A pedagoga Anita Kosicov Perugini teve um filho diagnosticado como disléxico quando freqüentava a 2.ª série do ensino fundamental.
Era taxado por muitos professores como preguiçoso e desinteressado. Ao passar para a 2.ª série, trocou de escola e sua nova professora notou que ele tinha potencial, porém as dificuldades na escrita e leitura estavam atrapalhando o seu desenvolvimento.
Orientada por ela, a pedagoga buscou ajuda com um neurologista. Este especialista não identificou nenhum tipo de problema neurológico e, por sua sugestão, ela entrou em contato com a ABD (Associação Brasileira de Dislexia).
Não deu outra: seu filho era diferente, tendo sido diagnosticado como disléxico de grau médio. “Depois de um acompanhamento e tratamento psicopedagógico em pouco tempo notamos importantes progressos na sua escrita e leitura”, relata a pedagoga.
De acordo com estimativas, perto de 25% das crianças em idade escolar têm problemas de aprendizagem. Destas, mais de 10% sofre de dislexia, um transtorno que impede a criança de ler e compreender com a mesma facilidade de outras crianças da mesma faixa etária, independente de qualquer causa intelectual, cultural ou emocional.
“Todo o desenvolvimento da criança é normal, até entrar na escola”, reconhecem os especialistas. Não se fala em cura ou tratamento com medicamentos quando se fala em portadores de dislexia, por isso, os especialistas não a encaram como uma doença. Para Anita Perugini, ser disléxico é como ser canhoto.
Se a criança tem dificuldades para ler, ela deve ser encaminhada, inicialmente, para o médico pediatra, otorrinolaringologista ou um oftalmologista. Se não for encontrado nenhum transtorno nessas áreas, a criança deve então ser avaliada por uma equipe multidisciplinar.
O diagnóstico deve ser significativo para os pais e educadores, assim como para a criança. Simplesmente encontrar um rótulo não deve ser o objetivo da avaliação, mas tentar estabelecer um prognóstico e encontrar elementos significativos para um programa de reeducação que inclua a compensação e a erradicação dos transtornos da linguagem.
Segundo o neuropediatra Nelson Roberto Guerchon, os problemas ocasionados pela “dislexia de evolução” são plenamente contornáveis. Essas dificuldades acontecem quando a criança apresenta um grau muito tênue, quase imperceptível de desequilíbrio nos pré-requisitos básicos de aprendizagem.
Dependendo do caso, orienta o especialista, é necessário refazer todo o processo de desenvolvimento da criança, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar, que inclua neurologistas, psicólogos, psicoterapeutas e fisioterapeutas.
Já nos casos em que existam comprometimentos neurológicos, o neuropediatra reconhece que níveis severos interferem no desempenho funcional, deixando os portadores incapacitadas para a comunicação lingüística, seja por meio da fala ou da escrita. “São lesões raríssimas, mas incapacitantes que os restringem para essas atividades”, avalia o especialista.
Por falta de informação, o disléxico é acusado de ser desorganizado e esquecido. Os professores costumam defini-los como preguiçosos e os repreendem por isto. Fábio Luczynski, um curitibano de 29 anos, passou por todos estes dramas e a sua história assemelha-se à de muitos portadores.
Com uma diferença: quando ele ainda era garoto, sua família só conseguiu nos Estados Unidos as respostas que buscava para entender as dificuldades de aprendizado do menino.
Toda a sua trajetória, antes e depois que uma junta médica diagnosticou a dislexia, está descrita no livro “Dislexia você sabe o que é?”, que o disléxico escreveu juntamente com a sua mãe Zeneida Luczynski.
“Precisamos revelar aos pais e educadores que eles fazem sim, a diferença em todo esse processo”, alerta Zeneida. Para ela, a compreensão e a parceria são essenciais para garantir o futuro dessas crianças.
Segundo a autora, o atual sistema escolar é desenvolvido para a maioria que é não-disléxica, deixando os portadores do mal à margem de um sistema educacional que os exclui e os “aprisiona”.
,Outro passo importante, no entender da escritora seria expandir o nível de informação sobre o transtorno, tornando a dislexia mais conhecida e garantirdo a seus portadores o direito de plena cidadania.
O filho de Anita Perugini teve a oportunidade de encontrar educadores que se interessaram por suas dificuldades. Ao contrário de muitas crianças que não tiverem essa oportunidade e, por isso, podem estar alijadas no seu desenvolvimento e consideradas sem capacidade para os estudos.
Apesar disso, a dislexia não é uma barreira para o sucesso profissional. Pessoas bem sucedidas conviveram com o distúrbio, entre elas, Leonardo da Vinci, Thomas Edison, Albert Einstein, Walt Disney, Agatha Christie, Tom Cruise e Robin Williams, entre outros.
Sinais identificados em sala de aula
* Dificuldade para ler orações e palavras simples
* Inversão total ou parcial, das palavras.
* A mesma palavra escrita de diferentes maneiras
* Dificuldades em distinguir a esquerda e a direita
* Confusão com a sonoridade das letras
* Palavras parecidas ou opostas têm significado confundido
* Dificuldade no traço das letras
* Falta de rapidez e ritmo na leitura
O professor pode ajudar
Professores podem ajudar uma criança disléxica em uma classe comum com alunos não-disléxicos. Para isso terá de encorajar o aluno, procurar descobrir outras suas habilidades; usar um critério de avaliação diferenciado de avaliação; nada de humilhações; sempre lembrar aos colegas que aquele aluno tem inteligência normal; e, acima de tudo, espalhar respeito e compreensão entre seus colegas de classe.
