Dieta saudável requer boa dose de disciplina

A alimentação saudável está sendo muito divulgada em uma sociedade cada dia mais preocupada em ter saúde e corpos perfeitos. As regras de como comer corretamente são conhecidas por muitos na teoria, mas na prática poucos levam a sério um cardápio balanceado todos os dias. A constante procura por junky food (ou comida-lixo) já está trazendo prejuízos para as novas gerações. É cada vez mais comum encontrar crianças com sobrepeso ou obesas.

Para a nutricionista Lígia Carlan, a culpa pelo crescente número de casos de obesidade não é do fast food. “Essa é uma comida rápida, que não significa necessariamente sanduíches, pizzas, refrigerantes e salgados, entre outros. No fast food, existe a oferta de comidas de qualidade e que trazem benefícios”, afirma. De acordo com ela, um dos exemplos é o bufê de comida a quilo. “A escolha do próprio cliente é muito forte, dependendo de costumes e do que é permitido comer pelos pais. É necessário fazer uma inversão de responsabilidades.”

Lígia acredita que há vários motivos para a adoção de uma alimentação incorreta, como o acúmulo de tarefas e o pouco tempo da mulher para ficar em casa e preparar as refeições. “Mas a mídia possui um papel fundamental no consumo de junky food. Ela mostra que é moderno comer hambúrguer, e o hábito fica instalado por associação. Só que é preciso um pouco de bom senso”, opina. A falta de determinação da família sobre o que comer também influencia na alimentação dos pequenos. “Tem criança que vai em um bufê e coloca no prato macarrão, batata, batata palha e batata frita. E existe uma permissão para isso”, conta Lígia.

A ingestão prolongada de alimentos não saudáveis, aliada à falta de exercícios físicos, gera uma série de complicações: obesidade propriamente dita, diabetes, aumento do colesterol e triglicerídios, inflamação nas articulações, dificuldades de locomoção, entre outros. Um dos malefícios que a junky food traz é a falta de vitaminas e proteínas, essenciais para o organismo. A nutricionista explica que a pessoa que come muitas “porcarias” sente fome novamente duas horas depois, a chamada fome oculta. “Quando a comida não tem nutrientes, aparentemente ela supriu as necessidades, mas com calorias vazias. Às vezes, a pessoa é obesa e desnutrida”, comenta Lígia.

Depois de um quadro de sobrepeso ou de obesidade instalado, as pessoas atingidas procuram perder os quilos extras. As cirurgias de redução de estômago viraram moda, fazendo com que alguns gordinhos engordem ainda mais para atingir o peso no qual é permitida a intervenção cirúrgica. “As cirurgias trazem benefícios de saúde e de mudança na parte física, mas não mudam a cabeça das pessoas. Está comprovado que apenas 5% do total da população de obesos conseguem emagrecer e manter o peso sadio posteriormente”, esclarece a nutricionista.

Sanfona

A partir daí surge o fenômeno chamado de efeito sanfona, de acordo com ela. “A alternância entre engordar e emagrecer várias vezes causa o desenvolvimento de uma substância chamada leptina, que atua nas células gordurosas. Ela chama por gordura e é estimulador da fome”, informa. E esse ciclo começaria a dificultar cada vez mais o emagrecimento.

Lígia recomenda a técnica da divisão do prato para a prática fácil de uma alimentação saudável. Meio prato deve ser de legumes, verduras e folhas; um quarto de carboidratos (arroz e feijão, batata ou macarrão); e o restante de proteínas (carne, peixe, aves ou ovos).

Alimentação acompanha os costumes

A socióloga e doutora em História da Alimentação, Solange Demeterco, explica que os problemas de saúde relacionados com a alimentação foram desencadeados com a mudança de estilo de vida em relação ao início do século XX. Houve grandes alterações, desde o tipo de produto até a forma de preparar e apresentar a comida.

Naquela época, a população fazia a ingestão de muita manteiga (mais do que é consumido hoje), ovos, açúcar e carnes gordurosas. “Era muito carneiro, pouco peixe, muita fritura e excesso de doces com grande concentração de gemas e açúcar”, afirma. Segundo ela, o sedentarismo está ligado com todo esse quadro, mas não é o fator principal, pois sempre existiu na sociedade.

A história começa a mudar com os alimentos processados, reflexos da transformação do estilo de vida. “A mulher entra para o mercado e tudo precisa ser mais rápido. Antes, alguns pratos levavam de três a quatro horas de preparação. E, detalhe, as pessoas almoçavam e jantavam. A mulher praticamente saía do almoço já pensando no jantar”, conta Solange.

A alteração dos hábitos também ficou registrada nos livros de cozinha, de acordo com ela. “No início, havia a palavra de um higienista informando como preparar as refeições e ressaltando que a mulher era responsável por tudo isso. Em nenhum momento fala-se como hoje, sobre a importância de comer alguns alimentos e controlar outros”, explica a socióloga. Para ela, se as pessoas conhecessem as técnicas culinárias, elas se alimentariam melhor: “Nos Estados Unidos, por exemplo, o problema está em como os alimentos são preparados. A população não sabe que peixe deve ficar praticamente cru, os legumes não podem perder as vitaminas e como preparar as carnes”.

Os hábitos de cada pessoa também são fatores importantes no tipo de alimentação que consome. Solange lembra que se oferece de tudo para a criança, o que estimula o paladar. O ato de comer fica ligado com a sensação de prazer, fazendo com que as pessoas não consigam deixar de consumir determinado tipo de produto. “A comida está revestida de outras variáveis e cria memórias. É fácil encontrar pessoas que lembram do gosto de algo que comeram na infância, e tudo o que cercou aquele momento. Hoje, a pessoa come algo que gosta e depois se sente culpada. É difícil transformar uma alface em fonte de prazer. Por isso, as nutricionistas devem conhecer os hábitos e a história familiar do paciente antes de determinar uma dieta”, aconselha Solange. “A alimentação não é somente para garantir a sobrevivência”. (JC)

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