Diagnóstico precoce evita o glaucoma

O ralo da banheira entupido de cabelos que não deixam a água do banho escapar. Esta é, mais ou menos, a conseqüência do glaucoma, a segunda causa de cegueira irreversível, que afeta perto de 65 milhões de pessoas no mundo e, que, por enquanto, não tem cura. A doença avança quando o sistema de drenagem dos olhos fica obstruído. Com efeito, o fluido dos olhos – um líquido (humor aquoso) que circula continuamente no seu interior – não escoa, gerando grande pressão e provocando danos no nervo ótico, diminuindo a visão e, na maioria dos casos, levando à cegueira.

Mal comparando, o nervo ótico é como um aglomerado de fibras óticas, como as usadas nas linhas telefônicas ou TV a cabo. Quando envelhecemos, algumas dessas fibras morrem. Nas pessoas com glaucoma, eles morrem com mais velocidade do que o normal. As fibras mortas prejudicam progressivamente o campo visual. Se o glaucoma não for tratado, todas as fibras morrem, ocasionando a cegueira total. ?Considerado um mal silencioso, o glaucoma, normalmente, apresenta ausência de sintomas?, esclarece o oftalmologista Emilio Suzuki Júnior, que coordenou um encontro científico sobre o tema, realizado em Curitiba, com o apoio da Alcon Laboratórios em parceria com a Sociedade Brasileira de Glaucoma.

Sem abandonar o tratamento

O coordenador destaca a importância do diagnóstico precoce para se iniciar o tratamento e conter o avanço da doença, tentando, assim, minimizar as perdas visuais dos pacientes. ?Muitas pessoas só procuram auxílio médico quando percebem que o campo de visão foi afetado, mas, daí, pode ser tarde: grande parte das fibras nervosas pode estar destruída?, alerta. Foi o caso da professora Marta B. P., de 44 anos de idade. Ela conta que, de repente, seu olho direito começou a doer muito. Marcou uma consulta de urgência e o glaucoma foi diagnosticado. Nunca deixou de fazer o tratamento e, passados dois anos, sua pressão ocular se normalizou. ?É como se eu nem tivesse o problema, mas sei que não posso nunca abandonar o tratamento?, reconhece a professora, que leva uma vida normal.

Somente com uma consulta ao oftalmologista e a devida medição da pressão ocular é possível detectar o glaucoma. ?Em uma consulta de rotina, descobri que tinha pressão ocular alta, hoje, depois de quatro anos, continuo usando colírio diariamente para controle da pressão, além de fazer outros exames complementares, para evitar o glaucoma?, depõe o empresário Márcio Bernardes Kanteck, de 48 anos de idade. A prevenção exige que, a partir dos 40 anos de idade, homens e mulheres devem visitar regularmente o oftalmologista. De acordo com Suzuki Jr., pessoas da raça negra, portadores de diabetes, hipertensos ou aqueles que têm histórico da doença na família, entre outros, devem redobrar os cuidados.

Fácil adesão

Na fase inicial, o tratamento do glaucoma é feito de forma simples, com o uso de colírios para a redução da pressão intra-ocular. Apesar disso, as estatísticas mostram que cerca de 70% dos pacientes abandonam o tratamento nos primeiros seis meses, porque esquecem de pingar o colírio ou porque consideram desconfortável a aplicação do medicamento diversas vezes ao longo do dia. Para os especialistas, um dos principais avanços no tratamento da doença foi o desenvolvimento de colírios à base de prostaglandina, pois, além de mais seguros e eficazes, possibilitam aplicação uma única vez ao dia, o que facilita a adesão ao tratamento e diminui as chances de esquecimento por parte do paciente.

Em detalhe, a imagem comprova: o glaucoma avança quando o sistema de drenagem dos olhos fica obstruído.

Nos casos mais graves, geralmente quando a doença é descoberta tarde demais, recomenda-se cirurgia ou aplicação de laser. ?Cabe destacar que não há cura para o glaucoma e os danos já instalados são irreversíveis, mas evitar sua progressão é primordial para melhorar a qualidade de vida do paciente?, salienta Hamilton Moreira, do Hospital de Olhos do Paraná.

Quem desenvolve o glaucoma perde, inicialmente, a visão periférica. Com a evolução da doença, tem a área central do olho afetada, como se estivesse olhando por um canudinho de refrigerante. Já, os sintomas em fases avançadas se caracterizam por um estreitamento do campo visual e a conseqüente perda progressiva da visão. No entanto, há casos agudos em que os pacientes relatam visão borrada, forte dor ocular, halos coloridos em volta da luz, náuseas, vômitos e cefaléia. ?Diante de qualquer um desses sintoma, é preciso procurar imediatamente um especialista?, orienta Suzuki.

Mais propensos ao glaucoma

>> Com histórico familiar da doença

>> Com diabetes ou hipertensão

>> Com pressão intra-ocular elevada

>> Que fazem uso prolongado de corticóides

>> Com miopia acima de seis graus

>> Com mais de 40 anos

>> Com lesão ou infecção ocular anterior

>> Da raça negra

Acesso à medicação gratuita

Estimativas apontam que cerca de 45% dos portadores de glaucoma não fazem o tratamento corretamente e 20% abandonam por dificuldade financeira, apesar dos medicamentos estarem disponibilizados em alguns programas de governo. Assim, quem tem dificuldade financeira em manter o tratamento, a alternativa são as farmácias de alto custo que desde 2007 incluíram os medicamentos orais e colírios para glaucoma na listagem de fármacos distribuídos gratuitamente à população.

A liberação demora de 14 a 45 dias. Para ter acesso é necessário apresentar cópia do CSN (Cartão Nacional de Saúde) que pode ser retirado no centro de saúde mais próxima da residência do requerente, laudo preenchido pelo médico, receita em duas vias, termo de consentimento do paciente, cópias do RG, CPF e comprovante de residência. Os modelos tanto do laudo médico como do termo de consentimento encontram-se disponíveis nos sites das secretarias de saúde municipais.

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