar esforços para que sejam prevenidas. ?A principal razão é humana, já que na sua fase terminal, a doença traz problemas para o paciente, seus familiares, médicos e toda a equipe de saúde que o acompanha?, constata Ferreira. Sem esquecer dos problemas econômicos que a doença acarreta. No Brasil, os números não são exatos, mas calcula-se, em 2006, um gasto de R$ 2 bilhões em hemodiálises no País.

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O raio-X da doença renal no Brasil

* 2 milhões de brasileiros sofrem de doenças renais e cerca de 60% não sabem.

* Dos 120 mil brasileiros que precisam fazer hemodiálise, apenas 70 mil estão em tratamento.

* Em 2006, a hemodiálise consumiu R$ 2 bilhões da verba da Saúde.

* 47% dos pacientes em diálise estão na fila do transplante renal.

* 25% dos pacientes em diálise são diabéticos.

* O número de pacientes em diálise cresceu 9,9 % em 2006 em relação a 2005.

* Em 2006 morreram 12 mil pacientes em diálise.

* Estima-se que em 2010 o número de pacientes em diálise no Brasil suba para 125 mil.

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Dia Mundial do Rim

No próximo dia 8 de março será comemorado o Dia Mundial do Rim (World Kidney Day). No Brasil, milhões de pessoas estarão mobilizadas em 59 cidades de 18 estados para orientar a população sobre a prevenção, os cuidados e a gravidade da doença, por meio da campanha Previna-se, instituída pela Sociedade Brasileira de Nefrologia. No Paraná, várias cidades como Curitiba, Campo Mourão, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e Cascavel promovem atividades para a população, como exames, distribuição de brindes, orientação de profissionais de saúde, etc. O Dia Mundial do Rim pretende conscientizar a população da importância do diagnóstico precoce para barrar a doença e evitar que o paciente precise de diálise e transplante de rim.