Doença desconhecida aumenta risco de morte cardiovascular em até 60%

Às vezes confundida com reumatismo e artrite, a Doença Arterial Obstrutiva Periférica (ou simplesmente DAOP), apesar de grave e freqüente, é desconhecida por muitos médicos e, conseqüentemente, pouco diagnosticada e pouco tratada no Brasil e no exterior. Com origem semelhante à que leva ao infarto e ao derrame cerebral, ela é considerada um marcador de doença aterosclerótica mais generalizada. Ou seja, pacientes com DAOP têm risco elevado de sofrer infarto do miocárdio, derrame cerebral ou morte de origem cardiovascular. “Cerca de 60% dos pacientes que têm a doença apresentam outras complicações cardiovasculares. E pior: a expectativa de vida é reduzida em 10 anos”, alerta o cardiologista e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Dr. Francisco Fonseca.

A doença é provocada por um processo aterosclerótico que resulta do depósito de gordura na parede interna das artérias dos membros inferiores, levando à redução da irrigação de sangue rico em oxigênio à musculatura das pernas e pés. A conseqüência disso é a chamada claudicação intermitente: dores, desconforto ou formigamento na barriga da perna provocada pela caminhada, que desaparece em até 5 minutos depois de parar de andar (como se fosse “angina” nas pernas) e pode voltar com as mesmas características se a pessoa reiniciar a caminhada. “De cada três pessoas com DAOP, duas não conseguem caminhar mais de 150 a 200 metros, limitação equivalente à de uma pessoa com insuficiência cardíaca mais grave. Desta forma, o paciente passa a ter uma qualidade de vida muito ruim”, define o cardiologista do Instituto Dante Pazzanese Dr. Jairo Lins Borges.

Segundo o médico, pelo menos 50% dos pacientes são assintomáticos e muitos do que apresentam dores ou dificuldade para caminhar, não percebem ou não as relatam ao médico por acharem que é próprio da idade ou por serem sedentários. Entretanto, mesmo para pacientes assintomáticos a mortalidade beira os 50% em cinco a dez anos. Os médicos, por sua vez, ainda não incorporaram no exame clínico de rotina a medição do índice “tornozelo-braquial”, que facilmente indicará se a pessoa tem o problema. “O diagnóstico da doença pode ser feito por um método simples, que mede o fluxo sanguíneo dos membros inferiores em relação ao braço. A relação da pressão arterial do pulso do tornozelo versus o pulso do braço (braquial) deve ser superior a 0,9 para ser considerado normal. Abaixo disso, a pessoa apresenta a doença”, explica Dr. Jairo. E quanto menor o índice, maior é a chance de a pessoa morrer de doenças cardiovasculares.

O Dr. Francisco Fonseca, que é também chefe do setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular da Unifesp, destaca que “a maior causa dessa doença é o cigarro. Se o indivíduo que tem a doença não parar de fumar, ele tem 60% de chance de morrer em 5 anos”. Em segundo lugar é o diabetes que, segundo o cardiologista, deve ser tratado intensivamente. Além do controle do açúcar do sangue, outros fatores de risco, como a hipertensão arterial e a elevação dos níveis de colesterol, também devem ser identificados e devidamente tratados. A incidência da doença também aumenta com a idade. O angiologista e diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Dr. Paulo Kauffman, afirma que “nos Estados Unidos, cerca de 10% da população acima de 50 anos apresenta o problema, chegando a 30% das pessoas com mais de 70 anos e com fatores de risco”.

Quando não diagnosticada e tratada precocemente, a doença pode levar à amputação do membro afetado. “Mas esse não é o principal risco de uma pessoa com DAOP. Por ser um indicador de processo aterosclerótico mais generalizado, é provável que o paciente apresente acúmulo de gordura também nas artérias que levam sangue para o coração (coronárias), para o cérebro (carótidas) e para os rins (com risco de perda do órgão)”, alerta o especialista. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil, com 300 mil óbitos por ano.

Assim como as demais doenças cardiovasculares, a DAOP pode ser prevenida seguindo as últimas diretrizes divulgadas recentemente pela Associação Americana do Coração. A Associação aponta a necessidade de as pessoas adotarem um estilo de vida saudável cada vez mais cedo, além de controlar os fatores de risco já conhecidos como a pressão arterial e o colesterol, fazer exercícios físicos regularmente e não fumar. Para pacientes de risco mais elevado (tabagistas, diabéticos e idosos), a prevenção deve ser feita também com o uso de medicamentos.

Lançamento inédito

A partir deste mês, os pacientes brasileiros já têm acesso a tratamento com medicamento inédito para a Doença Arterial Obstrutiva Periférica. O Laboratório LIBBS Farmacêutica lançou durante o 57º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em São Paulo, o Cebralat, único medicamento para tratamento efetivo da claudicação intermitente, o principal sintoma da doença (dor, desconforto ou formigamento na barriga da perna provocada pela caminhada, que desaparece depois de parar de andar). “A DAOP é uma doença muito limitante. Se hoje uma das recomendações mais comuns para pacientes com risco de doenças cardiovasculares é a caminhada, pelo menos 10% da população idosa não pode segui-la, porque simplesmente não consegue caminhar adequadamente por causa da dor nas pernas provocada pela doença”, alerta o cardiologista do Instituto Dante Pazzanese Dr. Jairo Lins Borges.

Estudos internacionais comprovaram que pacientes com DAOP que usaram continuamente o cilostazol, princípio ativo do Cebralat, conseguiram aumentar a distância de caminhada em 50 a 100%. Isso porque ele tem propriedades vaso-protetoras, ou seja, dilata e relaxa os vasos ateroscleróticos (artérias com depósito de gordura em suas paredes internas), melhorando a circulação sanguínea das pernas e diminuindo a dor. O cilostazol também inibe a ativação e a agregação das plaquetas nas paredes dos vasos, impedindo a formação de coágulos, que podem entupir ainda mais as artérias, prejudicando o fornecimento de sangue aos membros inferiores.

O Cebralat já foi utilizado por mais de 1,5 milhão de pessoas nos Estados Unidos, Europa e Japão nos últimos 15 anos, comprovando assim sua segurança no manejo terapêutico. Possui excelente perfil de eficácia, percebida nas primeiras semanas de tratamento, como alívio da dor nas pernas e aumento da disposição para caminhar. O medicamento apresenta ainda outros importantes mecanismos de ação cardiovascular, como redução de 15% dos níveis de triglicérides, aumento de 10% nos níveis do bom colesterol (HDL), diminuição do desenvolvimento de aterosclerose na parede das artérias (agente anti-aterosclerótico) e proteção das células cerebrais. Se associado ao ácido acetilsalicílico, o Cebralat é indicado também na prevenção de um novo derrame cerebral.

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