A comerciária M. M., de 27 anos, levou um susto quando tinha dois anos de idade. Desde então sofre de gagueira, ?uma perturbação da fala, de origem psicomotora, que se caracteriza pela repetição das sílabas e paradas involuntárias no início das palavras?, na definição do Dicionário Houaiss. De acordo com a fonoaudióloga Regina Jakubovicz, a causa da gagueira é ainda um mistério. Apesar das muitas pesquisas científicas realizadas no mundo, os resultados não são completamente aceitáveis até o momento. ?Presumir que a gagueira tenha surgido por causa de um susto, poderia ser primário demais, afinal, levamos sustos todos os dias, as crianças se assustam facilmente?, resume.

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No passado, a gagueira era entendida como um fenômeno de natureza psicológica que não tinha tratamento. Manifestava-se na infância e acompanhava o indivíduo pela vida. Em muitos momentos, se transformava em motivo de chacota, o que ajudava a perpetuar o distúrbio, fazendo aumentar o constrangimento vivido por aquela pessoa nas situações vividas diariamente. Hoje em dia se sabe que a gagueira tem cura e que quanto mais precoce se iniciar o tratamento, melhores serão os resultados. Estima-se que, pelo menos 1% da população mundial sofre do distúrbio. No Brasil, se calcula em 1,8 milhão de pessoas que sofrem de gagueira.

Tratamento precoce

Marylin Monroe, Winston Churchill, Theodore Roosevelt e Isaac Newton, por exemplo, eram gagos. Mesmo sofrendo essa disfunção da fala, nem por isso deixaram de ter uma carreira promissora e entraram para a história universal. A fonoaudióloga Patrícia Mandrá orienta que a gagueira pode ser curada. O tratamento inclui sessões com fonoaudiólogos, auxiliados, em alguns casos, por uma equipe multidisciplinar, envolvendo também psicólogos e outros especialistas. ?A cura é obtida dentro do nível de disfluência de cada paciente?, ressalta a especialista. Outro fator que interfere no resultado do tratamento é a idade com que se diagnostica a gagueira e, também, o quanto precocemente é iniciado o tratamento.

A professora R. L. G. conta que seu filho de 23 anos sofria do distúrbio desde os quatro anos de idade. ?Sofreu muito com o problema, chegando a abandonar os estudos?, lembra. Fez tratamento psicológico e fonoaudiológico. Ela comenta que certo dia, o filho começou a falar normalmente, retornando aos estudos e se realizando profissionalmente. Os especialistas asseguram que submetidos a um tratamento fonoaudiológico adequado, há pacientes que se livram de todos os sintomas, independentemente da idade.

Distúrbio motor

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Curiosamente, a gagueira afeta mais homens do que mulheres. As pessoas com gagueira podem ser divididas em dois grupos: aquelas que possuem gagueira em decorrência de aspectos emocionais e ambientais e aquelas que têm uma pré-disposição genética. No primeiro caso, o distúrbio é causado por um estresse comunicativo. ?Isso acontece quando a mãe corrige a criança cedo demais ou em excesso ou quando é um adulto que fala errado e é bastante repreendido?, explica Patrícia Mandrá. Com relação ao componente genético, a fonoaudióloga destaca que há famílias que registram inúmeros casos de gagueira decorrente de uma falha no processamento neuromuscular, não se sabendo dessa ocorrência.

Existem pessoas que gaguejam em determinadas situações ou em distintos ambientes. Este fato, de acordo com a fonoaudióloga Regina Jakubovicz, comprova que o distúrbio nada tem a ver funções mentais. No seu entender a gagueira é um distúrbio muito mais motor do que mental. ?Justamente pela pessoa não gaguejar toda hora e instantes é que podemos afirmar que o problema não está ligado ao raciocínio e a atividades mentais?, considera.

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Além da gagueira, a fonoaudióloga Sílvia Friedman reconhece outros quadros considerados como distúrbios da fluência: a taquilalia, fala rápida, mas desorganizada; a taquifemia, quadro mais complexo de fala rápida e desorganizada, com a presença de uma inteligência muito viva; a gagueira neurogênica, atribuída a fatores orgânicos de ordem neurológica; e a gagueira psicogênica, atribuída a fatores psicológicos.

Dicas para quem gagueja

>    Tenha confiança em si mesmo

>    Não tenha pressa para falar

>    Pronuncie bem as palavras

>    Se mantenha atento ao tema da conversa e não com a forma como está falando

Dicas para colaborar com uma pessoa que gagueja

>    Preste atenção ao que a pessoa diz

>    Não fique interrompendo o tempo todo

>    Não antecipe o que o outro vai dizer

>    Escute sem demonstrar ansiedade

>    Estimule a conversa

>    Não fale pela pessoa

Quando procurar ajuda

>    Antes que a situação se torne um sofrimento

>    Sempre que os pais ou professores julgarem necessário

>    Se a comunicação interfere no estudo, trabalho ou vida familiar e social

>    A avaliação, o diagnóstico e o tratamento podem ser realizados assim que a disfluência for detectada