Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) estimam que no Brasil existam hoje 8 milhões de pessoas com diabetes. Destas, 4 milhões sabem e tentam controlar a doença. A outra metade ignora sua condição e, portanto, não recebe qualquer tipo de cuidado ou tratamento. Segundo a SBD, o diabetes é a quarta causa de morte no país. Com a intenção de dar maior atenção ao problema, o Ministério da Saúde está conversando com entidades científicas para um plano de reorganização da atenção à doença. A primeira iniciativa é capacitar em torno de 3 mil profissionais da rede básica de saúde, para um melhor atendimento e acompanhamento dos pacientes.
Rosângela Roginski Réa, médica especialista em Endocrinologia, Diabetes e Nutrição, responsável pela Unidade de Diabetes do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, explica que o diabetes é um distúrbio metabólico causado pela falta relativa ou absoluta de insulina, um tipo de hormônio que tem a função de facilitar a absorção da glicose pelo organismo. Quando a insulina é produzida em quantidade insuficiente, a glicose, que é o combustível do organismo, deixa de ser absorvida pelas células e acumula-se na corrente sanguínea. "Com a insuficiência da insulina ou quando o nível de glicose atinge taxas elevadas, caracteriza-se o diabetes", ressalta a especialista. Para facilitar o entendimento sobre a doença, costuma-se dizer que diabetes é o excesso de açúcar no sangue.
Nova geração
Para equilibrar a taxa de glicose no sangue o paciente precisa tomar injeções de insulina, sempre que esse nível atingir taxas elevadas que coloquem em risco a saúde. Os principais deles são as complicações visuais, insuficiência renal, aceleração de doenças cardíacas e a diminuição da circulação arterial no pé e na perna, que pode levar à amputação dos membros. Como seus níveis de glicose mudam dia a dia, o diabético tem que se empenhar para controlar a doença. Com a constante evolução científica, o próprio portador da doença tem condições de fazer em casa a medição de glicemia e tomar as providências necessárias para restabelecer os níveis normais de glicose.
O triatleta Vinicius Santana se considera um diabético da "nova geração". Ele destaca que são tantos os recursos a favor daqueles que sofrem da doença que o diabetes pode ser considerado um estilo de vida. "Temos acesso a insulinas que simulam a função do pâncreas, glicosímetros precisos e rápidos, além de uma enorme variedade de produtos alimentícios", atesta, salientando que a sua vida, desde que a doença foi descoberta, não teve nenhuma mudança radical, "continuo fazendo o que quero, com a ajuda da tecnologia".
Doente deve ter participação ativa
Os principais sintomas do diabetes são sede, fome e vontade de urinar acima do normal. "Muitos pacientes se sentem fracos, indispostos e reclamam do cansaço excessivo", constata a especialista. Quando esses sintomas se apresentam simultaneamente, é necessário verificar a dosagem de glicose no sangue. Um simples exame de sangue basta para detectar a doença. Verifica-se também maior incidência da disfunção em pessoas obesas e em pessoas de vida sedentária. Está provado que o excesso de peso, principalmente em pessoas que possuem históricos familiares de diabetes, aumenta significativamente o risco de surgimento da doença.
Para Rosângela Réa, os cuidados com o diabetes devem estar centrados basicamente nas dietas apropriadas, nos exercícios físicos e no uso da medicação. No entanto, tão importante como esses procedimentos, ressalta a médica, é a participação ativa do doente no tratamento. Nesse sentido, reconhece a necessidade de o diabético conhecer a doença e ter consciência da sua própria condição. O tratamento deve ser prescrito pelo médico e sempre que possível apoiado por uma equipe multiprofissional, formada por médico, enfermeira, nutricionista, psicólogo, educador físico, podólogo, todos com treinamento apropriado e atualizado no tratamento do diabetes.
Vida normal
O dia-a-dia do diabético pode e deve ser vivido normalmente. O portador da doença pode e deve estudar, trabalhar, praticar esportes e divertir-se como todo mundo. Além disso, deve, também, fazer sua medicação no horário planejado e o controle de acordo com a prescrição médica. O diabetes controlado não é somente manter a taxa glicêmica adequada e, sim, conhecer os motivos que a elevaram e saber corrigi-la o mais rapidamente possível. Para isso, o diabético não pode: esquecer o horário da medicação, deixar de fazer o maior número de testes possível, pular refeição, deixar de praticar alguma atividade física e de consultar médicos especialistas. O diabetes não tem cura. Por meio do controle dos níveis de glicose no sangue, os diabéticos podem evitar que a doença traga conseqüências mais graves.
TIPOS DE DIABETES
O tipo 1 (insulino dependente), é uma doença auto-imune: as células do sistema imunológico agridem as células produtoras de insulina, destruindo-as, resultando na diminuição ou cessação da produção de insulina. As pessoas com este tipo de diabetes precisam aplicar injeções diárias de insulina, para controlar a doença, que em geral se inicia na infância ou na adolescência.
O tipo 2 (não insulino-dependente), que atinge entre 80 e 90% dos diabéticos, ocorre na grande maioria dos casos entre os adultos. Neste tipo de diabetes a produção de insulina pelo pâncreas é normal, mas os tecidos do corpo se tornam resistentes à ação da insulina, impedindo a absorção da glicose pelo organismo, elevando, assim, a taxa de açúcar na corrente sangüínea.
COMA MENOS, CAMINHE MAIS
A Campanha de Conscientização sobre o Diabetes ? que acontece a partir do dia 14 de novembro (Dia Mundial do Diabetes) ? terá, no Brasil, a participação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Associação de Diabetes Juvenil e Federação Nacional das Associações de Pacientes Diabéticos. Com o tema "Lutar contra a Obesidade Previne o Diabetes ? Coma Menos, Caminhe Mais", a iniciativa visar alertar e tentar conscientizar a população para a gravidade da doença, que, além de ser uma epidemia mundial, representa a 4.ª causa de morte no país. Além disso, o diabetes é a primeira causa de cegueira e de amputações de membros inferiores não decorrentes de traumas.
Conforme o endocrinologista Leão Zagury, presidente da SBD, a campanha pretende alertar a população sobre os riscos da doença que gera milhares de óbitos por falta de diagnóstico, conscientizá-la sobre a importância da realização de exames preventivos e informá-la de que simples mudanças no estilo de vida, praticar atividades físicas e manter alimentação saudável – "o diabético se alimenta da maneira que todos deveríamos nos alimentar", enfatiza Rosângela Réa – podem prevenir a doença e também promover mais qualidade de vida entre os diabéticos.