Um dos maiores problemas enfrentados na captação de órgãos para tranplante é o desconhecimento das pessoas em relação aos mecanismos de doação.
Muitas vezes, a decisão em doar os órgãos não é atendida porque o interessado não conversou com seus familiares a respeito desse desejo.
Um doador pode salvar a vida de muitas pessoas, dependendo da situação de seus órgãos, tecidos e ossos. Este número pode chegar até 50 pessoas beneficiadas.
Uma boa notícia para os paranaenses é que o Hospital Angelina Caron integrará a partir deste mês as organizações de procura de órgãos (OPO). A nova unidade de captação atuará em toda a Região Metropolitana de Curitiba, estimada em mais de 1,5 milhões de habitantes.
Mais de 75% dos pacientes que o hospital recebe anualmente são originários do sistema público de saúde. Além de contar com esse perfil social, o centro médico está capacitado no atendimento ao trauma e em UTI, condições básicas à instalação da unidade de captação.
Transplante de pâncreas
O Angelina Caron recebe um grande fluxo de cirurgias. Pelo sistema público são realizados transplantes de coração, renais, de fígado e de córneas. Seu programa de transplante de pâncreas é reconhecido internacionalmente.
O procedimento representa a única esperança para devolver qualidade de vida aos diabéticos que desenvolverão a insuficiência renal crônica em um período de 10 anos.
O cirurgião do aparelho digestivo João Eduardo Leal Nicoluzzi, coordenador do Serviço de Transplante de Pâncreas e Fígado do hospital, comenta que o setor conseguiu comprovar que o transplante de pâncreas há muito tempo deixou de ser uma terapêutica experimental.
“Dos 110 transplantes já realizados no Serviço, mais de 90% foram conjugados – incluíram pâncreas e rins no mesmo ato cirúrgico, com altos índices de sucesso”, comemora.
O acompanhamento e o tratamento no pós-operatório também são fundamentais para a recuperação do paciente. Durante três anos o Hospital Angelina Caron investiu em equipamentos cirúrgicos e na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) até realizar o primeiro transplante de pâncreas.
Além disso, uma equipe multidisciplinar se especializou, se preparando para atender as necessidades dos transplantados. Com efeito, os resultados alcançados em todas as fases do tratamento equiparam-se aos obtidos nos principais centros norte-americanos e europeus.
Triplicar o número de doações
O principal desafio das unidades de captação de órgãos, como a recém instalada no Angelina Caron e demais existentes em Curitiba (Hospital do Trabalhador) e no interior (Cascavel, Maringá, Ponta Grossa e Londrina), será o de triplicar o número de transplantes no Paraná. Dados da Central de Transplantes da Secretaria de Estado de Saúde apontam que, em média, o Estado realiza 1,4 transplantes por ano.
Shirley Batista Nascimento, coordenadora da Central de Transplantes, acredita que a implantação das unidades de captação, conjugada às campanhas de conscientização da população, renovará as esperanças aos mais de 2.600 paranaenses que hoje vivem o drama de aguardar na fila dos transplantes à espera de um doador.
Em outras regiões do país existem contrastes marcantes relacionados à captação e doação de órgãos, de acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).
Enquanto em São Paulo, por exemplo, as taxas de transplantes são consideradas satisfatórias, comparadas aos de países europeus, no Amazonas não existem doadores.
Por trás dos indicadores desfavoráveis está o fato de que em determinados estados inexistem condições básicas obrigatórias para realizar desde a abordagem ao doador em potencial, a captação e a retirada de órgãos e os próprios transp,lantes. Some-se a isso, segundo a ABTO, o fato de o Sistema Nacional de Transplantes no país ainda ser recente, implantado há pouco mais de 10 anos.
Perguntas frequentes
O que é preciso fazer para ser um doador de órgãos?
Para ser doador, no Brasil, você não precisa deixar nada por escrito, em nenhum documento. Muitas pessoas acham que é preciso registrar a opção de doador de órgãos na carteira de motorista, mas isso não é mais necessário. Basta você conversar com sua família sobre seu desejo de ser doador. A doação de órgãos só acontecerá após a autorização da família.
Quais os tipos de doador que existem?
Doador vivo: qualquer pessoa saudável que concorde com a doação, desde que não prejudique sua própria saúde e seja compatível com a pessoa que vai receber o órgão.
O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. Pela lei, parentes até quarto grau (pais, filhos, irmãos, avós, netos, tios e primos) além e dos cônjuges podem ser doadores. Para os não parentes, somente com autorização judicial.
Doador falecido: são pacientes com morte encefálica, geralmente vitimas de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano graves ou AVC (derrame cerebral) extenso.
Quais órgãos e tecidos podem ser obtidos do doador falecido?
Coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino e rins. Também tecidos como córnea, veias, ossos e tendões. Portanto, um único doador pode salvar ou melhorar muitas vidas. A retirada dos órgãos é realizada em centro cirúrgico, como qualquer outra cirurgia.
Para quem vão os órgãos?
Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada Estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes.
Posso ter certeza do diagnóstico de morte encefálica?
Sim. O diagnóstico de morte encefálica é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina. Dois médicos de diferentes áreas examinam o paciente, sempre com a comprovação de um exame complementar, que é interpretado por um médico. Não existe dúvida quanto ao diagnóstico.
Após a doação o corpo do doador fica deformado?
Não. O processo de retirada dos órgãos é uma cirurgia como qualquer outra, restando apenas a incisão. O doador poderá ser velado normalmente.
Fonte: Ministério da Saúde