Do céu ao inferno

"Ele ouvia as vozes dos anjos, e compunha suas músicas. Mas logo os anjos se transformaram em diabos!" Esta frase, de um amigo do alemão Robert Schumann, que viveu no século XVIII indica o inferno psicológico vivido pelo compositor por boa parte da sua vida. Schumann sofria de transtorno bipolar, distúrbio que influenciava significativamente na sua obra. Nas fases depressivas suas composições eram melancólicas e tristes; em compensação, na fase eufórica, eram vibrantes e inquietantes. O compositor tentou o suicídio, como muitos depressivos graves, e morreu em um sanatório mental.

Outras vítimas do transtorno foram o presidente americano Abraham Lincoln, o pintor Vincent van Gogh, o ator Jean-Claude Van Damme, o cantor Sting e as atrizes Marilyn Monroe e Liz Taylor. Por esta lista dá para perceber que a doença pode atingir qualquer pessoa, indiscriminadamente. Enquanto a depressão é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens, o transtorno bipolar afeta igualmente homens e mulheres e se manifesta, na maioria dos casos, no final da adolescência ou em adultos jovens.

Alternância de sentimentos

Segundo o psiquiatra Dagoberto Hungria Requião, diretor do Hospital Nossa Senhora da Luz, o transtorno bipolar é considerado uma perturbação afetiva. ?A pessoa alterna momentos depressivos com episódios de euforia?, explica. Com essa alternância de humores, conforme o médico, muitas vezes o diagnóstico correto pode ser retardado até o surgimento de algum episódio específico. Há pacientes que só apresentam fases de mania, de exaltação injustificada do humor, e mesmo assim são diagnosticados como bipolares. A doença geralmente acomete pessoas jovens, de 20 a 30 anos de idade, podendo também começar na meia-idade ou mesmo na velhice.

As causas da doença são desconhecidas. Requião explica que o transtorno bipolar é uma doença crônica, com tratamento para toda a vida, e que, se não tratada adequadamente, pode piorar o desempenho profissional, afetar os relacionamentos pessoais e levar a pessoa ao uso de substâncias químicas, entre outras conseqüências.

Para os pacientes, receber o diagnóstico da doença pode ser difícil inicialmente, já que pode significar mudanças no seu comportamento. Por isso, algumas pessoas têm dificuldade de aceitar que têm uma doença, constatação que Requião enfatiza como o primeiro e decisivo passo para uma boa evolução do tratamento. Após o prognóstico da doença, o passo seguinte feito pelo psiquiatra é encontrar a medicação mais adequada, além da introdução de novos hábitos no estilo de vida. Essas mudanças, segundo os especialistas, podem ser muito positivas. ?Tomar um medicamento que a deixe livre dos sintomas da doença, por exemplo, já é uma conquista importante?, salienta Requião, ressaltando que não dá para tratar de pacientes bipolares sem o uso de medicamentos.

Conferindo os sinais da doença bipolar    

Na fase da mania (euforia exagerada):

* Aumento de energia e hiperatividade.

* Euforia.

* Irritabilidade extremada e acessos de fúria.

* Impulsividade.

* Inconstância.

* Auto-estima extremamente elevada.

* Fala rápida.

* Necessidade de pouco sono.

* Comportamento provocador e agressivo.

* Aumento de consumo de álcool e outras substâncias químicas.

Na fase depressiva:

* Tristeza constante.

* Sentimento de culpa.

* Mudança de apetite e peso.

* Isolamento social.

* Pensamentos suicidas.

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