Diagnóstico precoce ajuda a corrigir estrabismo

O olho é o principal órgão de relacionamento humano e quando apresenta defeito físico -como é o caso do estrabismo, pode, por si só, gerar problemas emocionais graves ao seu portador, principalmente quando não tratado corretamente.

A psicóloga Ângela Uchôa Branco adverte que o problema exige uma atuação imediata, destacando o papel dos pais e professores, que devem atuar de forma colaborativa na atenção à criança vítima desse tipo de bullying. “A tolerância com essas manifestações deve ser zero”, decreta a psicóloga, para quem o papel do mestre é o de treinar a paciência do aluno a ignorar provocações. No ambiente familiar deve ser estabelecido um canal de diálogo entre pais e filhos para fortalecimento da autoestima e de conceitos, como moral e aceitação da diferença.

O oftalmologista Carlos Ramos de Souza Dias explica que a questão psico-estética, além da parte sensorial, é de fundamental importância na correção do estrabismo.

“O aparecimento do estrabismo na criança é uma situação de emergência”, alerta o especialista, que recomenda início imediato do tratamento. Mesmo que nenhum problema ocular se manifeste, os pais devem levar a criança o quanto antes ao oculista para realização de exames e a sua comprovação com o diagnóstico completo.

Hereditariedade

A importância do diagnóstico precoce está na capacidade de evitar ou até mesmo corrigir as alterações sensoriais que, caso ignoradas, provocam desde a falta de coordenação na retina -sintoma clássico do estrabismo, até a perda da visão no olho desviado.

“O estrabismo ainda pode ser a primeira evidência de um problema neurológico grave”, alerta o oftalmologista. Como há muitos tipos de estrabismo, a indicação terapêutica para cada um deles é diferente, desde a simples prescrição de óculos até cirurgia, passando pela oclusão do olho deficitário.

Além de lutar contra o incômodo de uma visão deficiente, os estrábicos – cerca de 4% da população mundial – ainda precisam superar o preconceito. O estrabismo é a perda do posicionamento normal dos olhos, conhecida popularmente como “vesguice”, que faz com que apenas um olho ou ambos sejam desviados para dentro, para fora, para cima ou para baixo. “O desvio pode se apresentar de três formas: constante, intermitente e latente”, explica a oftalmopediatra Laura Duprat.

Para combater o preconceito é preciso esclarecer os mitos sobre a doença, como aquele que diz que uma pessoa é capaz de ficar estrábica, se entortar o olho de propósito ou se for surpreendida por uma rajada de vento.

O problema, na maioria dos casos, é hereditário e se manifesta na infância, em decorrência de um desequilíbrio nos músculos que movimentam os olhos. “Pode ser provocado por parto prematuro, doenças congênitas, elevado grau de hipermetropia e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, dentre outros fatores genéticos”, explica a médica.

Apoio dos pais

O tratamento em crianças requer cuidados especiais. O principal deles é contar com a dedicação dos pais. O processo para alinhar os olhos pode ser demorado e as crianças precisam de apoio nesta fase.

A fim de facilitar o processo, os adultos podem, por exemplo, deixar a criança participar da escolha da armação dos óculos – que deve ser leve, de tamanho adequado e com lentes anti-risco e resistentes.

Caso necessite do uso de tampão, os pais devem explicar a importância desse tratamento e decidir por oclusores de borracha ou descartáveis feitos de esparadrapo antialérgico que não irritam a pele e incomodam menos.

A família também precisa compreender uma possível queda no nível do rendimento escolar por conta da deficiência visual e pedir a colaboração dos professores para que, dentre outros cuidados, a criança possa sentar-se próxima ao quadro-negro.

Os pais precisam ficar atentos a qualquer alteração de humor dos filhos e às queixas, veladas ou explícitas, que eles façam da escola, du,rante o tratamento. “Em caso de problemas, os pais devem buscar ajuda por meio do serviço de orientação educacional e psicológica da escola, pois as crianças têm direito a ambientes escolares onde existam alegria, amizade, solidariedade e respeito às características individuais de cada um”, destaca a médica.

Sequelas psicológicas

Um estudo suíço revela que crianças com 6 anos ou mais, com um estrabismo visível são menos aceitas socialmente pelo seu grupo. Outro dado destacado é que o impacto negativo do estrabismo em interações psicossociais emerge muito cedo no universo infantil: por volta dos 6 anos de idade também.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores alteraram fotografias de seis crianças e geraram versões com e sem estrabismo para comparação, como se as crianças fossem gêmeas.

Entre os garotos de 4 a 6 anos, 19% afirmou ter notado a diferença no alinhamento dos olhos nas fotos. Este percentual subiu a 48%, entre os garotos de 6 a 8 anos.

Ao serem solicitadas a olharem novamente para as imagens com maior atenção, a detecção do estrabismo subiu para 39% e 77%, respectivamente. Segundo os pesquisadores, o trabalho reforça o entendimento de que o estrabismo em crianças pode deixar sequelas psicológicas e que diferenças notáveis têm efeito negativo em relação a como as crianças são percebidas por seus colegas.

Causas

* Herança genética

* Falta do uso de óculos no momento certo

* Hipermetropia – um tipo de defeito de refração ou grau

* Doenças do sistema nervoso central, como meningite, paralisia cerebral ou síndrome de Down

* O traumatismo craniano pode provocar desvios transitórios ou permanentes, causando visão dupla, a chamada diplopia.

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