“Tenho fé que um dia tudo isso vai se resolver.” Essa a esperança do auxiliar de produção M. C. S. que encara as sessões de hemodiálise há mais de quatro anos, sem reclamar.
Casado, pai de três filhos, ele explica que assumiu o tratamento (três dias por semana) como uma provação que precisa passar.
“Essa rotina já faz parte da minha vida”, se conforma. M. C. só trabalha nos dias em que não precisa passar horas na clínica. “Ainda bem que ainda consigo trabalhar, pois tem companheiros de diálise que se tornaram incapazes”, lamenta.
O auxiliar sofre de doença renal crônica (DRC), uma perda lenta, progressiva e irreversível das funções renais, que atinge hoje mais de 500 milhões de pessoas – cerca de 10% da população mundial. Só no Brasil, as vítimas da doença chegam a aproximadamente 2 milhões de pessoas.
Esse enorme contingente sofre com problemas renais, como pedras nos rins, infecções e inflamações, doença renal aguda e crônica, entre outros. É que muitas dessas pessoas não sabem que estão doentes e, por isso, não buscam tratamento. “Por isso o diagnóstico precoce é fundamental”, afirma Emmanuel de Almeida Burdmann,da Sociedade Brasileira de Nefrologia.
Falência dos rins
Segundo especialistas, o caminho é aumentar a conscientização popular e realizar programas de rastreamento. A chave para ter sucesso na prevenção da doença renal crônica é a instituição de programas de detecção precoce da hipertensão e de outras condições importantes como diabetes, e tratar agressivamente a pressão arterial com o intuito de atingir os valores desejados.
Segundo o nefrologista Miguel Carlos Riella, quando constatada a falência, os rins não conseguem produzir um hormônio que estimula a fabricação de glóbulos vermelhos na medula óssea.
Assim, o paciente desenvolve anemia renal, que pode ser diagnosticada por meio de um exame que mede os níveis de hemoglobina. No Brasil, cerca de 80 mil pessoas têm DRC em estágio avançado e a maioria delas sofre de anemia renal.
Por isso, a história de M. C. parece comum. Isso porque, todos os dias, pacientes que sofrem de doenças renais têm muitas outras para contar. Pensando nelas e, também, nas pessoas que não se preocupam com a “saúde renal”, o dia 13 de março é lembrado como o Dia Mundial do Rim, data que figura como uma oportunidade de alerta sobre os perigos e o alcance das complicações renais, que destroem a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
Doença silenciosa
A presença de doença renal é comum e pouco reconhecida como uma condição médica pré-existente e causa de hipertensão resistente ao tratamento.
Portanto, o tratamento da pressão alta tornou-se a intervenção mais importante no controle de todas as formas de doença crônica dos rins. Neste ano, a data vai enfatizar o papel da hipertensão nas DRCs.
As pessoas com a doença têm maior propensão a morrerem de doença cardiovascular do que aquelas que não possuem a doença. “É importante diagnosticar a doença renal precocemente, pois o tratamento minimiza as chances de doença cardiovascular”, destaca Miguel Riella.
Para que o diagnóstico seja feito, dois exames são recomendados: o exame de sangue, capaz de mostrar se existe um aumento da creatinina, substância produzida pelos nossos músculos e totalmente filtrada pelos rins; e o exame de urina, capaz de avaliar se há perda de proteína ou albumina na urina. “Qualquer alteração nesses exames exige uma investigação e, se for o caso, tratamento adequado”, alerta o especialista.
Embora muitos sintomas não sejam, necessariamente, consequências da DRC, eles costumam aparecer em pessoas ,que sofrem da doença. Em um organismo saudável todo o excesso é eliminado pelos rins, mas quando eles não funcionam, ficam retidos na circulação e se transformam em toxinas, causando alterações musculares, sanguíneas, digestivas, cardiovasculares e cutâneas.
Semana integrada
No Brasil, diversas iniciativas marcam o Dia Mundial do Rim. Em Curitiba, a Fundação Pró-Renal Brasil vai realizar uma grande campanha de conscientização para chamar a atenção da população para a importância de cuidar dos rins.
Entre os dias 10 e 13 de março acontece a Semana Integrada de Prevenção à Doença Renal e à Hipertensão, na Praça Rui Barbosa, no centro da cidade. Atendimento gratuito à população com orientações de profissionais da saúde, aferição da pressão arterial e exames parciais de urina estão entre as atividades.