A recomendação mais ouvida pelos milhares de pacientes diabéticos, ao tomar contato com a doença, é quase sempre a mesma: evitar o açúcar de qualquer maneira e, ainda, os conselhos mais radicais pedem para cortar carboidratos (pães, massas, doces). ?Puro engano?, na visão da nutricionista Deise Mendonça, do Centro de Diabetes de Curitiba (CDC). Ela explica que, quando a taxa de açúcar no sangue está elevada, significa que o corpo não está utilizando corretamente os alimentos.
Assim, é necessária a adoção de um plano alimentar, baseado em uma alimentação saudável que comporte alimentos de todos os grupos. Geralmente, os médicos, preocupados com a doença em si, não dispõem de tempo suficiente para recomendar esse plano, reduzindo suas orientações na distribuição de panfletos com receitas preestabelecidas. Orientação que, no entender da especialista, está totalmente equivocada, pois o tipo de comida e a quantidade a ser consumida vão depender das características individuais de cada paciente.
Açúcar, com moderação
De alguns anos para cá, o tratamento nutricional dos diabéticos ganhou um grande impulso com a técnica de contagem de carboidratos, que passou a ser recomendada por importantes órgãos oficiais como a American Diabetes Association e a Sociedade Brasileira de Diabetes. Com essa técnica, o paciente passa a ter uma variedade muito maior de alimentos e mais liberdade nos horários das refeições. ?Além de uma melhora do controle glicêmico e da qualidade de vida?, ressalta Deise Mendonça, frisando que, desde que de maneira equilibrada, até alimentos com açúcar podem ser consumidos.
A nutricionista lamenta que a dieta com contagem de carboidratos inexista para muitos pacientes, principalmente os do sistema público de saúde, pelo fato de o médico só ter tempo de pedir exames laboratoriais e prescrever medicamentos. Além disso, ela adverte que, sem receber essas informações, o diabético perde o referencial do que seja uma alimentação saudável, chegando, muitas vezes, a deixar de comer os alimentos que gosta como arroz e feijão, entre os brasileiros. Outra constatação da especialista é de que, por não ?poder? ingerir tais alimentos, o paciente passa a comer outros alimentos ainda com maior teor de açúcar, como frutas (frutose) e leite (lactose).
O plano alimentar deve ser estabelecido de acordo com a avaliação de uma equipe que inclui médicos e nutricionistas, devendo ser acessível ao paciente e atender as necessidades nutricionais de acordo com suas necessidades. A contagem de carboidratos vem sendo aplicada com sucesso em todos os tipos de diabetes com benefícios importantes. Dados indicam que, além de ser mais barato, o plano alimentar consegue aumentar em até 70% o índice de adesão do paciente ao tratamento.
Vinte e quatro horas
Uma das estratégias utilizadas pelos nutricionistas é o recordatório de 24 horas, no qual se deseja saber os horários, locais e as quantidades de alimentos ingeridos em cada refeição do dia anterior. Esses dados podem ser complementados com informações obtidas pelo questionário de freqüência de consumo alimentar, que classifica os alimentos por grupos (leite e derivados, frutas, hortaliças, carnes, ovos, óleos, etc.). Com esses dados o nutricionista obtém informações mais detalhadas sobre os alimentos consumidos e consegue um panorama completo dos hábitos alimentares do paciente.