Aproximadamente 25% das crianças em idade escolar têm problemas de aprendizagem. Destas, cerca de 15% sofrem de dislexia, um transtorno que impede a criança de ler e compreender com a mesma facilidade com que o fazem as crianças da mesma faixa etária, independente de qualquer causa intelectual, cultural ou emocional. Todo o desenvolvimento da criança é normal, até entrar na escola. Não se fala em cura ou tratamento com medicamentos quando se fala em dislexia, por isso, os especialistas não a encaram como uma doença. Para eles, ser disléxico é como ser canhoto, por exemplo.

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Se a criança tem dificuldades para ler, ela deve ser encaminhada, inicialmente, para o médico pediatra, otorrino ou um oftalmologista. Se não for encontrado nenhum comprometimento nessas áreas, a criança deve então ser avaliada por uma equipe multidisciplinar. O diagnóstico deve ser conclusivo, pois simplesmente encontrar um rótulo não deve ser o objetivo da avaliação, mas tentar estabelecer um prognóstico e encontrar elementos significativos para um programa de reeducação que inclua a compensação e a erradicação dos transtornos da linguagem.

Dislexia de evolução

Segundo o neuropediatra Nelson Roberto Guerchon, os problemas ocasionados pela ?dislexia de evolução? são plenamente contornáveis. Essas dificuldades acontecem quando a criança apresenta um grau muito tênue, quase imperceptível de desequilíbrio nos pré-requisitos básicos de aprendizagem. Nesses casos, orienta o especialista, é necessário, dependendo do grau de comprometimento, refazer todo o processo de desenvolvimento da criança, com o auxílio de neurologistas, psicólogos, psicoterapeutas e fisioterapeutas.

Já nos casos conhecidos por ?dislexia verdadeira?, onde existe realmente algum comprometimento neurológico, Guerchon afirma que eles interferem no desempenho funcional, deixando as crianças que sofrem desse mal incapacitadas para a comunicação lingüística, seja por meio da fala ou da escrita. ?São lesões raríssimas, mas incapacitantes que restringem os portadores para essas atividades?, explica.

Compreensão e parceria

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Por falta de informação, o disléxico é acusado de ser desorganizado e esquecido. Os professores costumam defini-los como preguiçosos e os repreendem por isto. Fábio Luczynski, um curitibano de 29 anos, passou por todos esses dramas e a sua história assemelha-se à de muitos portadores. Com uma diferença: somente nos Estados Unidos a sua família conseguiu as respostas para entender as dificuldades de aprendizado do menino. Toda a sua trajetória, antes e depois que uma junta médica diagnosticou a dislexia, está descrita no livro ?Dislexia, você sabe o que é??, que Fábio escreveu juntamente com a sua mãe Zeneida Luczynski.

?Precisamos revelar aos pais e educadores que eles fazem, sim, a diferença em todo esse processo?, alerta Zeneida. Para ela, a compreensão e a parceria são essenciais para garantir o futuro dessas crianças. Segundo a autora, o atual sistema escolar é desenvolvido para a maioria, que é não-disléxica, deixando os portadores do distúrbio à margem de um sistema educacional, que os exclui e os aprisiona. Outro passo importante, no entender de Zeneida, seria tornar o distúrbio mais conhecido e garantir a seus portadores o direito de cidadania, ressalta.

IDENTIFICANDO OS SINAIS

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A dislexia não é uma doença, portanto não podemos falar em cura. Ela é congênita e hereditária, e seus sintomas podem ser identificados logo na pré-escola. Abaixo alguns deles:

* Dificuldade para ler orações e palavras simples.

* Inversão total ou parcial das palavras. Por exemplo: casa é lida saca.

* Escrita da mesma palavra de diferentes maneiras.

* Dificuldades em distinguir a esquerda e a direita.

* Confusão de letras parecidas no som.

* Confusão de palavras parecidas ou opostas em seu significado.

* Dificuldade no traço das letras.  

* Falta de rapidez ao ler.

* Leitura sem modulação e sem ritmo.

Como o professor pode ajudar

Professores freqüentemente perguntam como podem ajudar uma criança disléxica em classe, junto com alunos não-disléxicos. Abaixo enumeramos algumas sugestões. O que pode ser feito depende do conhecimento do professor sobre o assunto e das circunstâncias ambientais.

* Encorajar sempre e elogiar sempre que possível.

* Procurar descobrir algo em que ele se sobressaia.

* Nunca diga que ele é preguiçoso e evite compará-lo aos outros alunos da classe.

* Suas habilidades devem ser julgadas por suas respostas orais e não pela escrita.

* Sempre que possível, usar um critério de avaliação diferenciado.

* Ao corrigir os seus exercícios, assinalar as questões que estão corretas, ao invés das que estão erradas. Não reforçar seu erro.

* Deixar as anotações no quadro o máximo de tempo possível para que eles consigam copiar.

* Procurar não dar suas notas em voz alta para toda classe, isso o humilha e o faz infeliz.

* Não esquecer que ele tem a inteligência normal, sabe que erra muito, e isso não o faz feliz. Ninguém gosta de errar!

* E, acima de tudo, espalhar respeito e compreensão na sua sala de aula. Contamine as outras crianças com esses sentimentos!

Alguns disléxicos famosos

Hans Christian Andersen, além de outros livros infantis é autor de ?O Patinho Feio?, história que bem reflete estados psicológicos de um disléxico severo, sua baixa auto-estima, a consciência de seu potencial.

Cher, cantora e atriz: "Meus dias na escola foram muito difíceis. Eu só conseguia aprender quase tudo, através de meu canal auditivo.

Agatha Christie, escritora: "Eu, por mim mesma, sempre me reconheci como a ‘mais lenta’ da família?.

Winston Churchill: "Nada é mais desencorajador do que ser marginalizado em sala de aula, o que leva a nos sentirmos inferiores em nossa origem humana".

Tom Cruise, ator: "Eu tinha que treinar a mim mesmo para concentrar minha atenção. Assim, me tornei muito visual e aprendi como criar imagens mentais para poder compreender o que lia".

Albert Einstein, um dos maiores cientistas de todos os tempos: "Quando eu lia, somente ouvia o que estava lendo, e era incapaz de lembrar a aparência visual da palavra que lia".

Danny Glover, ator: "As crianças faziam piada de mim por causa da minha pele negra, de meu nariz grande, e porque eu era disléxico?.

Whooppi Goldberg, atriz: ?Nós não somos estúpidos – nós temos uma deficiência e essa deficiência pode ser superada".

Magic Johnson, jogador americano de basquete: "Eu queria mostrar a cada um que podia fazer o meu melhor, mas, também, que eu era capaz de ler".